No último dia 12 de agosto tive a oportunidade de vivenciar uma experiência bastante interessante. Aliás, poderia dizer que foi um experimento antropológico. Havia uma curiosidade da minha parte em observar os comportamentos e outros elementos da cultura de um determinado grupo social: o emo. Para isso eu fui ao show do o Fresno em Natal, no Teatro Riachuelo.
Pode parecer que estou me referindo a algum tipo de tradição ou festa da cultura popular. Se a gente for levar ao pé da letra até poderíamos considerar como sendo realmente, mas na real o evento a qual me refiro foi o show da banda Fresno que esteve em Natal apresentando seu show que compõe a turnê do mais recente trabalho ‘Vou ter que me virar’ lançado no final de 2021.
Por que foi ao show de uma banda emo, como o Fresno, em Natal?
Essa curiosidade existia da minha parte porque o universo emo foi algo completamente ignorado por mim em seu período mais pop entre 2006 até meados de 2011 e consequentemente o Fresno não era algo que fazia parte da minha playlist. Apenas por volta de 2015 que ao ouvir a música ‘Manifesto’, lançada no EP ‘Eu sou a maré viva’ (2014) foi que passei a me atentar a banda, pois era algo bem diferente daquilo que eu tinha em mente quando se fala no nome Fresno.
Desde então passei a ouvir, e acompanhar a banda e todos os seus lançamentos, no qual constatei trabalhos interessantes e consistentes. Um exemplo é o recente ‘Vou ter que me virar’ e seu antecessor ‘Sua alegria foi cancelada’ (2019).
Apesar de que o seu auge midiático entre 2007 e 2011, agora em 2022 o Fresno pode afirmar ué você seu melhor momento, principalmente após sua apresentação no festival Lollapalooza que apesar de curta, foi o suficiente pra causas bastante burburinho e reacender o interesse do grande público pelo grupo, com a vantagem de que agora ninguém mais tem vergonha.de se assumir emo e os hates são bem menos relevantes e numerosos que antes.
Diante de todo esse cenário, me senti na missão de presenciar este show e de quebra adentrar um universo que não era exatamente meu, mas que agora me sinto aos pouco como parte, afinal de contas agora todo mundo tem motivos para ser triste então eu já cumpria o primeiro pré-requisito pra me tornar emo, mesmo aos 28 anos de idade.
A franja dos emos sumiram
Sobre o público, as franjas já não fazem mais parte do visual que agora não possui mais uma unidade. O emo já fase adulta não mais se prende a padrões de vestimenta e acho que é desnecessário explicar os porquês. Uma variedade de visuais que fez o Riachuelo se transformar numa filial do Beco da Lama desde cabelos coloridos até a galera militante com camisa do MST, pôde se encontrar de tudo.
Vamos falar de coisa boa? Bora falar do show
Sobre o show em si, o repertório abre com a música que dá nome ao álbum acompanhada de ‘FUDEU!!!’ também do novo trabalho, sem dúvidas a músicas mais politizada da carreira da banda. Na sequência ‘Natureza Caos’ e ‘Manifesto’ canções de trabalhos anteriores mas que fazem parte dessa fase mais atual e que já são queridas pelo público.
Depois foi hora de relembrar os velhos numa sequência de 3 músicas que fizeram os fãs mais antigos irem as lágrimas. ‘Quebre as Correntes’, visto que vários na plateia quebraram a promessa de não chorar, seguida de ‘Cada poça dessa rua tem um pouco de minhas lágrimas’ ambas do álbum ‘Ciano’ (2006) e fechando a sequência ‘Eu Sei’ que faz parte do ‘Revanche’ (2010).
Apoio ao Lula
Voltando ao novo trabalho, a banda apresentou ‘Já faz tanto tempo’ gravada em parceria com Lulu Santos. Em seguida, ‘Eles odeiam gente como nós’.
Ante de tocar, o Lucas afirmou que “falta pouco” enquanto fazia o “L” com as mãos para euforia do público presente. Também importante lembrar que essa música havia sido parte do projeto Inventário que a banda lançou ao longo de 2021 e acabou incluindo ela no álbum oficial.
‘Cada acidente’ encerrou a primeira parte do show onde logo após Lucas fez o seu momento solo cantando ‘Duas Lágrimas, música dos segundo álbum da banda ‘O rio, a cidade, a árvore’ (2004) e ‘O ar’ presente na ‘Sinfonia de tudo que há’ (2016). Com a presença apenas dos 3 integrantes oficiais da banda, mas com o baterista Guerra assumindo a guitarra e o guitarrista Vavo na percussão, a banda executou ‘Eu sou a maré viva’.
Já com todos de volta as suas funções originais veio a sequência de ‘Diga, parte 2’, ‘Milonga’, ‘Caminho não tem fim’ e ‘Quando eu caí’. Posteriormente, encerrou o show com ‘Casa assombrada’. A banda ainda retornou para um bis apoteótico com ‘Revanche’ e está encerrada a celebração da tristeza milenial.
O que mais chamou atenção e sou emo mesmo
Diante do que eu pude presenciar, dois pontos eu destacaria. O primeiro é a maneira em que o Fresno não ficou preso por músicas que foram hits radiofônicos. Basta ver que ‘Desde quando você se foi’ talvez a música mais popular do Fresno, não fez parte do repertório e em nenhum momento alguém da platéia pediu ou sentiu falta. São poucos artistas que conseguem “se livrar” das músicas mais badaladas. O segundo ponto é que, justamente por não ficar preso aos passado, a Fresno soube envelhecer com seu público.
O elemento tristeza é o ingrediente principal, mas agora a desilusão amorosa divide espaço com a crise existencial da vida adulta. Era bem visível que as músicas mais novas estavam na ponta da língua do público presente. Mais uma vez, são poucos artistas que conseguem lançar novos álbuns depois de anos de carreira e serem queridos de fato pelo público.
Não espero que o público tenha saído feliz com o Fresno em Natal, pois ser feliz não é o que se espera de um show de grupo emo. Mesmo assim, foi uma excelente apresentação com uma banda muito entrosada e um show muito bem roteirizado e que valeu muito a pena prestigiar. No mais, para minha sorte, agora com quase 30 anos posso ser emo em paz.
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