Nota da edição
O fotógrafo e jornalista Everson de Andrade é um dos maiores entusiastas da fotografia e do jornalismo. Fã do jornalismo gonzo e de contar histórias da cidade, ele recentemente desenvolveu duas produções para falar de Natal na fotografia e registramos no Brechando. Agora, ele vai compartilhar um texto sobre a importância do fotolivros na divulgação.
Por sinal, foi culpa de Everson que conheci o jornalismo gonzo a partir de uma oficina e por compartilhar aos colegas nos corredores do setor 2 a Revista Trip. A capa que ilustra a reportagem é “Cidade Abaixo”, de sua autoria.
Histórias contadas através de imagens tem se tornado cada dia mais comuns no mundo, mas não é de hoje que é assim. Desde a invenção da fotografia em 1816 por Joseph Niépce que a imagem vem sendo usada para noticiar os fatos, emocionar, documentar e guardar a memória de um povo e dos indivíduos. Todavia, por muito tempo esteve como suporte e apoio ao texto e poucas vezes como a grande protagonista da narrativa.
Com o passar dos anos constatou-se o surgimento dos fotolivros, conforme destaca a professora doutora da Universidade Federal de Pernambuco, Daniela Nery Bacchi.
“É legal saber logo de cara que o fotolivro pode narrar muitos tipos de histórias. Algumas são mais lineares, mais próximas de uma narrativa tradicional com início, meio e fim, outras querem falar de um sentimento ou algum conceito. Então para quem não conhece é bom saber que tem uma variedade grande de temas nessa área”, destaca.
Qual significado de um fotolivro?
A professora destaca diferenças entre os fotolivros e publicações literárias convencionais.
“A diferença, óbvio, é que a falta do texto faz a narrativa ser mais difícil de ser compreendida algumas vezes. Então ela é mais desafiadora e mais instigante ao leitor, pois o texto deixa mais claro e explicita melhor certas coisas como tempo e espaço da narrativa, o que a foto deixa mais aberto. Então a primeira diferença mais óbvia eu diria que a linguagem visual ela vai ser mais desafiadora”, explica.
Mais uma diferenciação não tão óbvia é que a linguagem visual se relaciona com outras linguagens, ou seja, ela apresenta uma abordagem mais sensorial ao consumidor de seu conteúdo.
Segundo a professora:
“O leitor poder se colocar melhor e se desafiar a entender a narrativa e construir pontes com outras linguagens visuais como o cinema, o vídeo, a cultura as artes visuais e a as artes plásticas. É um prazer não óbvio da narrativa em fotografia. E tudo isso vai depender do background do leitor. Das experiências que ele tem com outras linguagens visuais e outras formas de artes plásticas para poder modular esse entendimento dele”.
José Fujoca, idealizador de um espaço especializado na venda de fotolivros e livros de arte em São Paulo, ao lado de Luciana Molisani, da Lovely House, e que também conta com presença on-line, destaca que nos últimos anos autores, artistas ou não, tem se expressado no formato relativamente novo, no qual a narrativa é criada a partir de uma sequência de imagens. Ele cita o Instagram como um exemplo de suporte para essa forma de expressão, mas que muitos objetos de arte estão se consolidando na forma de um livro.
Como anda o mercado de Fotolivros
O mercado de fotolivros vem crescendo a cada dia e isso é reflexo na quantidade de novas e pequenas editoras surgindo no mercado, produzindo com maior capilaridade e pensando em nichos. A editora Deu Na Telha é um exemplo. Dirigida pelo fotógrafo Pablo Pinheiro, é sediada no Rio Grande do Norte, mas já tem trabalho selecionado em diversas convocatórias do Brasil.
“Temos um acúmulo de produção local no Nordeste muito grande e muitos trabalhos bons, mas que não chegam aos olhos das pessoas que administram o mercado de galerias e etc. Existe um índice de marginais de trabalhos e artistas no Nordeste muito grande em relação às galerias. E por isso procuramos potencializar a produção de fotografia no Nordeste e no Brasil”
Além disso, cabe destacar que hoje é muito mais acessível publicar um fotolivro independente do que anos atrás. Ainda mais o próprio autor faz o trabalho fotográfico, a edição e editoração, assim procurando apenas uma gráfica para a impressão final.
O fotógrafo Cícero Costa publicou seu primeiro fotolivro “Baixa Estima” de forma independente em 2021 e destaca a importância desse acesso.
“Publicar um livro de forma independente é significativo para não precisar ficar esperando uma oportunidade que talvez nunca apareça. Se a gente não der o primeiro passo, vai ficar na espera sempre. E, como sempre foi nós por nós, temos de dar o primeiro passo e acreditar. O que é interessante é que depois que fiz estão rolando várias oportunidades e coisas em decorrência do livro, o que talvez nunca aconteceria se eu ficasse aqui só com o projeto guardado. E fé em Deus que outros mais vão vir aí”, finaliza.
Futuro
Os especialistas vem como promissor o futuro do mercado de fotolivros no Brasil e no mundo. Daniela Bacchi projeta que além das publicações impressas, também devem surgir obras digitais, mas ela também vê um aumento no número de editoras cada vez mais nichadas nos mais diversos segmentos. “Esse formato tem ganhado muita atenção, então isso vai gerar aumento de mercado e profissionais especializados. A gente tem, por exemplo, a Estrondo, editora especializada em mulheres. Então esse meio vai se dividir e se especializar cada vez mais”, complementa.
Fujoca ainda destaca que esse movimento deverá impulsionar a aceitação do produto no mercado com um aumento de seu público.
“A linguagem do fotolivro vem sendo descoberta, explorada e disseminada por um número cada vez maior de fotógrafos, artistas e leigos. São interessados na autoexpressão por imagens. Esse movimento é bom, pois impulsiona ajuda a lapidar temáticas e trazer intimidade entre este tipo de produção artística e seus autores”, finaliza.
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