Realmente a Luma Virgínia é do mundo…E você ver claramente nesta entrevista. Foi difícil realizar uma entrevista que selecionasse perguntas certeiras sobre o seu primeiro livro “Desfile Selvagem”, eventualmente lançado na Feira do Livro e Quadrinhos do RN (Fliq). Primeiramente, você pode falar dos mais diversos assuntos, desde a língua espanhola até sobre dicas de praticar yoga ao ar livre. A gente tem muito papo e uma das pessoas que participou da minha aventura de entrar no Hotel BRA, na Via Costeira.
Outros assuntos que poderíamos retratar seria o fato dela ter nascido em Currais Novos, sido criada em Angicos, morou no México e agora vive entre Parnamirim e Natal. Já fez faculdade de Relações Internacionais, mas se encontrou em Letras, com ênfase na língua espanhola.
Entretanto, ela mergulhou de cabeça nos livros e nas poesias, uma vez que é tradutora e pesquisadora na pós-graduação (UFRN) em literatura latino-americana. Publicou poemas em revistas, na coletânea Sumidouro (Sebo Vermelho, 2018), e foi contemplada com os editais “Arte como respiro, do Itaú Cultural” (2020) e “Cria Parnamirim” (2021), e Incentivo a publicação de livros pela Fundação José Augusto (RN, 2021).
Por isso, o “Desfile Selvagem” é considerado o seu primeiro livro, no qual foi praticamente um nascimento de uma outra Luma que pude acompanhar e pode ver nesta entrevista a seguir.
Luma Virgínia, eu sei que sua família é toda musical, mas quem foi o “culpado” para fugir da curva?
O fato da família ser artística me aproximou da palavra, cantada ou escrita. De um lado, acompanhava minha avó, que cantava no coral, e a minha mãe, nos palcos, ambas escrevendo as letras das músicas nas pastas. Do outro, minha avó Zélia e meu pai tinham uma pequena coleção de livros em casa, clássicos como os teatros de Shakespeare, entre outros, e um livro que ela escreveu – “Angicos, ontem e hoje”, registrando a história da cidade.
Lembro também que ela me presenteou com um livro de poesia, “Chuva Ácida”, da potiguar Carmen Vasconcelos. Talvez a leitura e a sensibilidade da família, portanto, tenham contribuído de alguma forma, indiretamente.
Esse livro demorou 4 anos para ficar pronto, o que lhe dificultava lançar?
Minha escrita é mais diária e ainda mais não costumava compartilhar os poemas, a não ser com os amigos mais próximos, que geralmente os que também escreviam. Mas, durante todo o processo, acredito, que havia insegurança (dentro de mim). E de duas ordens: uma, pela própria recusa da poesia. Como diz o escritor e crítico literário Juan Villoro, os livros não querem ser escritos, “eles resistem, mostram garras, mordem”, deixam-nos, a nós poetas, despidos. Além disso, nunca está acabado.
Outra, é o fato de ser mulher. O mercado editorial ainda é masculino, assim como a crítica, e percebo que confiar em nós, lançar um poema corporal, encontra diversas travas, tanto fantasmagóricas, quanto reais. Acredito que não sabia como chegar para publicar.
Hoje, você se considera uma poeta oficial?
O “Oficial” acredito que já é um oximoro à poesia, (risos), isso me repele. Mas, Sim, no sentido de que percebi, há um tempo, sendo uma condição minha de estar no mundo. Amo o verso do Leminski que diz “vai vir o dia / quando tudo que eu diga / seja poesia”. Penso que a sensibilidade, assim como outras condições do artista, realizar o chiste, soltar a animalidade, deveriam estar mais presentes do que as características que o mundo ordinário exige de nós.
O que mais gosta do seu livro?
Os olhares que o fizeram – um bicho – vivo. Isso foi o que mais curti e curto.
Sua família foi bastante importante na participação do livro, conte me mais.
Meu irmão, Pedro Victor, é artista e ilustrador, e nossa relação é muito íntima. Desde o início queria que ele fizesse a arte da capa. Rascunhamos muitos esboços com bichos selvagens – cabras de montanha, cavalos, condor etc. Até que cheguei a uma fotografia de uma amiga, Osani, tirada em Acari/RN.
Começamos a trabalhar naquele cenário. Além disso, a minha mãe e minha avó fizeram as bolsinhas e bandeirinhas (estandartes) costuradas, como queria desde início, para dar como mimo na pré-venda. Pedro e Diangeles (padrasto) me ajudaram a pintar e ainda mais a resolver coisas burocráticas. No final, o livro foi se montando em casa, num espaço ateliê.
Tem outros livros para lançar, Luma Virgínia? Dê um breve spoiler.
“Abismos”, trata-se de relatos de viagem que fiz entre 2019 e 2020 na travessia pelo Peru, entre desertos, montanhas, fronteiras, registrando tudo no presente. O livro também foi premiado em edital, mas ainda não fechei com nenhuma editora. Fora esse, o projeto de tradução que faço parte lançará, em breve, que se chama “A família do comendador”, da argentina Juana Manso.
Essa será possivelmente a primeira obra abolicionista, ambientada no Brasil, escrita por uma mulher (1854). A coordenação do grupo é, portanto, de Regina Simon e sairá pela Pinard editora.
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