Micarla de Sousa era a então prefeita de Natal no ano de 2011 e realizou uma série de medidas, como aluguel de prédios exorbitantes, compras fraudulentas, terceirização com contratos estranhos e o aumento da tarifa de ônibus sem alguma explicação. Foi por causa da alteração da tarifa de R$ 2,00 para R$ 2,20 que estudantes e sindicalistas começaram um movimento na internet que ficou conhecido na imprensa potiguar chamado “Fora Micarla”.
Em janeiro foram mobilizados três protestos contra o aumento do transporte público, em fevereiro foi organizado o Bloco de Carnaval Xô Inseto, na praia da Redinha. O nome era alusão à borboleta, símbolo da então prefeita durante a campanha de 2007. Somente em maio, que estudantes se organizaram através das redes sociais, realizaram um ato com a participação de mais de mil pessoas. Saindo do Midway Mall até o bairro de Ponta Negra, gritando palavras de ordem e convocando toda a população a mostrarem sua insatisfação.
O segundo ato foi caminhar até o finado estádio “Machadão” para criticar as obras na Copa do Mundo de 2014 e a privatização da saúde, enquanto os salários dos servidores estavam atrasados.
E no dia 7 de junho começou o terceiro ato de protesto e o mais polêmico. Saindo da Praça Cívica cerca de 200 manifestantes, debaixo de chuva, marcharam pelo centro da cidade até a Prefeitura gritando palavras de ordem. Quando chegaram à Prefeitura, os manifestantes encontraram, como em todos os atos anteriores, a porta fortemente protegida pela Guarda Municipal. De lá, seguiram para a Câmara de Vereadores de Natal. Os manifestantes, encontrando a entrada livre, subiram para o plenário da Câmara, onde lotaram o pequeno espaço dedicado à população. Mais de cem pessoas entraram no pequeno espaço destinado a no máximo 50 pessoas e outra centena ficou do lado de fora, todos gritando palavras de ordem que paralisaram o andamento da audiência pública que acontecia. Os parlamentares não se dignaram a dirigir a palavra aos manifestantes. Após 20 ou 30 minutos, esvaziaram o plenário.
Foi nesse período que os estudantes começaram a acampar na Câmara Municipal e não sair até desse prosseguimento à Comissão Especial de Investigação (CEI), dedicada a investigar os atos de improbidade administrativa, desvio de dinheiro público e aluguéis e compras superfaturadas por parte da Prefeitura. O Acampamento foi chamado “Primavera Sem Borboleta” em referência à Primavera Árabe que acontecia no mesmo ano.
Foram períodos turbulentos, desde mandado de justiça para tirar os manifestantes como servidores de certos vereadores foram acusdados de colocar maconha no acampamento para descriminalizar os manifestantes. Sem contar que a mídia tradicional contava uma versão e os blogs contavam uma outra.
Após uma semana, os manifestantes decidem desocupar e foi criada a CEI para investigar os contratos de Micarla de Sousa.
A manifestação pode ser considerada a mãe da Revolta do Busão, que surgiu no ano seguinte para criticar o aumento da passagem de R$ 2,20 para R$ 2,40 e estimulou a onda de protestos que aconteceram no Brasil em 2013. Além disso, ajudou a eleger novas lideranças políticas, como Natália Bonavides, hoje deputada federal, que na época era integrante do Centro Acadêmico de Direito.
No final de 2012, a prefeita Micarla foi afastada do caso após a justiça acatar o resultado da investigação do Ministério Público da Operação Assepsia, que comprovou que houve desvio de dinheiro entre a prefeita, secretários e donos da empresa que terceirzava os médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Pajuçara e Ambulatório Médico Especial (AME).
Foto: Nominuto.
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