Os ponteiros do relógio batiam 16 horas quando vi que o filme “Era Uma Vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino. Melhor: era na sala vip do Cinepolis, onde podia deitar no sofá gostoso e assistir aquela arte que só o diretor americano faz. Meu encantamento por Tarantino começou no início da vida adulta, quando na mesma época consegui ver Kill Bill e Django Livre em um curto intervalo de tempo. A forma livre de seu roteiro e sem aquela obrigação de linearidade me chamaram atenção.
Parece que você está lendo um eterno gibi. Poderia comparar com o Arrigo Barnabé com o seu “Clara Crocodilo”, que transformou um enredo típico de história de quadrinho em um grandioso álbum e até hoje é uma referência na Vanguarda Paulista. Depois dos filmes citados, comecei assistir os clássicos, como “Pulp Fiction”, que trouxe o John Travolta de volta ao estrelato. Então, todo filme que Tarantino lança, eu já estou no cinema. Claro que dessa vez não podia perder.
Apesar de que estava com vontade era ver o filme Bacurau, do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, no qual a pré-estreia seria em Parelhas, na comunidade que foi gravada todo o filme. Mas, o Brechando ainda não é rico suficiente para viajar em todos os lugares. E vamos assistir aqui em Natal nesta sexta, com resenha e tudo.
Voltamos ao Tarantino. O filme narra uma Hollywood no final dos anos 60, auge da Guerra Fria, a ascensão da cultura hippie e atores famosos na década de 50 se reinventando para conseguir manter o sucesso que tinha. É assim que entra a história dos personagens de Leonardo Di Caprio e Brad Pitt, que interpretam um ator e dublê, respectivamente, que vivem em um total fracasso e ambos cometem loucuras para se manter.
Tarantino mostrou de forma exagerada a maneira de como a virada de década está se tornando, deixando várias personalidades bastante irritadas, como a família de Bruce Lee. O uso de situações absurdas com personagens reais, como Sharon Tate e a família Manson, mostra que alguns comportamentos daquela época ainda reverberam, como a crítica do politicamente correto e podemos comparar os hippies com aqueles jovens progressistas com jeito paz e amor, chamados de tilelê no Brasil. Tanto os hippies quanto os tilelês são criticados por querer progresso.
O personagem mais emblemático é o dublê interpretado por Pitt, que tem um passado duvidoso, mas sempre tenta utilizar o discurso de “bons costumes” para se garantir.
Não é uma cineobiografia de Sharon Tate, como tentam vender, mas Tarantino com todo o seu jeito exagerado e cheio de sangue e explosões mostrou que algumas vezes a gente está preso numa Guerra Fria, embora tenha acabado em 1991.
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