Acho bonita as histórias das pessoas que largam tudo para fazer um site e ele faz acontecer. Comigo foi diferente, porque eu tive que fazer algo para não ficar parada e continuar a exercer a minha profissão de jornalista. Lembro muito bem na parada de ônibus, esperando aquele 46 divino, em frente ao Harmony Center, escrevendo tudo o que queria falar em um site de jornalismo. Queria usar uma linguagem jovem e sem aquele formalismo que me incomodava. Nessa época estava lendo bastante sites e programas com o tema de jornalismo gonzo. De um lado estava feliz por trabalhar de forma independente, por outro chorava por querer estar formada e ganhar os direitos estabelecidos na CLT.
Embora parecesse muito confiante, planejando e tentando fazer da melhor forma possível eu estava com muito medo. Não sabia como fazer um blog ser comentado entre as pessoas, sendo alguém que nunca foi popular nem nos tempos de escola. Queria continuar a ficar invisível, mas sabia que se não colocasse as minhas ideias para fora, eu poderia nem ter uma chance de arranajar um trabalho no futuro. Era uma espécie de portfólio. Porém, o que era apenas uma vitrine do meu trabalho, se transformou em uma fonte de informação e pesquisa, além de ter ajudado em pautas para outros jornais.
1º de agosto, no sábado de manhã, eu publiquei uma primeira matéria, que foi uma lista mostrando alguns aspectos comuns que os natalenses fazem em dias de chuva. O texto existe até hoje e pode ser lido por aqui. Então aos poucos, feito um conta-gota mesmo, comecei a colocar as curiosidades que sabia sobre a minha cidade e os lugares que visito. Também aos poucos surgiram os brecheiros e hoje 1,4 milhões de pessoas já apareceram por aqui nesses quatro anos e quase três mil textos, sem contar que estamos no Facebook, Instagram, Twitter e no You Tube, além de ter uma revista com conteúdo inédito.
Esses 4 anos de Brechando muita coisa aconteceu. A gente foi para Campus Party, conhecemos uma Comic Con, fomos para João Pessoa, viajamos para o Rio de Janeiro, conhecemos Salvador, assistimos Paul McCartney, descobri o que era a santa abandonada de Cidade Satélite (que por sinal não é um bairro), entrevistei várias pesonalidades locais e nacionais, achamos documentos legais de Natal e outras novidades nem tão felizes. Em suma provamos que Natal tem muita história e me ajudou a ter orgulho desta cidade.
Vocês também descobriram por aqui que Clarice Lispector não gostou de Natal, Ginga com Tapioca é gostoso e que existe tribos de índios no Rio Grande do Norte.
Apesar dos avanços, ainda existe muito medo, principalmente por conta das mudanças bruscas que me aconteceram no final do ano passado e neste ano. Está difícil viver apenas de blog em um país que está avançando com o fascismo e ter jornalistas que baixem a cabeça neste governo ultraconservador. Sem contar que os jornais estão cada vez mais curtos e com menores pessoas, sobrando apenas as agências de publicidade para empregar os jornalistas para que eles sejam social media ou redator com um salário abaixo do piso salarial, quando se tem sorte. Além disso, a gente está trocando a nossa CLT por um contrato via MEI.
Existe ainda uma dificuldade de manter vários trabalhos ao mesmo tempo, visto que alguns querem uma dedicação exclusiva sem as melhores condições de trabalho.
Realmente não estou trabalhando em uma grande redação de jornal, o trainee do Estadão foi para o céu e que não estou com aquela vida sólida que planejei até o final desta década. Porém, não arrependo da minha trajetória e sinto orgulho da adulta que me tornou. Aproveito este espaço para agradecer o Ayrton Alves, que nossa amizade começou no Brechando, e se tornou um dos maiores colaboradores do site. Também quero agradecer a todos que colaboraram comigo, me estenderia se falasse o nome de cada uma das pessoas, mas obrigada por cada conselho e ter tido a paciência de me escutar para cada ideia maluca que tinha.
Apesar de todos os problemas, o Brechando é resistência, consegue pagar as suas contas para manter o site e ainda consegue explorar vários cantos de Natal e outras cidades em sua volta. Queremos multiplicar estes quatros anos para brechar todo o planeta (Roubando a “homenagem” de certo jornalista em que utilizou a palavra Brechando no seu livro) e o universo.
Longa vida ao Brechando e ao jornalismo independente!
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