Estudar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é algo muito louco. Mesmo que você estude uma área específica, você pode adquirir vários conhecimentos ao longo de sua vida acadêmica. Embora minhas aulas da especialização sejam a cada 15 dias e sempre nos fins de semana, eu frequento a instituição de ensino para ouvir mais. Se você não conseguiu abrir a sua mente neste período, porque algo está de errado na sua vida. Nesta semana, no Departamento de Artes (Deart), está acontecendo a Semana de Artes Visuais, onde vários estudantes e profissionais da área estão divulgando oficinas, palestras e vendendo os seus trabalhos.
Dentro do Deart sempre é questionado o todo tipo de manifestação artística, inclusive aquelas peculiares que o jornalismo mainstream fica de cabelo em pé.
Porém, algo me chamou atenção quando uma das oficinas/palestras (não sei como definir) foi sobre tatuagem, uma arte que admiro muito e sempre vou defender com unhas e dentes. É glorificante em saber que artes consideradas por muito tempo marginalizadas estão sendo discutidas e explicadas em ambiente acadêmico. Antes, para você trabalhar como tatuador, tinha que procurar algum estúdio para saber como funciona ou se arriscar em ser autodidata (ainda é assim, mas a cibercultura de Piere Levy facilitou com que as fronteiras fossem rompidas).
Sem contar que é importante discutir sobre os trabalhos desses artistas e saber quais são as suas características e vertentes.
A aula em questão foi com a ilustradora, quadrinista e também tatuadora Ana Luísa Medeiros, que tem um estúdio chamado Ink Ana. A mesma largou a Arquitetura e começou a focar em trabalhar apenas com arte, tanto que é estudante de Artes Visuais na UF. Ela teve a brilhante ideia de fazer uma introdução de como se faz uma tatuagem, uma forma de mostrar aos interessados na profissão, visto que ainda não tem muita informação sobre o assunto.
Para ensinar da forma mais didática possível, ela chamou um amigo que topou prontamente em ser sua “cobaia” para o seguinte experimento: “Ser tatuado diante dos olhos de uma plateia de alunos”. Mesmo um pouco nervoso, ele demonstrou simpatia com a situação e fez algumas brincadeiras. A tatuagem escolhida foi um pavão e escolheu uma região bastante peculiar para tatuar: a cabeça.
Didaticamente, ela comentou como começou a trabalhar, tirou as dúvidas dos curiosos e falou de situações diversas como mulher tatuadora, inclusive ouvir um mansplaining nosso de cada dia.
Com malinhas com todos os equipamentos, bem “Mary Poppins” como a mesma falou, ela vai tirando cada peça para se realizar uma por uma e explicando cada passo o que se fazer, além de fornecer importantes dicas de biosegurança, pois ninguém quer ter uma tatuagem malfeita ou ter infecções. Além disso, ela instalou uma Go Pro em uma televisão com uma forma dos estudantes assistirem, com mais detalhes, tudo que ela estava fazendo. Praticamente, a tatuagem virou um experimento científico e isso foi incrível, pois assim entederíamos a melhor forma de manusear a máquina, como trabalhar a pele e, por fim, fazer a arte acontecer.
Sabe aquelas aulas de biologia sobre método científico? Praticamente foi um, no qual seguimos as estapas direitnho, pois observamos, elaboramos o problema (Dar certo tatuar a cabeça de alguém ?), Cria hipóteses de elaborar o desenho, experimentar (a hora da prática), analisamos e finalizamos, no caso Ana Lu (como também é conhecida), visto que foi ela quem tatuou. Todos os alunos estavam encantados, inclusive minha pessoa que não sabe fazer direito um desenho em palito, avalie uma tatuagem e estava lá acompanhando minha irmã e seus amigos que estavam lá. Hoje, por exemplo, aprendi que existem vários tipos de agulhas e os tamanhos são numerados, igual ao crochê. Além disso, vi que existem dois tipos de máquinas para fazer uma tatoo.
Nesse período de aula, ela mostrou como fazer, quais as situações que iria encontrar enquanto estava realizando o processo e o que fazer para deixar a arte ficasse a mais perfeita possível.
Em meio ao furacão, onde a universidade está sofrendo com cortes de 30% de verba, ainda existe um fôlego para respirar e ter esperança em manter o ambiente de ensino cada vez mais plural e aberto. Quem perde com o fechamento não são apenas os alunos ou funcionários, mas toda uma comunidade que terá cada vez menos acesso aos estudos dos mais variados tipos e conhecimentos serão cada vez mais destinado aos privilegiados.
Por mais pluralidade e viva a universidade.
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