A primeira definição sobre o livro de Fernando Fontes que li:
Contos e crônicas
Ficção e realidade
Lado A e Lado B
Assim como as revistas da Noize e Trip que eu curto pelo fato delas terem dois lados, como se fosse escutar um vinil ou uma fita cassete, o livro me interessou para saber como misturar estas linguagens em um mesmo projeto. Além disso, eu gosto desses dois gêneros literários. “A princípio por entender que seria dificílimo ser acolhido por uma grande editora, sem ter qualquer trabalho literário previamente publicado, sem referências no meio. Depois de iniciado o processo com a Themis (Lima, ex-integrante da editora Tribo), vi que a liberdade de uma produção independente, sem rótulos, sem qualquer pressão mercadológica, tornou o trabalho muito mais prazeroso”, explicou o novo escritor da área.
Esta é a proposta do Dois Consecutivos, do Fernando Fontes, que vai lançar o seu primeiro livro no próximo sábado (24), na lanchonete Barões do Café, localizada no shopping Seaway. Apesar de ser novato na área, ele começou a se interessar há 14 anos, quando ainda morava em São Carlos, no interior de São Paulo. “Como uma forma de mantermos contato mais próximo, eu, meus irmãos e meu cunhado começamos a trocar e-mails em que escrevíamos contos, crônicas, ou o que desse na telha, sob um pseudônimo. O meu era Alberto Como, em homenagem ao Albert Camus. Era um exercício bem divertido, mas logo eles cansaram da brincadeira. Eu achei aquilo tão legal que continuei escrevendo. Mantive um blog por mais de dez anos, até que resolvi transformar em livro”, explicou Fontes, que leu muito Gabriel Garcia Marquez na adolescência, Agatha Christie e afins.
“Depois passei por uma fase de livros de expedições, Krakauer, Amyr Klink. Gosto de Jorge Luís Borges, Albert Camus, Herman Hesse, os livros do Neil Peart. As crônicas do Antônio Prata. Todos eles são também fonte de inspiração. Ler sempre me instigou a querer escrever”, complementou.
O título se chama Dois Consecutivos como uma forma de brincar com a dualidade que a vida proporciona através de crônicas e contos, visto que os seus poemas nasciam como um “parto fórcepis”. O eterno ping pong que os acontecimentos do nosso cotidiano traz. Por sinal, Fontes é um fã da brincadeira, tanto que fez isto no livro, além de suas memórias afetivas.
“Às vezes é um evento que se passou na infância. Às vezes é algo que vi no caminho para o trabalho. E às vezes eu misturo uma memória dessas, quase esquecida, com a realidade atual, num conto com pitadas surrealistas. Ou seja, não tem uma só fonte. Sou muito calado, muito de observar as pessoas e ambientes ao redor, e normalmente a ideia para um conto ou crônica pula na minha frente sem eu estar necessariamente à procura dela. “.
Inicialmente, a obra teria 80 textos, porém durante a produção do livro foi reduzido pela metade. Assim como um jornalista que odeia que seus parágrafos fossem cortados pelo editor, Fernando também sentiu a dor de selecionar o que queria mostrar para o público. “Eu me apegava muito, sem querer cortar nenhum. Depois me acostumei e cortava sem dó. Para minha surpresa, alguns textos que eu achava fracos no início ficaram e recebi bom feedback deles. Já outros, que eu via como alguns dos melhores, eu cortei, e hoje nem sinto mais saudade”, explicou.
A ideia do livro surgiu em julho do ano passado e Fernando retomou o contato com Themis Lima, que também ajudou no projeto gráfico. “Tinha conhecido a Themis no Clube da Escrita que a Escola Mobidique promoveu por curto espaço de tempo. Poucos meses depois procurei ela para produzir o livro e descobri que ela estava na Espanha. Foram meses de troca de e-mails, mensagens e videoconferências. Deu trabalho, mas um trabalho instigante e prazeroso, de lapidar os textos até extrair o melhor de cada um deles. Ela teve papel crucial nessa etapa, entrando nos detalhes e sugerindo mudanças que davam mais clareza aos textos. No final, sempre chegávamos a um consenso. Ela também me ajudou a encontrar um conceito para o livro, que resultou na divisão e escolha final dos textos. Na diagramação e arte final deixei ela bem à vontade, apenas indicando exemplos de livros que eu considerava legais. Já confiava no bom gosto dela por ter visto os trabalhos anteriores e gostei muito do resultado final”, comemorou.
Fontes acha que é importante valorizar a leitura, independente se ela é vinda numa grande editora ou vendida através do boca a boca. O importante é se aventurar no mundo desses escritores. “Temos ótimos autores aqui no RN e entendo que não devemos ficar restritos ao nosso estado. A literatura não respeita a geografia. Se o livro é bom, ele será interessante para qualquer pessoa do mundo. Ainda assim, a produção independente, quando bem-feita, tem sempre um sabor especial, penso eu. Um quê de rebeldia e de liberdade.”.
Mesmo que o livro ainda esteja saindo do forno, os projetos do novo escritor não parar por aí. “Só (estou) reescrevendo mesmo. Mas gosto muito de relatos de viagens. Não aqueles guias burocráticos com listas e mais listas de lugares e coisas a fazer, e sim aqueles relatos mais pessoais, que retratam o lugar e as pessoas sob a ótica do autor. Quem sabe sai um livro do projeto que eu e minha esposa estamos bolando de passar uma temporada no Canadá. Com os filhos pequenos em casa, surgem sempre ideias de crônicas e até contos infantis (eles são insaciáveis por histórias). Os contos continuam surgindo, a conta gotas, à medida que a realidade vai se mostrando mais estranha. Gosto de não-ficção também. Enfim, é escolher um novo caminho e começar a martelar o teclado”.
Caso não compareça no lançamento do livro, qualquer coisa é só entrar em contato por meio do e-mail [email protected].
Deixe um comentário