Este prédio que hoje abriga restaurantes e um salão de beleza já foi utilizado como um espaço para tráfico de mulheres. Era uma casa de striptease chamada “Ilha da Fantasia”, que foi destruída após a Operação Corona, que aconteceu no ano de 2005, que resultou na condenação de 14 pessoas, sendo seis italianos e oito brasileiros, acusado de tráfico internacional e interno de pessoas. Essas mulheres eram levadas em casa de prostituição
A operação recebeu este nome devido aos italianos proprietários do prostíbulo supostamente fazerem parte da máfia “Sacra Corona Unita”. No ano seguinte, os sócios foram julgados e condenados a 56 anos de prisão. Eles também pagaram uma multa de mais de 700 mil reais. Além da Ilha da Fantasia, a rede de prostituição incluía dois bares, uma loja no Midway que só durou quatro dias de funcionamento e uma pousada acoplada à boate, que até hoje existe o prédio e está abandonado.
A pousada servia na verdade para hospedar fregueses das prostitutas que eram arregimentadas e exploradas pela quadrilha. Paralelamente, os italianos possuíam a boate Giralda, em Sevilha, na Espanha, destino das prostitutas que eles traficavam.
A quadrilha só foi descoberta pela Polícia Federal depois que uma prostitua que tinha aceitado ir de Goiânia para Natal de onde deveria viajar para a Espanha, resolveu fugir ao se ver tolhida em sua liberdade. Na capital de Goiás ela e outras oito moças foram arregimentadas por uma dupla de mulheres que funcionam como agenciadoras de prostitutas. Foi com as duas que as oito moças viajaram para Natal, com todas as despesas pagas.
Na boate, elas foram obrigadas a trabalhar fazendo programas para reembolsar as despesas da viagem. Como forma de atrair as mulheres, os italianos adiantavam também os R$ 5 mil necessários para operações de implante de silicone nos seios ou mesmo lipoaspiração, feitas em clínicas de Natal.
A Polícia Federal suspeitava que a quadrilha foi responsável pela remessa de algumas moças para a Espanha. Eles conseguiram procurar os históricos dos passeiros em companhias aéreas e no circuito de imagens do antigo aeroporto Augusto Severo.
O tráfico de mulheres em sua essência, se presta a escravidão sexual e à venda da mulher como objeto sexual, muitas vezes contra a sua vontade. A Organização das Nações Unidas (Onu) definiu a data de 23 de setembro como o Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças.
O tráfico de mulheres é uma das modalidades do tráfico de pessoas mais praticadas no mundo. Segundo Relatório da Anistia Internacional, o tráfico de pessoas é uma das formas ilegais mais lucrativas no mercado mundial. Dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) estimam que o tráfico humano movimente por ano cerca de 32 bilhões de dólares.
Desde os anos 2000 é realizado um amplo mapeamento das rotas utilizadas pelas redes de tráfico no Brasil, contabilizando 131 internacionais e 110 domésticas. As rotas em geral são construídas perto de cidades próximas a rodovias, portos e aeroportos.
A maioria das vítimas são pessoas que saíram numa zona periférica ou interior de um estado para tentar a sorte grande nos centros urbanos.
O relatório da Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil aponta que a Região Nordeste aponta a existência de uma inter-relação entre turismo sexual e tráfico, já que Recife (PE), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e Natal (RN), são as capitais que aparecem como os principais locais de origem/destino do tráfico, além de serem cidades nordestinas que mais recebem turistas estrangeiros.
Já as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro são consideradas receptoras e pontos intermediários importantes do tráfico de pessoas.
Também foi evidenciado o aumento da inserção nessas atividades, de mulheres, crianças e adolescentes de classe média, além das classes populares. Existem variações na faixa etária de crianças e adolescentes, porém, destaca-se a idade entre 15 e 27 anos.
A maioria é afro-descendente, oriundas de classes populares, apresentam baixa escolaridade, habitam em espaços urbanos periféricos com carência de saneamento, transporte (dentre outros bens sociais comunitários), moram com algum familiar, têm filhos e exercem atividades laborais de baixa exigência.
Outros estudos apontam ainda que, geralmente essas mulheres, crianças e adolescentes já sofreram algum tipo de violência por familiares (abuso sexual, estupro, sedução, negligência, abandono, maus tratos, violência física e psicológica) e extrafamiliar (na rua, nas escolas, nos abrigos e etc).
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