Durante toda a minha juventude, eu escutava:
- Estudar
- Passar no vestibular (de preferência numa faculdade pública)
- Ter um estágio/emprego
- Se formar
- Ser independente financeiro
Acredito que muitos dos jovens já devem ter escutado esse “manual”. Mas, cada pessoa possui o seu próprio ritmo e obrigar a seguir os mesmos padrões podem causar alguns problemas.
De vez em quando, eu acesso o meu Twitter pessoal e vejo o desabafo de amigos nas suas páginas. Eles se esforçam, passam numa faculdade pública, estudam e se formam. Vem a felicidade de obter o diploma, mas ao mesmo tempo eles caem no grande buraco e vem o questionamento: E depois?
Calma, jovem. Você não precisa ter pressa para ser independente, você está começando a sua vida. E, mesmo, se fosse casado com três filhos, fazendo tudo que está na lista, a vida pode fazer com que desista e arranje alguma coisa.
O que fazer depois disso?
Nessas horas que eles se deparam com o desemprego, além da falta de expectativa. Aí vem as frustrações, pois o mercado de trabalho é concorrido e exige que as pessoas tenham muitas experiências. Numa entrevista de emprego querem que você fala três línguas, tenha experiência em milhares de programas para computador e vários estágios. Então, questiona: Será que foi para isso que estudei? Mas, me disseram que iria ficar milionário antes dos 30 anos?
Você entra em frustração e fica questionando se você é bom naquilo que faz. Então, vem a terrível dúvida de voltar para estudar numa segunda graduação, fazer mestrado estudar para concurso, trabalhar em algo que não tem relação, virar dona de casa ou largar tudo para montar uma empresa.
Enquanto isso você escuta de alguns parentes: “Seu primo conseguiu um cargo público e está ganhando 10 mil reais”, “Faça que nem a sua irmã que com menos de 25 anos está casada, ganhando bem e tendo filhos” ou “Você tem 27 anos e ainda mora com os pais. Como assim?”.
Desenvolvendo um site, após me formar em jornalismo, eu descobri que a vida independente dos pais não é um roteiro pronto, como eles querem dizer. Você tem que ralar todos os dias para ser reconhecido e esforçar bastante para fazer um bom trabalho. Descobri que não tenho obrigação de ficar independente financeiramente rápido e que um bom desempenho, para ser reconhecido, é lento. Sabia das consequências da minha profissão, quando me formei, mas isso não me fez desistir. Porém, conheço muitos colegas que já jogaram a toalha facilmente.
Quem nasceu bem de vida nos anos 90, foi preparado por uma educação quase mecânica, no qual de manhã tinha que ir ao colégio (escolhidos por aqueles que utilizavam como propaganda que aprovava mais turmas para as universidades públicas) e à tarde faríamos esporte (natação ou futebol), um idioma ou uma aula de reforço para tirar notas boas.
Porém, eles não tiveram preparo na inteligência emocional. É uma geração preparadíssima, mas ao mesmo tempo não está, conforme Eliane Brum falou em sua coluna na Istoé algum tempo atrás. Não aprendemos a limpar a casa, cozinhar ou saber a diferença entre débito e crédito. Aprendemos isso na marra. Até hoje, conheço gente que não sabe fazer isso.
Fomos criados para mudar o mundo, pois tínhamos conhecimento melhores que nossos avós, tecnologia (computador+redes sociais) e facilidades.
Um grande amigo, nos tempos de colégio, era considerado o cara mais inteligente, genial e que iria ser sucesso. Ele não tirava as melhores notas, mas como as pessoas diziam que ele era criativo e genial, o ego dele era massageado. Achava que era possível combater tudo e a todos. No primeiro vestibular, ele foi desafiado com as características que ele possuía e era elogiado por isso, mas reprovou. Pensou, rapidamente, em desistir, pois foi o primeiro fracasso que viu por perto.
Essa geração foi ensinada a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece, a intenção é desistir. Como Brum falou neste texto que linkei, a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade. Por que boa parte dessa nova geração é assim? Será que os pais erraram em proteger dos perrengues?
Não sei quando vou ter filhos, mas penso que não quero criar um garoto ou uma garota numa vida sem dificuldades e limites. Quero que eles sonhem, mas também saibam ser realistas quando forem desafiados.
Vejo muitos amigos, nos quais os familiares escondem as angústias, frustrações e não procuram dialogar quando o mesmo está cheio de dúvidas sobre o que fazer. Eles querem que sejam bem-sucedidos e pronto.
Então, nasce as angústias, falsa felicidade e consequentemente doenças graves, como a depressão. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo.
Deixe um comentário