Quem acompanha o Brechando há oito anos sabe que fiz duras críticas ao governo anterior e meus sentimentos como jovem adulto que ainda tem dificuldades de se manter, sendo um reflexo da Geração Y, os famosos milennials. Os nascidos entre os anos 80 e 90 são as primeiras pessoas que viram as novas tecnologias surgir, como a internet.
Além disso, eles tiveram acesso à educação diferente dos pais. Entretanto, 2009 veio uma crise econômica mundial que fez mudar totalmente a ideia de que seríamos mais independentes dos progenitores. Então, o resultado foi surgimento de extremismo político, preocupação de causas sociais, saúde mental ruim e, claro, o desemprego constante. No Brasil, isto não foi diferente.
Nos últimos 5 anos, eu acompanhei esta saga todinha intensificada durante a pandemia do Covid-19. O humorista Thiago Santinelli, por sua vez, usa o sarcasmo e deboche para falar daquelas pessoas que estão negando este conceito, apoiando ideias neonazistas e desmistificando charlatões que estão de olho nas próximas gerações.
Conheci em 2022 no meio dos inúmeros vídeos de stand-up que eu assistia após um dia inteiro de trabalho e estudo. E resolvi ir ao show, mesmo sabendo que restaram poucos ingressos.
Como trabalha o seu humor
Santinelli cresceu na periferia de Brasília, onde tem a maior favela da América Latina, e numa família extremamente evangélica. Em suas esquetes no You Tube, ele reage a vídeos de pessoas contra o governo de esquerda, debocha e também mostra, por meio de contra-argumentos, o porquê das ideias estão erradas.
Sem contar que faz comédia stand-up em que o sarcasmo fica mais presente. Foi assim que eu vi a apresentação dele no Teatro Alberto Maranhão (TAM). O espetáculo “Antipatriota” é uma forma de falar que o amor pelo país não é apenas se vestir de verde e amarelo, acampar nos quartéis e muito menos se pendurar em um caminhão. Ser patriota também não é fazer poemas ufanistas, bem Olavo de Bilac (não confundir com o de Carvalho, embora ambos estejam mortos).
Consegui rir de todas as angústias que sofri de 2019 até 2022 pela leveza que o comediante traz estes assuntos. Além disso, eu fiquei aliviada em uma das poucas pessoas a falar sobre certos vlogueiros e charlatanismos na internet, no qual muita gente adora elogiar.
Como foi o show de Santinelli
O show no TAM teve aproximadamente duas horas de duração, onde o brasiliense apenas com o microfone da mão fez um monólogo debochado das aventuras que passou nos últimos quatro anos e fazendo críticas sociais das mais diferentes possíveis. Entretanto, essas críticas têm um ponto em comum: o problema do Brasil está nas periferias e ninguém está vendo.
E assim como nos reacts do Youtube, ele não poupou ninguém. Muito menos a esquerda cirandeira.
Thiago pontuou bem, nas camadas de ironia, o porquê: falta de acesso aos princípios básicos (saúde, educação, lazer, transporte…), acesso do Estado (lê-se Polícia) vem de forma repreendedora e também detentores de subempregos, se não optarem o dinheiro rápido da prostituição e tráfico. Logo, vem grupos de oportunistas com as suas politicagens e, às vezes, com verniz de neopentocalismo.
Thiago também pontuou que não adianta querer debater de forma acadêmica, se a maioria das pessoas, mulheres, negros e LGBTs, não estão na universidade.
Ri, de nervosa
A apresentação era para rir, mas de nervoso com as nossas hipocrisias e que mesmo com a queda de Bolsonaro, o Bolsonarismo não acabou e que tudo é um ato político, inclusive fazer uma apresentação de stand-up. Apesar da cidade ser conservadora, Thiago disse que a gente deveria parar de reclamar do conservadorismo natalense, visto que ele é fraco diante de outras cidades brasileiras.
Além disso, usou o argumento de que o ex-presidente perdeu as eleições por aqui, pois é o reflexo de que ainda podemos conversar esses assuntos na roda familiar e um dos motivos de ter lotado a sua apresentação.
“Tem cidades que eu vou, principalmente do Sul, que é uma pessoa de esquerda perdida no meio do conservadorismo. Isto é boa parte da família brasileira, inclusive a minha família”, disse o comediante, que admitiu já fazer shows para 20 pessoas no ano passado em cidades extremamente conservadoras, além de ameaças de boicote.
Por fim, o show de Santinelli terminou com muitos aplausos e uma promessa de voltar ainda este ano. Sem contar que tirou fotos com todos os fãs que montaram uma fila quilométrica.
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