Lembro quando meu amigo Victor H Azevedo disse, durante a matéria que fiz na revista Brechando nº 2, a seguinte frase: “Gosto do visual da Ribeira, pois ele tem aquele cenário de filme apocalíptico.”. Quase dois anos que fiz a matéria e um ano depois da publicação posso dizer que a Ribeira de Natal está pior, parece que alguém jogou uma bomba atômica e só as baratas estão podendo circular por aquela região. Parece que alguém fechou a porta e deixou a chave no rio Potengi para que ninguém pudesse voltar. Não sei quem é o mais culpado, se é o poder público, os produtores culturais, os herdeiros que brigam por um prédio que está caindo aos pedaços ou simplesmente as pessoas que moram em Natal.
É muito estranho que o início do sábado em Natal ver a Ribeira diferente de 10 anos, que pelo menos as pessoas estavam no Bar do Reggae para escutar aquele Edson Gomes de lei. Estava escura, sendo guiada apenas pelos faróis do carro.
Refiz o caminho da matéria da revista
Estava indo em direção para Casa da Ribeira, onde iria ter o lançamento do filme de Jana Sá, o “Não foi acidente, mataram meus pais“. Após adiantar alguns trabalhos fora da agência de publicidade e os preparativos da castração da minha gata, eu peguei meu carro e fui direto pela Prudente de Morais, uma vez que a Hermes da Fonseca estava interditada com o cruzamento da avenida Alexandrino de Alencar.
O caminho todo estava focada em assistir o filme e ir para casa, pois estava cansada dos últimos acontecimentos. Então, peguei o sinal que vai ao Barro Vermelho, caminhando em direção ao Baldo e, por fim, atravessar o viaduto de mesmo nome e passei na avenida do Contorno, que corta o Passo da Pátria com o bairro de Cidade Alta.
Já estava escuro, com postes com iluminação precária, e garotos andando de bicicleta sem prestar no perigo dos carros andando em alta velocidade. Os grafites estavam desbotando, não via mais cor ou alegria de quando ia ao Circuito Ribeira da vida.
Somente o Salesiano estava aberto na Avenida Duque de Caxias na Ribeira em Natal
Quando cheguei na Duque de Caxias, eu vi somente o colégio Salesiano aberto. Com os carros de classe média alta circulando e buscando seus filhos que estavam praticando algum esporte. Deduzi que era isso por conta de que o pessoal estava com camiseta de vôlei e andando de chuteiras pelo ombro. Então, eu passo pela Rio Branco para pegar o cais da Tavares de Lira.
Onde a única fonte de iluminação eram as motos dos vendedores de pescados que estavam arrumando seus pertences para ir embora, sabendo que era a hora de fugir da Ribeira Dark e abandonada. Sem contar que a única iluminação vinha do pôr-do-som. Sim, o comércio que era tão característico deste bairro da zona Leste também pode ser o próximo a escapar e talvez pela janela, pois a porta está mais que lacrada.
A rua Chile totalmente escura
Para chegar na Frei Miguelinho, onde fica a Casa da Ribeira, tive que pegar a rua Chile. O local que por muito tempo era cheio de baladas, shows de rock, quadra de escola de samba e só vi escuro. Fiquei com medo de andar na Ribeira pela primeira vez, pois estava só e não tinha algum ser vivo atravessando. Nem os gatos ou cachorros de rua.
O tradicional Armazém virou uma igreja evangélica e o Alchimist está na lista de mais um bar que fechou as portas a partir do abandono e da pandemia.
O bar do reggae estava sem ninguém, o Porto sem nenhuma movimentação. A única que consegui ver foi na Casa da Ribeira, pois as pessoas estavam estacionados e chegando para ver.
Quem apagou a Ribeira? Não sabemos, mas queria que ela respirasse novamente.
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