Estava eu em casa quando minha irmã resolveu ir ao Beco da Lama e falei o seguinte: “a gente se encontra por lá”.
A primeira coisa que me chocou foi ver uma enorme quantidade de carros em seu entorno, que dei duas voltas até achar uma vaga. “Minha irmã deve tá no lugar mais afastado, pois odeia aglomeração”, pensei.
A luta para procurar um lugar confortável foi difícil, era uma vitória ter um espaço e não ver gente urinando na sua frente. Quem conseguiu comprar alguma coisa também foi difícil.
A minha vitória do dia foi ter tirado foto com Flávia Big Big.
Assim como foi aquele Halloween do Gringo’s de 2015, demorei mais de dois dias para saber o que foi aquele delírio coletivo de jovens de 18 a 29 anos em sua maioria, alguns chegando aos 30, que inventaram de ir ao Beco da Lama na véspera de feriado da Sexta-feita Santa. Aqui está um exemplo a seguir.
Sabemos que na quinta-feira tem o samba, uma roda que toca o melhor do estilo no tradicional Bar de Nazaré. Por outro lado, na Meladinha, havia uma festa dançante liderada por Frank Aleixo. Até aí tudo bem. Mas, o que foi aquela gente toda?
E muita gente reclamou disso no Twitter.
hoje é dia 5 de dezembro de 2022 e o assunto mais falado no twitter natalense ainda é o quão o beco da lama estava quente e lotado no dia 14 de abril deste mesmo ano
— ianzito (@ianrassari_) April 15, 2022
Fácil, falta de opção de lazer
O Beco da Lama virou o Point cultural mainstream após a Prefeitura do Natal ter contratado grafiteiros para um mural. Além disso, ele começou a investir em espaço cultural.
Antes, apenas um pessoal específico iria para lá, como jornalistas, escritores, políticos e gente que aproveitava que trabalhara no Centro de Natal para fazer aquele que futuramente chamariam de Happy Hour.
Com a Ribeira cada vez mais deserta, bares da ZS fechando e as praças com menos segurança, o Beco virou uma zona de conforto para aqueles que “procuravam a curtição”.
O que vi no Beco da Lama não foi apenas um delírio coletivo, mas uma tentativa de reorganização do que seria o pós pandemia.
Prefeitura deveria investir além do quadrante da sua sede
Para Álvaro Dias, controlar e criar espaços culturais no Beco é mais fácil. Afinal, o Palácio Felipe Camarão fica a menos de 100 metros, sem contar que outros espaços culturais monitorados pelo Município, a Capitania das Artes e o K-Ximbinho também são próximos. E não podemos esquecer do Zé Reeira, que segue os mesmos modus operandi.
O tradicional bairro da Ribeira e sua nova revitalização apenas é um plano distante. Já o Governo do Estado, o seu foco cultural está na Rampa e Pinacoteca.
Enquanto isso, os espaços culturais mais distantes, como a Área de Lazer do Panatis e a Praça do Eucaliptos, estão abandonados. Isso quando não tem a sorte de bares particulares de adotarem o espaço público ao redor e tomar como seus.
Os prós e contra
O que aconteceu no Beco da Lama é um sinal positivo que as pessoas se interessam pelo centro. No entanto, negativo porque vai centralizar os espaços culturais da cidade e fazendo com que as comunidades mais periféricas fiquem longe do bel-prazer de curtir.
Com os cortes das linhas de ônibus e os Corujões e os aplicativos caríssimos, mostra que os eventos de rua estão elitistas e menos restrito a população.
Agora, cabe pedir não só comida, mas também diversão e arte. Afinal, numa gestão neofascista, a maior resistência de um povo é mostrar que ainda está sorrindo.
Deixe um comentário