Nota de Lara
Procurando os jornais de 70 para mostrar alguma coisa que seja interessante, eu achei a foto desta dupla. Hoje, eles poderiam ser facilmente vistos nos festivais alternativos ou uma banda de indie rock. Mas, em janeiro de 1970, eles pararam numa delegacia em Natal para mostrar que não são bandidos, mas apenas andarilhos e lá contaram a sua história. Assim, resolvi compartilhar esta matéria no Diário de Natal, publicada em 20/01/70.
Seus nomes eram Ringo e Pinga. O de barba é o Ringo. Como vocês perceberam, o tamanho do seu nariz lembra do baterista do Beatles. Confira a matéria logo abaixo.
Paulo Florêncio da Silva (23 anos, solteiro, natural da Bahia e com residência incerta) e Flávio Guilhermino de Melo (20 anos, solteiro, natural de Santa Catarina e sem residência fixa) compareceram na manhã de hoje à 4ª delegacia, na Praia do Meio, a fim de se identificarem ao tenente Aldemir Leal. Eles são andarilhos, trabalham como artesões e querem andar sem problemas com a polícia.
Chegaram ontem a Natal, juntamente com 8 andarilhos que encontraram em João Pessoa, que ontem mesmo seguiram para Fortaleza. “Ringo” e “Pinga”, como são conhecidos Paulo e Flávio, preferiram, entretanto, demorar um pouco em Natal e, para evitar problemas, foram diretamente a Polícia, para identificação.]
Make love
Segundo declarações que prestaram na delegacia, estudaram Ciências Econômicas no Rio de Janeiro (Faculdade “Ruy Barbosa”, na Tijuca) e solicitaram o fechamento da matrícula por dois anos, para poderem conhecer o Brasil inteiro. Nessa caminhada, conheceram São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e, agora, vivem o Nordeste, já conheceram a Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e querem conhecer o Rio Grande do Norte.
Com eles dois, viajaram três moças – Suely, Vera e Dany – que preferiram rumar logo para Fortaleza, com os oito andarilhos que conheceram em João Pessoa. O reencontro será na capital alencariana (referência ao escritor José de Alencar, natural de Fortaleza). As despesas da viagem são cobertas com o ganho na venda de seus produtos de artesanato – sapatos, mocassim, colares de couro, moldura para espelhos, gargantilhas, etc. – mas quando têm dinheiro comem o que as pessoas encontradas nos caminhos do mundo lhes dão.
“Make love, not war” – “Faça o amor e não a guerra” é o tema dos andarilhos, que, respeitadas as proporções, têm algo em comum, com grupos “hippies” norte-americanos ou ingleses. “Caminho em volta de mim mesmo procurando algo existente em meu eu eu” é a filosofia mais segura, segundo o Ringo.
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