O Brasil é o quarto país com maior mercado global de produtos cosméticos. Quase todo mundo gosta de se arrumar, passar creme, perfume e qualquer outro tipo de cosmético para deixar legal uma parte do corpo que gosta ou desgosta. Porém, algumas fabricantes para elaborar os produtos utilizam métodos nada ortodoxos, como testando animais ou destruindo certos biomas. Que tal produzir a partir do desenvolvimento sustentável? O resultado pode ser um ganho para a economia local, para a qualidade de vida daqueles que lidam diretamente com a extração desses recursos, e claro, para a preservação ambiental.
Dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), duas pesquisas no Departamento de Farmácia utilizam plantas da Caatinga, Algaroba e Sisal, para elaboração de um hidratante. A pesquisa para fazer o produto está durando três anos, ambas orientadas pelos professores Márcio Ferrari e Raquel Brandt Giordani.
A Prosopis Juliflora, popularmente conhecida como Algaroba, está muito presente na vegetação da Caatinga. Considerada uma planta invasora, ela interfere no crescimento das plantas que nascem ao seu redor. Por conta da profundidade da sua raiz, ela capta água das redondezas. Essa particularidade é o fator que impede a vegetação de se desenvolver na mesma proporção que ela. Estudos que serviram como base para a pesquisa indicam a presença de alguns tipos de polissacarídeos na sua estrutura. Essas moléculas são ricas em grupamentos hidrofílicos, ou seja, ela consegue manter muitas moléculas de água ao redor da sua estrutura química, o que permite a hidratação.
O primeiro passo da pesquisa foi avaliar qual seria o melhor processo de extração dessa substância, para ter o maior rendimento possível. Formas de otimização para um processo de extração mais verde, com racionamento de solventes orgânicos, foram testadas para apresentar menor tempo de produção e custo, impactando na diminuição de danos ambientais e na sustentabilidade. A expectativa é desenvolver, a partir dessa pesquisa, um produto na forma de um núcleo sólido. Esse núcleo se dissolve em um creme com efeito hidratante para aplicar na pele, atuando na prevenção do envelhecimento.
A Agave Sisalana, popularmente chamada de Sisal, é uma planta bastante conhecida pela utilidade da sua fibra para a produção de corda, tapete, entre outros produtos artesanais. Na indústria, após passar pelo processo de desfibramento, é descartada uma matéria triturada : um líquido misturado com a parte mais verde da folha. O problema é que pouco se faz o descarte consciente dessa matéria e, ao ser jogada na vegetação, ela pode provocar um impacto ambiental.
Porém, descobriram que este líquido pode ser transformado em hidratante a partir da nanoemulsão, quando diminui o tamanho de suas gotículas, fazendo com que o líquido penetre na pele e ajuda a melhorar a sensibilidade do consumidor.
Em maio de 2017, as pesquisas desenvolvidas pelos Laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Cosméticos e de Farmacognosia da UFRN receberam reconhecimento com premiações a nível nacional e internacional.
O trabalho com a Algaroba foi premiada em 10 lugar, dentre os 72 trabalhos apresentados, no 300 Congresso Brasileiro de Cosmetologia. O prêmio foi ofertado pela Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC). A pesquisa desenvolvida a partir do resíduo do Sisal rendeu prêmio no XXIII Congresso Latino-americano e Ibérico de Químicos Cosmético. O prêmio é dado ao melhor trabalho desenvolvido com matérias-primas de origem latino-americana. Foi a primeira vez que uma universidade brasileira conquistou este prêmio.
Sobre a Caatinga
Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e conhecida por conta das plantas perderem as folhas e os troncos tornam-se esbranquiçados e secos. A caatinga ocupa uma área de cerca de 850.000 km², cerca de 10% do território nacional, englobando de forma contínua parte dos estados da Paraíba, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e parte do norte de Minas Gerais.
O uso insustentável de seus solos e recursos naturais ao longo de centenas de anos de ocupação, associado à imagem de local pobre e seco, fazem com que a caatinga esteja bastante degradada. Entretanto, pesquisas recentes vêm revelando a riqueza particular do bioma em termos de biodiversidade e fenômenos característicos. Do ponto de vista da vegetação, a região da caatinga é classificada como savana-estépica. Entretanto, a paisagem é bastante diversa, com regiões distintas, cujas diferenças se devem à pluviometria, fertilidade e tipos de solo e relevo.
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