Apesar de ter nascido em Natal, minha primeira memória é o espaço todo branco do apartamento da praia de Cabo Branco em João Pessoa (muitos pensam que sou pessoense, quando falo da minha infância em Jampa) e as viagens de carro de fim de semana, visitando os meus avós no conjunto Potilândia. Sabia que chegara a casa deles a partir do barulho do Tempra, uma vez que a rua que era pavimentada em plena década de 90.
As atividades que fazia? Sair para o Natal Shopping com toda minha família, pois naquela época tinha muito mais opções que o Manaíra Shopping, que a única vantagem do primeiro citado era que tinha uma senhora Lojas Americanas e comia as melhores coxinhas e brigadeiros. Mas, lá não tinha um parque de diversão, como era o Natal Play.
Achava divertido andar no Hiper Bompreço, pois era enorme, comparado ao Boa Esperança (hoje, Pão de Açúcar) e ao tradicional Bom Preço, as duas redes de supermercado que tinha na época em JP. Me lembro da cara de espanto/tristeza de mainha, quando as Lojas Americanas de João Pessoa, nosso ponto de diversão, fechou e foi substituída por uma loja que não tinha nada a ver. Mas também se divertíamos muito, íamos ao zoológico, almoçava no Tererê, comprava Barbie ou Susi na Mesbla, brincava no Centro e também adorava ir à Tambaú. O meu momento mais legal era as férias, onde minha prima chegava e trazia o Mega Drive para brincar com o Sonic.
Achei um vídeo de Jampa nos anos 90 e era mais ou menos assim:
https://www.youtube.com/watch?v=3TqrnUCYnfg
Agora Natal nos anos 1990:
Mesmo morando perto das principais praias de João Pessoa, eu sempre preferi brincar em Ponta Negra ou Búzios, onde meus pais me levavam para passar o carnaval na infância. Não sei se era uma forma dos meus pais quererem que eu enraizasse logo em Natal, mas nunca me senti em casa quando vivia João Pessoa, preferia ficar em Natal (quem disse que criança não tem opinião?), chorava quando tinha que voltar para lá, estudar no colégio ou fazer qualquer atividade por lá. Apesar de saber ainda as ruas e caminhos da capital paraibana de cor e salteado, principalmente após as visitas depois de retornar à terra Natal (sem trocadilhos, por favor), sempre tive a sensação de lar por aqui.
Uma das melhores sensações é ficar sentindo o vento em Ponta Negra enquanto bebo uma coca-cola gelada e comendo um crepe no calçadão. Sinal que estou em casa. Ou, quando sem querer solto um “boy” para qualquer situação. Olhar o Morro do Careca e ficar questionando o porquê da natureza fazer coisas engraçadas e ao mesmo tempo bonitas. Podia dizer muito bem que sou pessoense, por ter tido boa parte da infância lá, mas não sou, pois eu nasci, cresci em Natal e tenho hábitos de uma natalense. Assim como muitos amigos meus que nasceram em outras cidades e se consideram natalense pelos mesmos motivos.
Essa semana completa 18 anos que voltei para capital potiguar, após meu pai ter sido transferido e vejo as duas cidades crescendo bastante, apesar delas ainda estarem presas por oligarquias políticas. São cidades que tem praias belíssimas, um centro cultural com bastante prédios bonitos e quase a mesma quantidade de habitantes. Ficam entre as grandes metrópoles (Recife e Fortaleza), mas estão chegando a casa de um milhão de habitantes.
Natal completa este mês 418 anos de vida, no qual eu pude ver a saída de uma cidade pequena, em comparação à outras nordestinas, com um senhor processo acelerado de verticalização, lutando para ser reconhecida em comparação às outras capitais do Nordeste, virou uma cidade-sede da Copa do Mundo, está criando grandes festivais alternativos (Mada e Dosol) e foi aqui que virei adolescente, me tornei jornalista e estou tentando contar a sua história cotidianamente. Mesmo tendo ainda seus problemas urbanos de século XX, uma elite extremamente conservadora e com medo de inovações, e pessoas tendo síndrome do vira-lata, eu ainda luto para todos os dias mostrar que aqui tem história e o seu valor.
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