No início pensei em não escrever sobre a criança em Natal que sofreu ‘bullying’ no Marista, após ter sido chamado de “cocô” por conta de sua pele. Além disso, o motivo primeiramente era de me despertar gatilhos emocionais de estudar em um colégio elitista que falaram que desde meu cabelo era ruim até do meu corpo e da minha forma de raciocinar. Tudo era motivo de questionamento. Para mim um dia bom era aquele que as pessoas não me aborreciam. Mas, pessoas de pele preta sofrem isso da escola até a sociedade, além de aguentar todos aqueles estereótipos. A posição esdrúxula da diretoria somente surgiu, por conseguinte, após a mãe dizer nas redes sociais. Isto foi no Rio Grande do Norte.
Em Sergipe, um homem esquizofrênico foi colocado em um porta-malas cheio de gás lacrimogênio e os policiais fecharam o veículo, fazendo com que Genivaldo morresse asfixiado em uma improvisada câmara de gás. Alguns assimilando a versão brasileira do caso George Floyd.
De Natal a Umbaúba. Rio Grande do Norte a Sergipe. As atitudes são iguais. Não importa se você tenha dinheiro o suficiente para pagar um colégio caro e muito menos esteja no interior de um estado nordestino, a pele negra sempre vai pagar mais caro. Ainda mais é como se o universo querendo que pessoas de pele preta não pudessem ter as mesmas oportunidades e não é apenas vitimismo. Chegar ao topo é difícil, a não ser quando não se acaba na marginalidade, as pessoas são mortas, como Genivaldo.
E dados respondem
A maior parte da evasão escolar, portanto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vem de pessoas de pele preta. Apenas centenas conseguem, todavia, chegar a faculdade, ainda tendo que sofrer mais bullying. Matéria publicada na BBC, em 2018, mostra que os estudantes da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Além disso, na reportagem, traz um depoimento de uma estudante de cinema falando do sentimento de não pertencer o lugar. Ainda dizia que sempre a abordavam para pedir informações da bolsa, sendo que era aluna que pagava mensalidade regularmente.
Qual é a solução?
A solução é continuar com o programa de cotas universitárias para as pessoas negras. Outra opção é criar programas de incentivos para a entrada de pessoas mais pobres. Além disso, desenvolver métodos para reduzirem a evasão escolar. O IBGE, recentemente, apontou o crescimento de negros em universidades públicas e isto ajuda a pessoas inserirem em mercados de trabalho para atividades além do funcional.
Mas, o mercado precisa colabora, visto que dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), indica que apenas dois de cada dez profissionais em cargos de liderança em empresas privadas eram negros, em 2018.
Quanto mais empresas criar políticas, mais a rápido a redução dessa desigualdade. Não queremos mais Genivaldo de Jesus sendo asfixiado numa câmara de gás de improviso.
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