Pesquisando na internet, eu achei uma nota sobre uma viagem da Xuxa para a capital potiguar. O ano era 1984 e ainda era famosa por apenas ser modelo e namorada do jogador Pelé. No entanto, ela virou notícia apenas pelo fato de ter tirado a parte de cima do biquíni, deixando os natalenses chocados.
O fato foi anunciado pela coluna do jornalista Paulo Macedo, no qual foi retirado o seguinte trecho:
“Desde ontem que os hóspedes e frequentadores do Hotel Internacional dos Reis Magos estão apreciando um fato inédito ali. É a manequim Xuxa na piscina do hotel, em topless. A direção do Reis Magos está gostando do comercial gratuito”, disse Paulo Macêdo em sua coluna social.
Em 1984, Xuxa ainda era contratada pela TV Manchete e apresentava um programa infantil. Somente em 1986 que começou a trabalhar na Globo e virou fenômeno.
Mas, no período que a artista desnudou a parte de cima do biquíni, a sociedade brasileira estava questionando fervorosamente sobre o ato, se seria ético ou não tirar a parte de cima na praia ou beira da piscina.
A Escola de Samba Malandros do Samba foi desclassificada em 1984 por uma passista ficar de topless
A passista Maria Célia Borges dos Santos, conhecida como Xéu, desfilou na Avenida Presidente Bandeira com os seios de fora, chamando a atenção das 20 mil pessoas presentes. No entanto, os jurados desclassificaram a escola por conta do ato da jovem que tinha 20 anos.
“Quando vi todo aquele povão me aplaudindo, com os olhos grudados em mim, me senti como uma deusa flutuando na passarela. Foi a emoção mais lida que vivi na minha vida”, disse.
Topless sempre foi tabu
O topless em Natal e no Brasil virou um ponto de discussão nos anos 80. E, volta e meia, retornam os debates sobre a liberação da prática no Brasil. Se você pesquisar os vídeos dos antigos carnavais, verá que esta prática era comum não só nos desfiles de Escola de Samba, como também nos bailes.
É bastante comum falar em topless quando uma mulher está na praia ou à beira de uma piscina, geralmente com o objetivo de fazer bronzeamento nas partes comumente cobertas pelo biquíni. Além disso, algumas culturas tradicionais, tais como os índios da América Central e do Sul, e também alguns povos da África e da Oceania, não estigmatizam o topless entre as mulheres, sendo visto como uma prática normal.
No Brasil, a prática muitas vezes provoca estranhamento, contrariando o clichê que apresenta o país como terra da liberdade de comportamento. Embora a lei brasileira proíba o chamado ultraje público ao pudor, segundo o Código Penal, não especifica quais condutas poderiam ser interpretadas como obscenas, não distinguindo, por exemplo, o topless e o uso de biquínis curtos, tão frequentes em praias brasileiras.
Questionamento do topless em Natal
Na década de 70, o Poti, um jornal que circulava aos domingos, questionava o tamanho dos biquínis das mulheres, que estavam cada vez menores. Além disso, a reportagem soava mensagens machistas, como: “Os estreitos cordões que prendem os sutiãs pelo risco que correm de ser desatados pelas ondas são uma atração a parte.”. E previa o ato de não usar a parte de cima do biquíni em anos posteriores.
Nos anos 80, a prática do topless em Natal causou polêmica no carnaval, visto que alguns bailes natalenses chegaram a proibir o ato. Inicialmente, via o topless como algo que estava na moda e também era uma tendência na moda-praia, mesmo que o Brasil estava numa Ditadura Militar.
Em fevereiro de 80, o assunto voltou a ser debate. O jornalista Cassiano Arruda Câmara comentou a ação de José Agripino em fornecer opções de lazer na orla a noite e criticara a oposição, usando o topless como argumento. “Para alguns, à primeira vista, a iniciativa sobre parecer talvez inconscientemente, representa, em termos de Natal, um avanço de costumes, que não teria mais ressonância. Vamos convir que não se justifica essa atitude de descrente surpresa. Numa cidade, que de repente desperta como as demais, para o uso (ou prática?) do topless, como não se admitir que haverá adeptos, e muitos, para a prática esportiva a noite?”, disse.
Bailes proibindo topless
Com o aumento da prática de topless em Natal nos últimos carnavais, os governantes e organizadores ficaram preocupados com o aumento do ato durante a festa. Por isso, colocaram em suas regras a proibição do ato.
Em 1981, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu o ato de topless, por conta de um habeas corpus numa modelo carioca. Ela tentou fazer nas praias cariocas. Assim, adicionando no artigo 233 do Código Penal. Posteriormente, o Palácio dos Esportes e o América proibiram a prática do topless em seus bailes.
Todavia, a prática de topless pode vir a ser punida legalmente, dependendo do caso, por ofender a convenção social já estabelecida, fazendo com que a conduta seja interpretada como obscena, portanto enquadrando-se no tipo penal previsto na legislação e sendo passível de proibição.
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