Querida Quarentena…
Eu estou com ódio da sua cara, quero encher a sua cara de porrada e ainda arrancar a cabeça de quem inventou doenças virais. Não vou mentir para agradar.
Tenho mais raiva pelo fato da senhora não conseguir colocar os velhos e os bolsominions para dentro de casa.
Se depender deles a gente só sai no Dia das Crianças… Ódio disso!
Ainda eles enviam Fake News e o presidente não se ajuda, acha que é só uma inocente gripezinha.
Me angustia a sua demora, pois eu sei que muita gente irá morrer por conta do Coronavírus.
O que era para ser uma simples questão de saúde, virou coisa de comunista ficar em casa. Além disso, muitas pessoas querem o dinheiro acima das pessoas. Sem contar que os serviços essenciais estão com muito trabalho de enterrar entes queridos, fornecer dinheiro para aqueles que precisam sacar o salário ou vender mantimentos para proteger as pessoas. Isso me lembra que as pessoas estão desunidas, tristes e saudades de abraços.
Saudades do Carnaval
Querida Quarentena, me lembrei do carnaval, a última vez que tive abraços quentinhos e confortáveis.
Se eu soubesse que o carnaval seria a minha última festa, eu teria sido mais ousada do que já fui, teria curtido as festas até o amanhecer e, no entanto, ter aproveitado melhor as festas de Pium.
Teria colocado mais projetos na mesa e ainda arriscaria de insistir mais para Ana Clara ter ido para aquele show do Joseph Little Drop e ter comido uma pizza gostosa.
Também teria enchido mais o saco de sair com aquelas pessoas que não estou saindo, dizer o carinho que eu sinto, agradecer a participação de algumas na minha vida…
…Ou ir pertubar Ayrton, Maluz e Scott indo na casa deles só para rir e filosofar sobre escritores potiguares.
Queria estar no Mate tomado toda quinta-feira depois da terapia no Centro de Natal e no fim ir para aula na UFRN.
A Ribeira faz uma falta tremenda, porque é na região central da cidade que consigo colocar as minhas melhores histórias.
Poderia falar das bocas que poderia ter beijado, dos abraços que não realizei, dos carinhos que queria fornecer e gostaria de receber.
Ás vezes me sinto perdida nos meus pensamentos, do que eu podia fazer mais e agir mais.
Saudades de explorar o mundo lá fora
Choro com medo de não acabar morta ou doente e que perderei entes queridos por um inimigo que só consigo ver em um microscópio. Morro de medo quando alguém daqui de casa vai ao simples supermercado e corremos para esterelizar tudo. O contato face a face virou um perigo e não sei mais conversar com as pessoas.
A quarentena roubou minha alegria de sair de casa para desbravar o mundo.
Mas, por todo lado que você seja uma filha da puta. Estou sabendo separar quem está do meu lado nessa trincheira que não sabemos qual é.
Estou mais próxima do pessoal daqui de casa, mato a saudades das pessoas pelas redes sociais e ainda estou conseguindo trabalhar aqui em casa, onde me sinto mais segura nos últimos dias. Além disso, eu estou aproveitando para cuidar de mim, separar algumas vaidades desnecessárias, aprender coisas novas não somente as profissionais e saber como aproveitar a vida em uma caixa, no qual estou falando da minha casa.
Não quero me depender emocionalmente da quarentena
Antes que esqueça, senhora Quarentena, obrigada por mostrar que embora more há quase 20 anos numa mesma casa, eu ainda não a descobri por completo e que posso sim ficar em casa tranquila, aproveitar as coisas que tenho.
Ainda consigo brechar através dos livros, monografias e histórias deixadas pela internet, porém o mundo real tem histórias que ainda não estão indexadas no Google para poder conhecê-las.
Por favor, embora que eu e você tenhamos uma boa relação, quero que você vá embora para poder abraçar quem merece meu abraço. Senão, nosso relacionamento será abusivo e não posso depender emocionalmente de você.
Querida Quarentena, por favor, conscientize as pessoas a se protegerem e ficarem em casa.
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