Você está rodando o Nordeste e divulgando “Na Casamata de Si” e queria saber como foi o seu processo literário ?
Ano passado eu participei de um edital e queria voltar a produzir algo. Então, eu criei um conceito e uma ideia e enviei 20 páginas para a organização, defendi minhas ideias e estudos para que o livro fosse aprovado. Deu certo. Então, eu resolvi fazer mais 60 páginas e colocamos coisas editoriais para chegar 100 páginas. Dessas 60 páginas, 40 foram criadas neste ano, mais precisamente no primeiro semestre, fazendo com que a obra tivesse uma coesão. É um livro que tem uma coesão temática, de margens e conceitos e os poemas conseguem ser próximos entre si, desenvolvendo um diálogo. Fala sobre o mundo de hoje em dia, que apresenta um poema neste mundo totalmente fragmentado, despersonalizador e massacra a gente diariamente na luta entre sobreviver e fazer arte. Além disso, mostra sua crítica desse mundo, fala do golpe de 2016 (Impeachment de Dilma Rousseff), momentos de terror, amar nos tempos de Guerra e todas essas tretas que observamos na internet.
Como mudar essa onda de pessimismo causado para as eleições?
As pessoas estão muito pessimistas, mas gosto de lembrar que depois da guerra sempre vem a bonança. Por isso procuro fornecer um otimismo nas poesias, porque precisamos nos manter firmes. Embora apresente este ser humano mastigado, fatiado e comprimido, eu ainda tento apresentar uma esperança no final. É uma forma minha de dizer: “Não se joguem no edifício, pois estamos aqui juntos e vamos resistir”.
E aqui nessa tour no Nordeste, você analisou se o pessoal está mais pessimista ou otimista ?
Todo mundo que tem esse pensamento progressista e liberal está com medo, pois não sabemos o dia de amanhã, onde vai lapidar os nossos direitos e ficar de olho nas perdas das camadas de democracia. Nos últimos 15 anos, as camadas populares receberam muitas dessas camadas de democracia a partir de políticas de acesso à educação, emprego e moradia e elas podem perder a qualquer momento. Então, nós precisamos é ficar atentos. Não deixar o lobby armamentista vencer, evitar as mudanças policiais que estão planejando, oficializar a bárbarie e não perder os direitos fundamentais a Constituição Federal.
Antes de começar a entrevista, estavamos discutindo sobre se armar para luta. Afinal, o livro é uma forma de se armar para a resistência ?
Acho que sem querer o livro se transformou em uma armadura, embora tivesse procurando algo para me proteger. Na hora de escolher o título, vi que havia muitos poemas bélicos e já estava se formando dentro da minha poesia. Escrevi com um pensamento muito ligado ao antifacismo e estava com consciência das tensões que rolam. A minha história de literatura é de guerrilha, já sou classificado como poeta guerrilheiro há muito tempo. Sempre penso em como ocupar os espaços utilizando a poesia e manter contatos com pessoas, independente se é ligado pela poesia ou não. Cresci ouvindo falando que poesia não vende, mas foi desta forma que consegui vender sete mil livros. O problema que ninguém se dispõe a vender. Nas livrarias, por exemplo, os livros de poemas são colcoados escondidos na estante e se tiver clássicos brasileiros, ótimo.
Vamos ver aqui na livraria aonde estão os livros de poesia. Na nossa frente, por exemplo, está José Saramargo.
A gente quase não olha um escritor brasileiro contemporâneo, daqui da mesa consegui ver apenas Cristovão Tezza. O mercado brasileiro não pensa em formar público, apenas para a produção best-seller. As pessoas querem jogar apenas no modo easy. Agora que a estrutura está rompendo, o sistema quer que a literatura alternativa salve as livrarias e editoras, mas sempre cagaram, falando no bom português mesmo, nas nossas cabeças e já cansei de contar quantas vezes os mesmos disseram não para nós dizendo que “a gente não rende”. Um maior exemplo de que o jogo está virando é o Prêmio Jabuti fornecer o título de livro do ano para produção independente. É importante ficar de olho nessas mudanças, tanto que os maiores autores brasileiros estão migrando para as editoras menores, principalmente por ter mais liberade e respeito ao trabalho. Hoje não é mais vontade em trabalhar com empresa grande.
Tem algum poeta potiguar que você gosta?
Gosto muito do trabalho de Regina Azevedo, Gonzaga Neto, Ruy Rocha, Carito Cavalcanti e adoro o trabalho de Carlos Gurgel. O que mais gosto de viajar é conhecer o movimento dos poetas de cada estado e construir essa rede de relacionamentos.
Assunto nada a ver, tudo bem. Mas você que tem tatuagem em Black Work, você deveria era tatuar com Lucas Gurgel, o filho de Carlos, que tem um trampo massa nessa área e trabalha em SP. Depois passo o contato.
Nossa, eu não sabia que ele tinha um filho tatuador, interessante demais.
Para terminar, o que esperar nesses quatros anos de alegria?
Espero que os poetas que continuemos com o papel de crítica e continuemos na nossa função de mobilizar pela preservação da democracia brasileira. Os poetas tem que tomar a coisa que é pública, ocupando todo o espaço possível e ir para as ruas, maior espaço de confrontamento. A gente criou uma república virtual, mas precisamos estender mais espaços. A bolha virtual precisa ser furada é colocando lambe na parede, estampar poema nas vestimentas, vender um zine e quando está na rua você abre os olhos para aquilo que comunente não vemos, conversamos com aqueles que estão na nossa bolha ou não. A rua sempre me deu essa perspectiva, de estabelecer vínculo com pessoas. Precisamos ir se aventurar mais.
Tem algum momento divulgando poesia na rua que te marcou mais ? (Nota: Esta foi a última pergunta, eu juro)
Foram vários momentos marcantes, foi na rua que tive contato com pessoas e fiz amizades, como o Rodrigo Círiaco, que divulgou o acontecido no Flip em seu blog, até hoje frquento os seus projetos. Teve uma senhora que veio até mim chorando enquanto lia meu poema na faculdade ou gente elogiando e dizendo que fez sarau com meus poemas. As pessoas te dão um feedback vivo na rua e isso é muito legal, a gente não ver isso entre os críticos literários. A literatura e a poesia é um direito e quero divulgar a poesia para aqueles que não tiveram acesso ao Charles Baudelarie e outros estudiosos. Não posso negar poesia à essas pessoas.
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