Pelo menos um grupo dentro da Universidade Federal do RN (UFRN) quer para aqueles que vivem sem uma casa através do projeto “Descartáveis urbanos ou cidadãos de direitos?”, para alguns isso deveria ser uma ideia utópica de estudantes de Ciências Sociais. Mas a ideia, que existe desde 2015, é coordenada por Maria Teresa Lisboa e Ana Karenina de Melo, professoras do Departamento de Psicologia. É resultado de trabalhos que vinham sendo desenvolvidos pelas professoras e por outros profissionais, vinculados ao Centro de Referência em Direitos Humanos (CDRH), no atendimento às demandas dessa parcela da população.
Os dados foram retirados no boletim da Agecom, agência de comunicação da UFRN.
Esse trabalho começou com o CDRH, em 2012, que era um programa financiado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Ele perdeu o financiamento em 2016 e continuamos como esse projeto de extensão da Universidade vinculado apenas aos professores. Recentemente, o CDRH voltou ao campus universitário, próximo do setor de aulas II, sob o nome de Marcos Dionísio, homenagem ao grande militante da área.
Referência, Marcos Dionísio foi presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania do RN. A unidade funcionará no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) da UFRN, com psicólogo, assistente social e advogado, prestando assistência com o apoio de nove estagiários.
Autora da emenda parlamentar destinada ao funcionamento do CRDH, a senadora da República Fátima Bezerra, destacou que a atuação do centro é uma forma também de desmistificar uma interpretação incorreta que muitas pessoas têm a respeito dos direitos humanos. Sobre a homenagem, ela afirmou que tem um significado adicional.
O projeto está na sua quarta edição e tem articulado estudantes de cursos como psicologia, administração, serviço social e direito. As ações acontecem em conjunto com membros do Movimento da População de Rua do Rio Grande do Norte, conhecido como Pop Rua.
Dentre as atividades promovidas estão: Assessoria nas reuniões semanais do movimento; Oficinas de educação, arte e cidadania; Seminários temáticos sobre perfis específicos dessa população, como mulheres e LGBTs; Formação de lideranças dentro do movimento e Assessoria às equipes que atuam no Consultório na Rua da Rede de atenção básica. Além disso, o projeto fornece alimento e banho para aqueles que estão dias sem tomar banho.
Para a professora Maria Teresa, “São ações que acontecem na medida em que surgem demandas do próprio movimento e nós vemos no que podemos mais colaborar. Sempre nas reuniões discutimos os problemas e como pressionar o estado na elaboração de políticas públicas. O que eu vejo de positivo nesse processo é o seu fortalecimento, a formação de lideranças e, também, a formação dos estudantes para trabalhar com populações vulneráveis”.
O projeto Descartáveis Urbanos possui várias frentes de trabalho e toda elas acontecem na intenção de aliar atividades de pesquisa com ações de intervenção, ou seja, na medida em que se estuda o perfil da população de rua e as suas demandas, ela recebe orientação sobre as formas mais apropriadas de atendê-las e se mobilizar a respeito.
Um exemplo de intervenção do projeto foi na solução de um problema relacionado a uma pauta nacional do movimento: o afastamento compulsório de mães em situação de vulnerabilidade social de seus filhos.
Uma questão recorrente nas pesquisas relacionadas a pessoas em situação de rua é explicar o problema apresentando as seguintes causas: rompimento do vínculo familiar, o uso de álcool e outras drogas e o desemprego. Porém, ao se deparar com a história de vida dessas pessoas é perceptível que apontar uma causa específica para justificar a situação de rua, é uma forma de negar a complexidade de cada história, negligenciando aspectos como o contexto social e a singularidade das pessoas.
Para Anna Carolina, uma das colaboradoras do projeto, a experiência de colaborar com o projeto e lidar com pessoas com histórias diferentes tem sido motivadora “Acho que uma das coisas mais emocionantes de trabalhar com eles é que, mesmo com todas as dificuldades que existem, cada um tem a sua singularidade e, ainda sim, eles conseguem se unir e produzir algo para o coletivo. Eles me inspiram todo dia”, revela.
Dentro do projeto, surgiu alguns coletivos de rua, como o Movimento da População de Rua do Rio Grande do Norte (Pop Rua RN) começou a ser articulado em 2012, mediante ações do Centro de Referência em Direitos Humanos (CDRH) voltadas para a conscientização dos problemas que envolvem a população e dando suporte para mobilizações.
Segundo Vanilson Torres, coordenador local do movimento, a pauta central atualmente é moradia digna, pois a partir dessa conquista, outras políticas públicas se tornam mais acessíveis. “Existe uma diferença entre moradia e moradia digna. Quando falamos em moradia digna nos referimos a toda uma estrutura que uma família precisa como uma escola, posto de saúde, transporte público e saneamento. A moradia comum é um lugar distante sem acesso a essas coisas”, ressalta.
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