A Semana está chegando e vamos polemizar falando de religião. Fui criada numa família cristã e não estou falando apenas do Protestanismo. Meus pais me criaram como uma católica, no qual eu fui batizada e recebi a primeira comunhão. Por opção, eu escolhi não fazer a crisma. Minha avó materna, por sua vez, é evangélica. Então, no meio desta dualidade, que assola a minha vida por anos sempre me ajudou a ter auto-crítica, principalmente ao ouvir coisas que eu achava nada demais era um pecado gigantesco, como usar um short, enquanto as pessoas estavam morrendo nas calçadas e no interior por fome (Quem viveu nos anos 90 sabe muito bem dos noticiários sobre a fome no Sertão por conta da seca) e na Bíblia enfatiza bastante a importância de ajudar aos pobres.
Já perdi a conta de quantas vezes meus parentes evangélicos e católicos votarem em certas pessoas apenas por ser da Igreja, dizendo que vai representar a comunidade e na verdade se beneficia. Ou fica utilizando o poder público para criar discursos de ódio. Qual a diferença entre discurso de ódio e opinião?
A liberdade de expressão é um direito garantido pela Constituição Federal, desde que não ferindo direito legítimo de terceiros. No Direito, também existe o termo “Pensamento Manifestado” que é justamente aquele submetido a lei. Ou seja, a partir do momento que você torna externo (escreve, fala ou gesticula, por exemplo) alguma opinião, naquele momento, ela passa a se submeter a especialidade da lei e, ferindo o direito legítimo de alguém, você pode responder pela sua declaração. Portanto, a liberdade de expressão prevê também o respeito a integridade de terceiros.
Dessa forma, é sempre bom tomarmos cuidado com o que falamos, também na rede, porque você até tem o direito de ser preconceituoso, por exemplo, mas, externar isso de forma que agrida alguém é crime.
Cresci ouvindo frases, como: “Isso não é coisa de Deus” e sempre questionava o porquê, no qual muitas vezes era respondida como a Bíblia diz ou o pastor disse.
Recentemente, a Igreja Evangélica, principalmente os neopentecostais estão dominando as televisões abertas, principalmente de madrugada e horários nobres. Ou seja, dominando a mídia. Ao invés de evangelizar e ensinar a propagar o bem, como Jesus Cristo ensinou aos 12 apóstolos, esses deixam a situação que o país está passando com eternos discursos de ódio, estimulando a perseguição aos gays, comunistas, religiões de matrizes africanas e fazendo com que a gente passasse numa nova Inquisição, algo que eles sofreram muito quando foram perseguidos e torturados pela Igreja Católica.
Afinal, o que seria coisa de Deus? A Bíblia é cheia de nuances e interpretação. Embora conta a história da humanidade, como Egito, Mesopotâmia e dentre outros povos, o livro considerado sagrado para alguns mostra a evolução da humanidade e as mudanças que a sociedade passou por anos. Então, você não pode impor algo que aconteceu há mais de cinco mil anos. A vida muda.
A mesma, que foi muito ruim com a humanidade no passado, está dando uma reviravolta, criando discursos de amor e de acolhimento as pessoas, principalmente após o pontificado do Papa Francisco. No século XX, o Catolicismo passou por mudanças bruscas, como o Concílio de Vaticano II, onde as igrejas deixaram de ser apresentadas em latim e uma tentativa de modernização.
Apesar disso, na década de 60, boa parte da Igreja Católica apoiou a Marcha com Deus Pela Liberdade, no qual foi o manifesto que ajudou a impulsionar o Golpe Militar em abril de 1964. Porém, as boas marcas para o catolicismo de Dom Hélder Câmara. Recentemente, a Igreja Católica não apoiará candidatos à Presidência da República que promovam a violência e preguem soluções que possam acirrar ainda mais conflitos no Brasil. Isto foi anunciado durante a Conferência Nacional dos Bispos, que aconteceu na quarta-feira de cinzas.
Seguindo por uma gestão mais progressista, o cardeal Sérgio da Rocha lamenta o discurso de ódio e “não substituirá a consciência dos eleitores, mas ajudando a forma consciência. Querendo candidatos comprometidos com a justiça a social e a paz.”. Além disso, declarou que não apoiará nenhum candidato que utiliza apologia ao discurso de ódio à sua campanha, no qual alguns pré-candidatos e alguns deputados federais do Brasil.
Essa campanha de acabar com o fim do discurso de ódio também está na campanha da fraternidade, no qual o tema deste ano é: “Todos somos irmãos”. O objetivo é de dizimar o discurso de ódio e amenizar a segurança pública, como o fim das mortes de jovens negros, as maiores vítimas do crescimento da violência urbana, e trabalho escravos.
Ao contrário da década de 60, a Igreja Católica está acompanhando os conselhos do Papa Francisco com o discurso de menos ódio e mais amor, cada vez mais seguindo a laicidade do estado, mas sem deixar a sua importância como comunidade. Ao contrário da Igreja Evangélica que estimula o combate ao crime de forma mais intensa e apoiando medidas perigosas, como o porte de arma aos civis.
Essa contradição de pensamentos entre o cristianismo mostra que a religião precisa ser mais plural, mas ao mesmo tempo tem que entender que a Igreja faz parte da sociedade e não a líder de uma sociedade, como era proposto na Idade Média. Ao invés de entrar na política para garantir os próprios bolsos em nome de um discurso que eles dizem que está na Bíblia, a Igreja Evangélica e outros órgãos religiosos deveriam ter o papel mais de orientador dos seus seguidores e não de manipular uma sociedade em seu benefício próprio.
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