Escutando o show de Carne Doce nesta quarta-feira de cinzas (14), eu tive um rápido devaneio e fiquei analisando a folia de momo neste ano com o nome da banda. Os canibais afirmam que a carne humana é doce. A gente, no entanto, não precisa literalmente provar para saber que a atração dos corpos é tão irresistível quanto um pedaço de glicose. Deixe isso para o Hannibal. No carnaval, todavia, podemos experimentar vários corpos, fazer as minhas fantasias e ter tido a coragem de ser o que quisesse, sem contar que tive vários companheiros de aventuras para isso. Tudo estava mais doce, divino e maravilhoso.
O Carnaval 2018 foi diferente. Em todos os sentidos. Foi um dos poucos anos que pude sair nos quatro dias de folia e mais uma vez passei por várias descobertas, experimentos e descobrindo novos gostos da vida. Além disso, eu finalmente deixei de lado aquele pensamento que roqueiro e alternativo não podia dançar ou cantar em plenos pulmões o “meu balancê, balancê”.
Natal conseguiu mostrar que consegue fazer uma boa festa como outras cidades tradicionais do Nordeste, unindo pequenas tradições e abrindo espaço para as novidades.
Foi neste carnaval que conheci novas pessoas e as novas faces de antigos conhecidos. Enquanto isso, eu pude ter momentos novos com aqueles antigos amigos e olhar que ainda podemos ter alegrias e novidades.
Também o carnaval tive o momento de sair com meus pais para gandaia e ser confortável para ambas as partes, mesmo vendo um Largo do Atheneu lotado e asssitir o show de Carlinhos Brown no primeiro dia de carnaval (quinta-feira) através de um telão e sair correndo da chuva, mas sem deixar de tirar foto de fantasias criativas, como a galera que veio com os personagens da série “La Casa de Papel”, meu novo vício promovido pela Netflix. Isso também repetiu com o show do Paralamas do Sucesso, na sexta-feira na Praça do Gringo’s, sendo que nem no telão consegui ver, porém dancei e cantei embaixo de uma chuva torrencial.
Sábado deixei de lado o Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens e resolvi conhecer o Submarino Amarelo, no Largo do Atheneu, onde o nome dá para suspeitar que é uma homenagem aos Beatles. Era bastante animado e encantou desde as crianças aos mais velhos. Dos roqueiros aos micareteiros.
Domingo foi dia de dançar música pernambucana com a Academia de Berlinda no Bloco da Greiosa, que lotou o bairro de Petrópolis, preenchendo aquele vazio daqueles que não tiveram grana suficiente para pular no carnaval de Olinda (PE). Foi divertido, embora tenha ficado com as pernas doloridas de tanto dançar, brigado via Instagram e ter tido crise de gastrite por beber demais cerveja, mas nada como o amigo Pantoprazol para te ajudar nestes momentos difíceis. Queria Academia de Berlinda por mais 40 horas.
Segunda-feira foi dia de Monobloco, onde estava mais lotado que o Hallloween do Gringo’s. Se eu tirasse o pé, uma outra pessoa ocupava o espaço. Então, muitos resolveram criar um próprio camarote: Praça do Disco Voador, onde ficamos sentados na pista de skate e ouvimos as músicas ao longe. Isto não quis dizer que o rolé foi ruim. Além disso, algumas pessoas resolveram aproveitar para protestar contra a reforma da Previdência e dentre outros problemas políticos.
Para fechar com chave de ouro este carnaval, na verdade de lama, foi a ida novamente ao Bloco dos Cão. A origem conta que pescadores nativos do bairro queriam brincar de carnaval, mas não tinham dinheiro para comprar fantasia ou contratar uma banda. Então, eles resolveram utilizar a lama do mangue como vestimentas e desfilar nas ruas do bairro deste jeito. Diferente da primeira vez, falada aqui no blog, eu fui como foliã e foi uma experiência única, um senhora saída da zona de conforto.
Eram nove horas quando parei na Praia da Redinha e fui em direção ao manguezal embaixo da Ponte Newton Navarro. Rapidamente, encontrava o mar de gente que estava no mesmo objetivo: se melar de lama para curtir o último dia de carnaval. A galera ajudava os ouros a se melar de lama que não tem o melhor dos cheiros e a trilha sonora era alternando entre Grafith, Jojo Todynho e Mc Loma. Isso não era ruim. Pelo contrário, mostrava a característica única do bloco. Se você não entrasse na onda, você não iria aproveitar e voltaria para casa reclamando.
Eu, por exemplo, entrei com tudo no mangue e melei mais que podia, também ajudei a rapaziada. Para sair do mangue foi mais difícil, parecia que estava presa em uma areia movediça, contudo, após muita reza consegui sair. Ficamos duas horas se melando, até ficar andando em direção as ruas da Redinha ao som dos paredões que enfeitavam o bloco e atiçando a curiosidade da vizinhança, banhistas e foliões de outros blocos. Lembre-se de quem quiser ir ao bloco, leve filtro solar, roupa velha e chinelo para poder andar nas ruas no maior conforto. A lama foi difícil de retirar, assim como a memória de participar dos Cão, muito bom presenciar algo que é genuinamente natalense.
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