O Auto da Catingueira é uma ópera nordestina, lançada como disco nos anos 80, de autoria de Elomar Figueira Mello (também conhecido apenas pelo primeiro nome). Por isso, a ideia de fazer um quadrinho baseado nesta ópera não demoraria muito a aparecer. O quadrinista potiguar Marcos Guerra está realizando a empreitada junto com Edinara Medeiros.
Neste ano, ele está muito inspirado com elementos nordestinos, visto que lançou, com Carlos Alberto e Marcos Garcia, uma versão do ataque de Lampião à Mossoró, que levara o título “Lampião na Terra dos Santos Valentes”.
Até o momento, a campanha feita através do site Catarse (financiamento coletivo) conseguiu arrecadar 14% da meta. Faltam 82 dias para que eles possam conseguir angariar 11 mil reais para a produção do quadrinho. Guerra afirmou que está fornecendo “toda a sua fé” neste trabalho. Estimativa é que fique pronta no final deste ano.
“O Auto da Catingueira, em si, é um disco já mítico pelo nível seu nível de raridade. Porém, como vários de seus Cantos (ele se divide em uma introdução, seguida de vários Cantos) figuram em outros álbuns do autor, eu fui assimilando-o aos poucos, meio que a desconfiar de como seria seu todo. O contato só finalmente se deu quando, saí pedindo emprestado o disco aos poucos amigos que o possuía. Muitos teriam incorrido ao uso de MP3 e variáveis de Internet apenas, mas o belo projeto gráfico do disco, mais suas artes e informações internas, valem a pena de serem conferidas”, comentou Marcos Guerra.
A história contada pelo narrador, o Cego Cantador, é a da vida de Dassanta, uma mulher mais bela que a própria morte e que talvez fosse a própria caatinga encarnada. Será contada desde o nascimento, suas aventuras sobrenaturais, até o derradeiro dia de sua vida, que culmina com o terrível combate entre os violeiros apaixonados, Chico das Chagas e o Cantador do Norte.
O material final possuirá cerca de 150 páginas, com o texto integral do disco original, com capa e contra-capa coloridas.
Ao ser questionado se Elomar apoia a empreitada de transformar a sua obra em quadrinho, Marcos Guerra prontamente respondeu: “Eu lhe apresentei a ideia, que ele abraçou de imediato. Incentivou-me, inclusive, a adaptar outro de seus trabalhos”, comemorou. Elomar acompanhará todo o processo de produção do trabalho, página por página, juntamente com a produtora do músico, Rossane Nascimento.
“É uma honra, evidente, mas também uma imensa responsabilidade”, admitiu o Guerra.
Não é a primeira vez que ele usa o Catarse, visto que utilizou para auxiliar na elaboração do “Ametisto”, quadrinho do selo K-Ótica (no qual é um dos fundadores), inspirado nos anos 70 e futurismo. “O Catarse foi minha primeira experiência com projetos de financiamento coletivo, por isso já me sentia à vontade com alguns pontos do site, o que me facilitou a escolha. A campanha começou no dia 17 de julho, e tem se saído bem, acima das expectativas, por sinal”, afirmou.
O que serão feitos com os 11 mil reais? Serão voltados inteiramente à impressão, pagamento do catarse, enviar as recompensas para os apoiadores e investir na circulação do produto. Tem recompensas se ajudar? Sim e o vídeo a seguir mostrarão quais são:
https://youtu.be/0_lHO4vEBAU
Para saber mais do projeto acesse este link.
Entretanto, os planos de Marcos Guerra não param por aí, visto que ele possui vários projetos inacabados. “Desejo muito terminar “Titanocracia”, uma história de ficção meio esotérica meio científica, iniciada em 2011, e em pausa desde então. Mas tenho dois projetos a mais, provavelmente para o próximo ano. A ficção vitoriana “Augusto Severo e a Segunda Lua”, a ser desenhada por Gabriel Dantas, que assina também meu “Romance Sonâmbulo,” e “A Tribo dos nomes”, uma saga onde construo o cenário de um Império Indígena no Brasil, cuja capital era o que hoje temos como Natal”.
Sobre Elomar Figueira Mello
Elomar nasceu na Vitória da Conquista, no interior da Bahia. Seus tempos vivendo na Fazenda São Joaquim lhe ajudou a inspirar nas suas músicas. Estudou entre o sertão e a capital e mais tarde, no final da década de 1960, formou-se em Arquitetura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Teve também uma passagem rápida pela Escola de Música dessa mesma Universidade. Até hoje, ele vive maior parte do seu tempo em fazendas.
Elomar tornou-se historiador de seu povo e sua crença. Passou a cantar a caatinga e o sertanejo. Compôs 11 óperas, 11 antífonas, quatro galopes estradeiros, um concerto de violão e orquestra, um concerto para piano e orquestra, um pequeno concerto para sax alto e piano, uma sinfonia, 12 peças para violão-solo e um cancioneiro de oitenta canções, a maioria já gravada.
Suas músicas ficaram conhecidas na década de 70 e os seus discos são raríssimos. O cantor raramente fornece entrevista. Tem passado grande parte da vida cuidando dos seus animais, balizando cercas, montando cancelas. E, sempre, compondo.
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