A noite de quarta-feira (19) foi marcada por uma reunião de mulheres que queriam debater o seguinte assunto: violência. Nos últimos cinco meses vários casos envolvendo assassinatos, assédios e estupros contra as pessoas do gênero feminino cresceu. Juntas, elas procuraram responder o seguinte questionamento: Que medidas podemos fazer para que essas agressões diárias sejam cessadas?
Algumas participantes chegaram a admitir que os problemas do machismo são diários. As frases mais ditas eram: “Eu estou com medo de sair de casa” e “Sempre escuto um assobio ou alguém me chamando de coisas vulgares”.
Além disso, elas desabafaram a falta de preparo das delegacias em atender uma mulher. “Uma vez estava saindo da escola onde ensinava. Um carro me seguiu e anunciou o assalto. Aconteceu no bairro de Candelária. Fui realizar um BO (Boletim de Ocorrência). O delegado disse que eu andasse sempre com uma amiga do lado. Como se duas mulheres pudessem conseguir se defender. Todo dia saio da escola que ensino fico com a sensação de medo. Apesar de ter sido apenas um assalto, ele poderia me colocar no carro e me estuprar”.
Uma das críticas soltadas durante o encontro foi o horário de funcionamento da Delegacia da Mulher (DEAM), que abre apenas nos dias da semana e em horários comerciais. “Queremos um plantão de 24 horas da Delegacia da Mulher. O estuprador está solto na rua, tirando onda com a nossa cara e vai violentar a próxima mulher a qualquer momento”.
Além disso, existe apenas quatro unidades no Rio Grande do Norte, duas em Natal, uma Mossoró e uma em Caicó.
“Na Deam não podia nem entrar de short e saia, eu tive que voltar para poder trocar de roupa. Isto mostra a falta de preparo. Não existe na Deam uma psicóloga e muito menos uma assistente social”, desabafou uma jovem que foi vítima de estupro.
O encontro aconteceu na sede do Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DCE/UFRN). “Durante a nossa vida toda a gente é criada a elaborar táticas de não ser agredida sexualmente e evitar sentir medo de andar nas ruas. Isso não deveria assim”.
Várias mulheres, independente de que grupo político esteja associado, se reuniram para uma causa em comum. Recentemente, a mídia noticiou sobre os casos que aconteceram no bairro de San Vale, próximo ao Parque da Cidade, no qual um grupo abordou mulheres e as estupram. Foram registrados três casos similares. Alguns namorados/maridos chegaram a ver as suas companheiras violentadas.
De acordo com a Polícia Civil, os rapazes foram presos na manhã desta quinta-feira (20), no bairro de Felipe Camarão. Dos três presos, dois eram de menores. Também foi registrado o assassinato de cinco mulheres em um prostíbulo no município de Itajá e a morte da psicóloga, Natália Tâmara, violentada sexualmente e esfaqueada pelo vizinho em São Gonçalo do Amarante.
Apesar da felicidade de estar em uma reunião lotada de pessoas, as participantes lamentavam a falta de ação dos governantes para que mais registros criminais como esses sejam perpetuados. “Não adianta apenas pedir prisão dos estupradores, precisa criar medidas para evitar que a gente seja usada apenas como um objeto sexual”.
Elas opinaram que as pessoas querem retratar o estupro apenas com uma transa à força com um rapaz estranho, apesar de frequentemente acontecer com pessoas próximas. Quando um namorado transa mesmo que a menina tenha dito não, por exemplo, é uma violência sexual. Aqueles beijos “forçados” em Micaretas é considerado um estupro. Sem contar que muitas crianças são assediadas por parentes, como pais, padastros, tios ou amigos.
“Eu fui estuprada. A sensação que eu tive não sabia que era estupro. Quando percebi que aquela sensação ruim era um abuso sexual, eu cai em prantos“, disse uma garota que fez as outras caírem em lágrimas, após falar sobre um caso que aconteceu envolvendo um ex-ficante.
Muitas mulheres não sabem que são estupradas. Acontece desde as classes mais baixas até os milionários. Todas concordaram que os piores casos são na periferia, pois são ignorados pelos órgãos públicos.
“Queremos que os criminosos sejam presos. Mas, nós precisamos lutar para melhorias da educação. Sabemos que vivemos numa sociedade patriarcal, onde o machismo é ensinado aos nossos garotos. A escola precisa fazer medidas educativas sobre a igualdade de gênero.”.
Outros desabafos incluiram a agressão diária que as mulheres sofrem com um assobio, encochadas no transporte público, piadas sobre o gênero quando estão trabalhando ou dirigindo algum veículo.
Além da agressão sexual, as mulheres todos os dias têm que lutar pelos direitos conquistados, como licença maternidade, preferencial quando está com uma criança de colo, salário igual aos homens e dentre outras medidas. Recentemente, uma das pessoas relatou que não pode entrar com o filho bebê dentro do Restaurante Universitário e das dificuldades de conseguir uma vaga na creche da UFRN.
No final da reunião, ela decidiram criar campanhas virtuais, convocar audiências públicas e fazer mais encontros para discutir a participação feminina na sociedade.