Em Natal, o artista Dorian Gray Caldas revolucionou a arte moderna no Rio Grande do Norte tanto nas pinturas quanto tapeçaria.
O Retrato de Dorian Gray é um romance filosófico do escritor e dramaturgo Oscar Wilde. Inicia em um ensolarado dia de verão na Inglaterra da Era Vitoriana, onde Lord Henry Wotton, um homem opinativo, observa o sensível artista Basil Hallward a pintar o retrato de Dorian Gray, que é um lindo jovem.
Dorian começa a pensar que a beleza é o único aspecto da vida que vale a pena seguir, e deseja que o retrato de Basil envelheça em seu lugar. Sob a influência hedonista de Lord Henry, Dorian explora plenamente a sua sensualidade.
Em Natal, por sua vez, havia um jovem que recebeu este nome e virou um dos artistas plásticos importantes. Hoje, este é o dia de contar a sua história.
Na infância, comprava longos rolos de papel de embrulho sobre os quais se debruçava para criar e riscar. Um traço mais acertado que o outro, surpreendendo a todos desde os primeiros trabalhos.
Sua biografia
Nasceu em 16 de fevereiro de 1930 e foi um ceramista, ensaísta, escultor, gravador, poeta, tapeceiro e pintor brasileiro. Além do seu nome ter vindo como homenagem do próprio livro de Wilde, o mesmo era incentivado pelos pais e pelo tio, o pintor e retratista Moura Rabello.
Tido como um dos propulsores da modernização das artes visuais no RN, Dorian foi um artista reconhecido e premiado nacional e internacionalmente, contabilizando prêmios importantes, como a medalha de ouro, no Grand Prix da Bélgica, em 1971.
Além disso, em suas telas, revela o expressionismo através de suas pinceladas marcantes de belezas naturais, imateriais e do cotidiano da cidade e do estado. Suas obras abordam o heroísmo, a bravura e a santidade do povo de Rio Grande do Norte.

Desde então, produziu mais de 10 mil obras em pintura a óleo, gravuras, bicos de pena, desenho, painéis, tapeçarias e esculturas. Gray possui obras em instituições culturais e em coleções particulares no Brasil e no exterior. Expôs por diversas vezes em Natal, e também por todo o Brasil. No exterior, destacou-se, principalmente, na Argentina e nos Estados Unidos.
Arte como profissional
De acordo com o jornal “Nós, do RN“, o Dorian Gray Caldas foi membro de uma geração influenciada pela Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, em São Paulo. Boêmio de carteirinha, apesar de dispensar a bebida, viveu a juventude nos Anos Dourados quando os jovens iniciaram seus movimentos de contestação direta.
Dorian Gray pagava as contas com o salário de professor de Desenho do Colégio Atheneu, mesmo depois de já realizar as primeiras exposições. Sua estreia para o grande público só foi acontecer em 1950, ocasião do 1º Salão de Arte Moderna de Natal. O evento foi organizado por Dorian, Newton Navarro e Ivon Rodrigues e tinha expostas obras dos três expoentes das artes plásticas potiguares.
Dali em diante, se profissionalizou o pintor Dorian Gray que, já na década de 50, era conhecido em Natal e seguiu com o trabalho de professor de desenho.
O artista não se atinha à pintura e permeava diferentes áreas de manifestação artística. Certa vez, em passagem pela capital potiguar, o escritor e jornalista recifense Gilberto Freyre, autor do clássico “Casa Grande e Senzala”. Além disso, teve a sua disposição painéis produzidos por Dorian que enfeitaram o lançamento de um livro.
Tapetes

Nos anos de 1970, descobriu uma nova paixão: a tapeçaria. Chamava atenção a destreza com que riscava os tapetes. Esticava na parede da sala, traçava, rabiscava e pronto. Saía dali uma obra quase terminada que era revendida para o Brasil e até mesmo para fora. Depois do trabalho do artista era só bordar, trabalho que ficava com as várias costureiras que, por conseguinte, trabalhavam junto com Dorian. A elas, ele ditava as cores que cada uma das formas levaria. Já tinha tudo montado na cabeça.
O período em que atuou como tapeceiro foi o que lhe rendeu mais recursos financeiros.
Durante toda a sua carreira, Dorian Gray Caldas foi um dos artistas visuais mais ativos do Rio Grande do Norte. O reconhecimento à sua obra lhe rendeu muitas encomendas e convites para produção de peças para espaços públicos. Foram mais de 60 anos dedicados ao ofício.
Na parte política e poema
Consagrado artista potiguar, Dorian atuou como assessor da secretaria estadual da cultura do Rio Grande do Norte, entre 1967 e 1968, e da Fundação José Augusto, em 1974, e foi diretor do Teatro Alberto Maranhão, entre 1967 e 1968.
Além das telas, o mesmo foi poeta, integrou a Academia Norte-rio-grandense de Letras e registrou em “Canto Heróico”, obra literária sobre o Padre Miguelinho e os Mártires de Cunhaú. Realizou sua 1ª exposição na década de 50, quando organizou o I Salão de Arte Moderna de Natal, junto com os pintores Newton Navarro e Ivon Rodrigues.
Quantas obras?
O próprio Dorian afirmava que foram mais de 10.000 obras de Arte produzidas por ele ao longo dos anos, entre pinturas a óleo, gravuras, bicos-de-pena, desenhos, painéis, escultura, tapeçaria.
Na Praça das Mães, onde fica o antigo prédio da Ordem dos Advogados do Brasil, o painel que decora a parede principal também é obra de Dorian Gray.

O Presépio de Natal projetado por Oscar Niemeyer, em Candelária, e hoje entregue ao abandono, recebeu de Dorian Gray Caldas um grande mural de 2 metros de altura por 14 de comprimento. A pintura retrata o nascimento de Jesus Cristo.
Durante a carreira, Dorian Gray também manteve parceria com o dramaturgo, poeta, desenhista e pintor natalense Newton Navarro, a quem tinha muito respeito.
A dupla trabalhou junta em painéis bem elaborados, produzidos entre 1950 e 1970, que hoje ainda decoram as paredes de prédios públicos pela cidade, entre eles o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN).
Dorian morreu em 23 de janeiro de 2017, aos 86 anos, por complicações de uma parada cardíaca.




Deixe um comentário