
Nesta terça-feira (27), a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN) recebeu jornalistas e entidades públicas para discutir a relação entre os profissionais e a democracia. Idealizado pela deputada estadual Isolda Dantas (PT), o objetivo foi debater em como proteger os jornalistas considerados progressistas de possíveis demissões por “não pensar igual ao patrão”. O motivo foi o fato de que quase todos os administradores dos grandes veículos são admiradores do bolsonarismo.
A professora do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Decom/UFRN), Kênia Maia, esteve presente no evento e levou alguns alunos para participarem da discussão, como uma forma de proporcionar conhecimento prático sobre as dificuldades de manter uma profissão tão desafiadora.

“Isso é importante porque a gente precisa sair daquele mundo ali, onde ficamos, muitas vezes, nas mesmas discussões, e olhar para a realidade, para a história das pessoas — isso é muito significativo. É um movimento de sair um pouco do ambiente acadêmico e das relações que circulam só ali”, afirmou a professora.
Ao mencionar “realidade”, a docente se referia às recentes demissões de jornalistas na mídia tradicional. Vários profissionais, de diferentes meios de comunicação conservadores, foram demitidos por discordarem da linha editorial, por publicarem postagens elogiando o atual Governo do Estado ou por criticarem o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra.
O jornalista Bruno Barreto, que esteve dois anos na TV Ponta Negra — sob a administração de Micarla de Sousa —, saiu após participar de um quadro de debate político com Walter Fonseca, no qual criticou a gestão do prefeito mossoroense. Barreto apontou irregularidades na administração da cidade do Alto Oeste potiguar, o que teria motivado sua demissão.
“Olha, foi um debate muito rico. Um debate que merecia, inclusive, ter uma maior atenção da imprensa. Tem um ditado que ouço desde quando fazia faculdade: jornalista ganha mal e não sai de jornal. A gente tem uma autocensura de falar sobre os nossos próprios problemas. E eu acho que nós, na mídia, precisamos de apoio”, comentou Barreto, que também é editor do Blog do Barreto e sugeriu a criação de uma associação de jornalistas independentes e produtores de blogs no Rio Grande do Norte.
Vale lembrar que Micarla, quando prefeita de Natal, lhe afastaram pela Operação Assepsia, em 2012, que revelou irregularidades em contratos de terceirização dos serviços de saúde.
Falando em mídia independente, também esteve presente a editora-chefe do portal Saiba Mais, Jana Sá, que comentou sobre as dificuldades da profissão, mas ressaltou que a criação de mídias autônomas pode ser uma alternativa para garantir um trabalho mais transparente e seguro.

De acordo com a jornalista, promover esse debate significa refletir sobre as ações necessárias para que esse processo se concretize. Na avaliação dela, entre os diversos desafios existentes, dois merecem atenção especial: o primeiro é a regulação da mídia, com a democratização efetiva do setor.
“Esse é um debate importantíssimo, essencial para o Brasil. Digo que discutir o jornalismo é discutir a efetivação da democracia em nosso país. A gente precisa entender que a comunicação tem um papel central no processo de efetivação da cidadania, na construção das narrativas e da memória que fica do país”, disse Jana.
Por fim, ela questionou como transformar aquele debate, surgido no âmbito de uma ideia legislativa, em uma ação política concreta e em uma atuação institucional capaz de gerar mudanças efetivas. Além disso, encerrou destacando a importância do diálogo com a sociedade e reforçando o compromisso coletivo de seguir lutando pela democratização da comunicação no país.
Também participaram da mesa de debate na ALRN o servidor federal e jornalista Iano Flávio, o diretor do Sindicato dos Jornalistas do RN (Sindjorn), Alexandre Othon, e a jornalista Margot Ferreira. Recentemente, Ferreira foi demitida da CBN recentemente por fazer críticas à engorda da praia de Ponta Negra e por abordar pautas progressistas.
No final da assembleia na ALRN, que teve quase três horas de duração, outros jornalistas também desabafaram sobre as dificuldades da profissão e destacaram que o debate renovou, portanto, a esperança por dias melhores.
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