A reportagem da Revista Manchete na década de 60, mostra uma entrevista com o cientista Maneco Ferreira e sua luta de décadas sobre o combate a matéria. De acordo com a mesma matéria, no final da década de 1930, o Brasil enfrentou uma das mais graves ameaças à saúde pública de sua história: a chegada do mosquito Anopheles gambiae, originário da África, transmissor da malária.
A infestação teve início quando aviões pioneiros da rota Dakar-Natal trouxeram, como passageiros clandestinos, esses mosquitos, que encontraram no Nordeste brasileiro um ambiente perfeito para se proliferar.
(Foto da capa da Revista Manchete está, portanto, acima do título)
A tragédia se espalhou rapidamente. Em 1938, o mosquito já havia invadido o Ceará, com o Vale do Jaguaribe se tornando o epicentro de uma epidemia devastadora. A malária ceifava vidas em proporções inéditas, com mais de 100 mil mortes registradas em pouco tempo. Desesperados, sertanejos passaram a orar por seca, na esperança de conter a proliferação do mosquito.
Diante do caos, o Ministério da Educação e Saúde convocou o sanitarista Manuel Ferreira, conhecido como Dr. Maneco, para liderar a campanha contra o gambiae. Médico experiente e professor de higiene, Dr. Maneco chegou ao Nordeste com uma equipe reduzida, poucos recursos e uma determinação inabalável.
A estratégia de combate incluía a instalação de postos de desinfestação, onde veículos e até aviões combatiam o mosquito. Equipado com o inseticida Verde-Paris, Dr. Maneco liderou um exército de mata-mosquitos, pulverizando desde brejos até as menores poças d’água. Apesar das dificuldades, a campanha ganhou novo impulso com o apoio da Missão Rockefeller, que reconheceu o trabalho como essencial para toda a América.
Erradicação total
Finalmente, em 1942, o Brasil alcançou o impossível: a completa erradicação do Anopheles gambiae. Pela segunda vez na história mundial, uma espécie de mosquito foi eliminada.
Dr. Maneco tornou-se símbolo de resiliência e ciência aplicada. Além de sua contribuição à saúde pública, era conhecido por seu espírito criativo, dedicando-se a hobbies como carpintaria e mecânica. Sua vitória contra o gambiae é lembrada como um marco na história da saúde mundial e um exemplo de superação diante da adversidade.
“A luta foi difícil, mas o mosquito não encontrou espaço para vencer”, disse o Dr. Maneco à Manchete, resumindo a essência de seu legado.
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