Esta matéria vem explicar o porquê que o Grande Hotel fechou, símbolo da história da Segunda Guerra Mundial e da hotelaria potiguar.
Muito fácil falar do Grande Hotel durante a Segunda Guerra Mundial. Mas, poucos falam do que motivou ao seu fechamento. Entre os casarões e ruas históricas da Ribeira, em Natal, um prédio se destaca pelo seu passado grandioso e sua luta contra o esquecimento: o Grande Hotel de Natal. Afinal, por que o Grande Hotel fechou?
Antes de explicar o porquê que fechou, vamos falar primeiramente de sua trajetória. Projetado nos anos 1930 pelo arquiteto francês Georges Munier, o hotel, que já foi sinônimo de modernidade e poder, hoje carrega as marcas do tempo, do abandono e de reformas que, aos poucos, trouxeram outras finalidades.
Antes, ele já foi inclusive a casa de morada do Cornel Cascudo, pai de Luís da Câmara Cascudo. Segundo o trecho de O Poti, de 1980: “Em 1910, o Coronel Cascudo comprou uma casa em frente à Praça José da Penha, onde se ergue hoje o Grande Hotel. Em 1913, ele adquiriu a Vila Amélia, no Tirol, onde viveriam até 1932”.
Entretanto, há uma edição do de 25 de novembro de 1948, na segunda página, encontramos um interessante relato da história do Grande Hotel, onde soubemos que o governador Lamartine chegou mesmo a adquirir um terreno na Ribeira para a construção de um hotel. Mas a sua deposição, como parte dos desdobramentos da Revolução de 1930 no Rio Grande do Norte, abortou essa ideia.
Coube então ao Interventor Mário Leopoldo Pereira da Câmara a compra de um outro terreno. Este era localizado na esquina das Avenidas Duque de Caxias com Tavares de Lira, sendo fechado o negócio no dia 15 de outubro de 1935, quatorze dias antes desse político deixar o poder executivo estadual.
O novo governador Rafael Fernandes de Gurjão deu prosseguimento a esse projeto.
Naquele período, algumas empresas aéreas começaram a utilizar Natal como escala em viagens entre a Europa e a América do Sul. Portanto, a cidade precisava de um hotel moderno e amplo.
O Nascimento
Em 1935, Natal era uma cidade que começava a respirar ares de modernidade. O projeto do Grande Hotel surgiu nesse contexto, como parte de um esforço para transformar a capital potiguar em um polo de desenvolvimento. O arquiteto Munier, responsável por outras obras importantes no Nordeste, trouxe uma proposta ousada: um edifício curvilíneo, com grandes salões e quartos elegantes, numa mistura de Art Déco e modernismo, que contrastava com as construções mais tradicionais da época.
Localizado no bairro da Ribeira, então centro econômico e político da cidade, o hotel logo se tornou referência. Era o ponto de encontro de empresários, políticos e personalidades da época.
Quatro anos depois, a construção ficou pronta e foi arrendado por Theodorico Bezerra.
Durante a Segunda Guerra Mundial, quando Natal se destacou como base estratégica para os Aliados, o Grande Hotel foi palco de reuniões importantes, hospedado até o presidente americano Franklin Roosevelt e o general Dwight Eisenhower.
Se o Grande Hotel já era famoso pelo seu glamour, nos anos 1950 ganhou outro título: o de “Universidade Política do Rio Grande do Norte”, na visão do jornalista João Batista Machado para O Poti em 1987.
“À frente do hotel estava o “major” Theodorico Bezerra, uma figura influente no Partido Social Democrático (PSD) e mestre nas políticas articulares”, dizia o jornal.
Theodorico foi mencionado por Eduardo Coutinho, em seu documentário para o Globo Repórter na década de 70, como “Imperador do Sertão”. Sem contar que além do hotel, era conhecido por ser fazendeiro e comerciante.
No seu escritório, grandes nomes da política potiguar se reúnem para conversar, negociar e decidir o futuro do estado. Realmente fazia do hotel o centro do poder local. A “Política Universitária” era uma escola onde os futuros líderes aprenderam que a paciência e o diálogo eram as principais ferramentas de um bom político. E foi daí que tomaram decisões importantes para o estado.
O Declínio de Um Símbolo: Por que o Grande Hotel fechou?
A mesma reportagem de O Poti que mencionei acima fala que o declínio do hotel partiu dos anos 1960, com o enfraquecimento do PSD e a ascensão de novas forças políticas, o Grande Hotel começou a perder a sua relevância.
Já os pesquisadores Hélio Takashi Maciel de Farias e Angela Lúcia de Araújo Ferreira apontaram que o crescimento do turismo de praia em Natal deslocou o interesse para os novos hotéis à beira-mar, como o Hotel dos Reis Magos. Enquanto isso, a Ribeira, que antes pulsava como o coração da cidade, começou a ser deixada de lado.
O Diário de Natal, por sua vez, no ano de 1984 mostrava o interesse de Bezerra em devolver ao Estado, principalmente quando a rodoviária deixou de ser na Ribeira e mudou-se para a Cidade da Esperança.
Em 1987, já cansado da administração do hotel, Theodorico Bezerra decidiu fechá-lo e entregar o prédio ao governo estadual.
Algumas imagens de como era o Grande Hotel por dentro
E agora?
Hoje, o edifício que abrigou o Grande Hotel ainda resiste. Em 1991, o prédio recebeu a autorização de tombamento e faz parte do Tribunal de Justiça.
A luta pela preservação do Grande Hotel é, na verdade, uma luta para que a cidade não perca de vista suas raízes. O prédio pode estar ocupado por repartições públicas, mas a memória de suas festas, suas políticas articulares e seu papel como ponto de encontro de gerações não se esquece.
Recentemente, veio o Projeto de Lei nº 337/2024, de Adjuto Dias, propõe nomear o prédio de “Edifício Theodorico Bezerra”. Sendo assim, segundo o deputado, uma homenagem ao ex-vice-governador, reconhecido por sua contribuição ao desenvolvimento do Rio Grande do Norte.