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Malassombro Fest: Representatividade preta no hc/metal natalense

Quando pensamos em mulheres representando o rock, vem em mente as quem foram forçadas a se masculinizar ou feminilizar em um padrão estabelecidos por homens. Saiba mais no Brechando!

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A noite de domingo (8) em Natal contou com diversas atividades culturais. Para quem gostasse de heavy metal, punk e hardcore, por exemplo, havia o Malassombro Fest. Relembrando os velhos tempos de Caos Natal (entendeu o trocadilho com Carnatal ?), o evento tinha como público-alvo mostrar os talentos artísticos e musicais das pessoas que fazem a cena do underground aparecer.

Fazer o cruzamento da rua Ulisses Caldas com o Beco da Lama ficar cheio de gente já merecia palmas. Entretanto, a escolha do line-up foi de uma delicadeza e sensibilidade ímpar. Das três bandas que tinham como mulheres vocalistas (Antiadore, Terror Fúnebre e Huma), todas eram mulheres pretas e fora do padrão Tarja Turuner de vocalista. Algo raro, visto que até headbangers idealizam esse padrão nórdico de mulheres para as suas namoradas.

Como o Black Panthera falou em entrevista ao Brechando no Festival Dosol, a rapaziada está vindo aos poucos e quanto mais bandas estiverem assim, melhor. “É emocionante ver a molecada preta pegando guitarra e formando bandas. A gente sabe que esse movimento só tende a crescer”, comentaram a banda em entrevista exclusiva ao nosso site.

E antes do Black Panthera já havia gente enfrentando os grandes tubarões como Phil Lynott com o Thin Lizzy e o Living Colour, além de Chancho em Natal. Mas, quando você coloca a lupa para observar a mulherada preta na batucada, este número ainda é microscópio.

A errônea representatividade feminina

Quando pensamos em mulheres representando o rock, vem em mente as quem foram forçadas a se masculinizar ou feminilizar em um padrão estabelecidos por homens. No gothic ou metal sinfônico, as mulheres eram embranquecidas, vestidas como princesas medievais e corsets afinando cada vez mais a cintura. O cabelo precisara ser impecavelmente liso e algumas chegavam a colocar lentes nos olhos.

Fotos: Lara Paiva

A Anneke van Giersbergen, do The Gathering, influência direta do Huma, teve que feminilizar para “ser aceita” na Roadrunner da vida. Por outro lado, vinha uma Ângela Glasgow, no Arch Enemy, que teve se masculinizar para parecer séria entre os homens, mesmo fazendo um gutural melhor que muitos machos. E, mesmo assim, com mais de 20 anos de carreira ainda é motivo de dúvidas.

Ver negras no topo

Olhar essas três bandas mostra que ainda podemos mostrar a velha e antiga proposta da zona industrial inglesa dos anos 70, quando criou o heavy metal: fazer um som sujo (no bom sentido da palavra), original e que denunciasse as mazelas da desigualdade social.

Ver três pretas no palco, felizes e mostrando seu talento traz uma esperança de que o estilo identifico desde a adolescência ainda pode superar as barreiras e mostrar que as mulheres podem ser o que elas quiserem.

E melhor: elas podem fazer gutural, cantar Lana Del Rey impecavelmente ao som de guitarras distorcidas e organizar a sua parada pulando os estigmas estabelecidos para as pessoas pretas. Ou seja, a preta não vai voltar para senzala, não é obrigada a sambar e ela vai mostrar o seu talento aonde ela quiser.

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Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

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