O “Filhos do Mangue”, de Eliane Caffé fez a sua estreia na mostra competitiva brasileira de longas-metragens por meio do 52° Festival de Cinema de Gramado e já recebeu prêmio. Gravado na cidade de Canguaretama, a diretora do renomado “Narradores de Javé“, recebeu os prêmios de melhor direção. Além disso, a obra ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Genilda Maria. Para sua première nacional no festival da serra gaúcha, a produção rodada no Rio Grande do Norte reuniu uma comitiva de mais de 30 integrantes da equipe para uma grande apresentação musical no tapete vermelho.
Representado a diretora paulista e a atriz, os produtores Fernando Muniz e Beto Rodrigues dedicaram os prêmios à comunidade da cidade de Canguaretama (RN): “que nos recebeu tão amavelmente, de maneira tão afetuosa, e ao povo de Barra do Cunhaú, a comunidade de pescadores, catadores de caranguejo, cultivadores de ostras, porque eles são a matéria-prima desse filme, são a alma desse filme.”.
O projeto original baseia-se em argumento adaptado de um livro do escritor Sérgio Prado, “Capitão”, de 2011. “Depois, quando chegamos na Barra do Cunhaú, tudo foi virado do avesso. A própria localidade e seus personagens começaram a apontar novos caminhos de narrativa”, relembra a cineasta. A direção também deu espaços a improvisações em quase todas as cenas, porém mantendo a estrutura do roteiro, dividido entre Eliane e o dramaturgo Luis Alberto de Abreu. “Filhos do Mangue” é o quinto longa da realizadora paulista.
Entretanto, não há previsão de estreia para a gente assistir ao filme nas telonas do nosso estado.
História do filme
O violento e desregrado Pedro Chão (Felipe Camargo) aparece ferido e sem memória em uma comunidade ribeirinha. Os residentes o acusam de roubo e tentam, em vão, que ele recupere a memória – e devolva o dinheiro. Em um julgamento popular, revisita uma trama que envolve violência doméstica, de gênero, tráfico de pessoas e desvio de verba pública. Condenado ao isolamento, ele busca um novo sentido para sua vida.
O protagonista procura na natureza e entre os residentes da pequena vila de pescadores as peças perdidas de sua vida. Em seu processo de reconstrução, ele vai encontrar as pessoas de sua convivência. Entre seus muitos acusadores, estão a ex-esposa, vivida por Titina Medeiros, que está na novela “No Rancho Fundo”, e a filha (a atriz mirim Maria Alice da Silva).
Ironia como alívio cômico
Ainda que o filme lide com traumas e temas particularmente espinhosos como violência doméstica e exploração do trabalho, a narrativa de “Filhos do Mangue” acha espaço para a ironia e alguma leveza nas andanças do protagonista. “O humor pode ser uma ferramenta valiosa para humanizarmos questões complexas e áridas”, acredita a realizadora de “Os Narradores de Javé” (2003). “A dosagem, vamos tecendo na vivência das cenas”, explica Eliane Caffé.
Outro ponto-chave da trama é o mangue, que retrata no filme a nascente da pesca familiar, devorada pela exploração de terceiros, e, ao mesmo tempo, serve de expressão da mãe natureza.
“Ela traz o elemento que nos transcende a todo instante”, elabora a diretora. “E, se escutamos a natureza, como os personagens fazem em alguns momentos, alargamos a relatividade de tudo o que nos forma como identidades”, conclui a diretora.
Outros integrantes do elenco
O elenco traz também Roney Villela, Jeniffer Setti, Thiago Justino, Genilda Maria, Pequena Cintilante, Luana Cavalcante e outros, além de pescadores, criadores de ostras e população local da comunidade de Barra do Cunhaú. Fernando Muniz e Beto Rodrigues assinam a produção executiva. O roteiro original é de Sergio Prado, autor do livro “Capitão”. Já Pedro Rocha e Rodrigo Frota, por sua vez, são os responsáveis pela direção de fotografia e direção de arte, respectivamente. A direção de produção ficou a cargo, portanto, de Andrea Lanzoni.
“Filhos do Mangue” é uma realização da Pé na Estrada Filmes, com patrocínio da Protege e Britânia. Apoio: Sebrae, Pousada Vila da Barra, Pousada do Forte, Naturezatur, Coco Mango, AOC (Associação de Ostreicultores de Canguaretama), Aldeia Indígena Katu e prefeitura de Canguaretama. A distribuição é da Bretz Filmes. Este filme foi produzido com recursos públicos operados ou geridos pela ANCINE, BRDE e FSA.