60 anos que os militares tomaram o poder e transformaram o Brasil, durante 21 anos, em um eterno silêncio. Ame-o ou Deixe-o, como já dizia o slogan. Entretanto, teve gente que “teimou” e morreu em nome da pátria. Estou falando do estudante Emmanuel Bezerra, vindo do interior do Rio Grande do Norte e hoje ésua história está na Comissão da Verdade. No dia que este momento terrível completa 60 anos vamos falar de um dos potiguares que foi vítima.
Biografia
Emmanuel nasceu em São Bento do Norte e é filho do pescador, nasceu em 17 de junho de 1947, mais precisamente na praia de Caiçara. Aos 14 anos se mudou para Natal com o objetivo de cursar o Ensino Médio no Atheneu e, assim, residindo na Casa do Estudante. Foi ali, portanto, que começou a sua militância política.
Alguns registros apontam primeiramente que é natural de João Câmara, uma vez que São Bento do Norte era um distrito da então “Baixa Verde”.
Quando cursava a terceira série do curso ginasial, Emmanuel, juntamente com outros colegas, fundou o jornal “O Realista”, onde ele e seus colegas fizeram denúncias sociais. Após o término da escola, já na época da ditadura militar, fundou “O Jornal do Povo”, cujas publicações libertárias vindas de correspondentes em diversos municípios.
Em 1967, ingressou na Faculdade de Sociologia,onde atuou no Diretório Acadêmico “Josué de Castro”. Foi eleito presidente da Casa do Estudante, onde moravam os estudantes pobres do interior,. Além disso, participou do 29.º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Une) em São Paulo.
Em 1968, tornou-se diretor do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo, por conseguinte, o papel de liderança no movimento estudantil universitário. Também organizou a bancada dos estudantes potiguares para o 30º Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), onde foi preso . Como resultado, foi expulso da universidade.
Sua morte na versão dos policiais
A versão dos policiais do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS) é a de que Emmanuel teria morrido em tiroteio com a polícia no Largo de Moema, em São Paulo, no dia 4 de setembro de 1973.
Emmanuel foi vítima de uma emboscada, no qual os policiais ao lhe virem deu voz de prisão ao militante, que teria atirado nos agentes. Eles reagiram atirando de volta na direção dos dois. Tal versão está nos documentos de exame necroscópico de Emmanuel, teve a assinatura do delegado Edsel Magnotti. Anos depois, no relatório do Ministério da Aeronáutica ao Ministério da Justiça, em 1993, ainda afirmava a versão de que os dois militantes morreram em um suposto confronto com os agentes da repressão.
Na versão de outros militantes sobre a morte de Emmanuel Bezerra
Mas, segundo denúncias de presos políticos da época, Emmanuel e Manoel estavam em Recife, no dia 16 de agosto de 1973, quando os policiais lhes prenderam. O estudante ficou no DOPS de Pernambuco, sendo torturado por vários dias.
Depois, foi a São Paulo, pelo policial Luiz Miranda e entregue ao delegado Sérgio Fleury. Na capital paulista, lhe torturaram até a morte no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI-SP), quando o mutilaram, arrancando-lhe os dedos, umbigo, testículos e pênis.
A sua necropsia foi com médico Harry Shibata, que assinou o laudo sem examinar o corpo e omitiu todas as marcas de tortura presentes em seu corpo. Fotografia recuperada pela Comissão da Verdade mostra Emmanuel já morto e muito machucado até hoje é uma referência do porquê não voltar a Ditadura Militar.
Enterrado como indigentes
Emmanuel estava numa lápide como indigente no Cemitério de Campo Grande, em São Paulo. Em decisão de 23 de abril de 1996, a Comissão Especial sobre mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro pela sua morte.
Seu nome consta no dossiê ditadura; mortos e desaparecidos políticos no Brasil (1964 – 1985) organizado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos.
Em 13 de março de 1992 os restos mortais de Emmanuel Bezerra passaram por uma perícia completa pela equipe de legistas da UNICAMP. Trasladados para Natal em julho de 1992, os despojos seguiram em cortejo para São Bento do Norte e em meio a grande comoção da comunidade local.
Emmanuel recebeu diversas homenagens do povo do Rio Grande do Norte: a Escola Isolada de São Bento do Norte, tem hoje o seu nome. O Grêmio Estudantil da Escola Estadual João XXIII, também recebe seu nme, além de uma rua no bairro de Pitimbu, em Natal. Após a entrada em vigor da Lei no. 9140\ 95, os familiares de Emmanuel obtiveram o reconhecimento da responsabilidade da União na sua morte, fazendo jus a respectiva indemnização.
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