Era a madrugada de um sábado para domingo de Carnaval quando o bloco do Puxa-Saco estava caminhando na Avenida Rio Branco em direção à Cidade Alta. Ao mesmo tempo, numa direção contrária, um ônibus em alta velocidade estava levando a equipe da Escola de Samba Malandro dos Samba. O veículo, da empresa Guanabara, perdeu o controle, atropelou foliões e, por fim, colidiu ao fusca. Resultado, dezenas de pessoas feridas, corpos deitados no chão e a festa encerrou antes da quarta-feira de cinzas começar. Há 40 anos houve a então Tragédia do Baldo.
Todos jornais pararam em mostrar o que aconteceu, visto que ninguém acreditou poderia acontecer, era coisa de filme. Na época, o fotógrafo do Diário de Natal, Herácles Dantas esteve no momento. Até hoje suas fotos ilustram reportagens sobre o assunto.
Mas, achei um trecho em que traz o relato do profissional, que cobriria inicialmente o cortejo dos blocos. “A festa estava boa e o bloco Puxa-Saco esteve muito animado durante o início da noite e o que aconteceu foi muito rápido, de repente e horrível.”.
A Guanabara pagou 28 milhões de cruzeiros às vítimas
A empresa tinha um seguro para acidentes de trânsito de . Como resultado, o grupo pegou o montante e repassou para as vítimas do acidente, apesar de que as vítimas cobravam a responsabilidade de encontrar o motorista que não foi encontrado até hoje.
Assim que aconteceu o acidente, a Guanabara também emitiu uma nota:
Comunicado,
A Diretoria.
A Transportes Guanabara LTDA., constrangida com o trágico acidente ocorrido na madrugada de ontem, vem, de público, solidarizar-se com a dor das famílias e de toda sociedade natalense, que sempre prestigiou esta empresa, a qual, por sua vez, só tem a lamentar que tão funesto acidente hoje envolvido veículo de sua propriedade – embora, obviamente, por motivos totalmente alheios à sua vontade.
Reação de entidades públicas
Por causa do acidente, muitos blocos resolveram cancelar as atividades em respeito ao desastre. Além disso, a tragédia aconteceu durante o começo do Diretas Já, fazendo com que o MDB brecasse as primeiras manifestações.
Sem contar que políticos locais também fizeram seu pronunciamento. O então Governador José Agripino, que estava em Brasília, visitou as vítimas no Walfredo Gurgel e prometendo que iria reforçar na fiscalização de motoristas que estivessem irregulares.
40 anos depois, Mais de 15 pessoas morreram na Tragédia do Baldo e nunca encontraram motorista
O atropelamento foi provocado pelo motorista de ônibus Aluízio Farias Batista, após saber que trabalharia além do expediente, que era uma viagem durante a madrugada para transportar membros de uma escola de samba. Causando uma profunda irritação.
Ao chegar no bairro Alecrim, com o ônibus já cheio de dirigentes da escola de samba Malandros do Samba, teria começado um desentendimento entre o motorista e os integrantes da escola de samba, devido à euforia dos integrantes dentro no ônibus. Apressados a irem embora, os passageiros começaram a puxar a campainha do ônibus, o que teria irritado o condutor do veículo. Pela denúncia, Aluízio saiu em velocidade “desabalada” (em torno de 60–70 km/h, segundo o acusado), sem respeitar os semáforos durante o percurso.
No trecho sob o Viaduto do Baldo, ao fazer a curva antes da descida, Aluízio bateu a traseira do ônibus, próximo à porta de desembarque, na lateral dianteira de um Volkswagen Fusca, que estava estacionado no canteiro. A batida mudou a trajetória do ônibus, jogando-o para cima do bloco ‘Puxa-Saco’, que passava naquele momento do outro lado da avenida.
O promotor José Maria Alves lembrou ainda que “após o impacto, o veículo dirigido pelo denunciado atropelou vários integrantes e acompanhantes da banda ‘Puxa-Saco’ que, após ligeira parada à praça Carlos Gomes, já retomava sua caminhada”. Posteriormente o Instituto Técnico-Científico de Polícia do Rio Grande do Norte (Itep) divulgou laudo indicando que o ônibus encontrava-se com seus freios em perfeita ordem.
O motorista Aluízio foi denunciado apenas em 1997, sendo condenado à revelia em 2009 a 21 anos de prisão por 19 homicídios, mas nunca apareceu. Sem contar que em 2021, um morador de rua se identificou como Aluízio, porém as digitais eram incompatíveis.
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