No período mais dark do jornalismo eu consegui resgatar coisas valiosas. O ano era 2015, período que estava bastante depressiva, não rendia bem no trabalho e tinha um Trabalho de Conclusão de Curso. Por outro lado, em situação nacional, um bando de mauricinho e patricinhas insatisfeitos com a vitória de Dilma Rousseff, sob o pretexto do Petrolão, estavam lutando por um golpe político.
No meio do caos, na véspera do primeiro Fora Dilma, em abril de 2015, eu fui cobrir evento cultural ao finado Portal Noar, minha última experiência em redação. O evento era no Mercado de Petrópolis, onde poetas nacionais faziam apresentações e eventos.
Lá conheci os dois nomes importantes da geração mimeógrafo, o Chacal e Nicolas Behr. Super simpáticos, eles concederam a entrevista e de quebra me deram os seus fanzines mais novos daquela época. Vou transcrever este texto, visto que o portal não existe mais e só achei esse no Wayback Machine.
Em 15 de março de 2015 às 08:42
Cidades
Poetas Chacal e Nicolas Behr comentam a relação entre poesia e internet
Ambos participaram do evento Virada Poética e começaram divulgando seu trabalho distribuindo cópias usando mimeógrafo
Por Lara Paiva
A Fundação da Capitania das Artes (Funcarte) promove neste final de semana a “Virada Poética”, um evento destinado ao Dia da Poesia. O evento reuniu artistas potiguares e também nacionais, como Nicolas Behr e Ricardo Chacal, que participou de várias atividades na capital potiguar neste período.
“Esta é a segunda ou terceira vez que estou aqui. Muito bom sair de Brasília e ter esse choque de cultura, porque Brasília é uma cidade racional, moderna, planejada e não tem essa coisa como é aqui”, disse o poeta, nas quais boa parte de seu trabalho retrata as coisas da capital federal.
Behr está associado à “Poesia Marginal”. Seu primeiro trabalho foi divulgado em 1977, intitulado de “Iogurte com farinha”, nas quais as 8 mil cópias do trabalho foram feitas a partir de um mimeógrafo, equipamento utilizado antes da impressora. Seu último livro foi publicado no ano passado com “A Teus Pilotis”.
A “Poesia Marginal” se refere um movimento brasileiro que ocorreu imediatamente após a Tropicália, durante a década de 1970, em função da censura imposta na Ditadura Militar (1964-1985), que levou intelectuais, professores universitários, poetas e artistas em geral, em todo o país, a buscarem meios alternativos de difusão cultural, incluindo o mimeógrafo.
Assim surgiram os primeiros livretos e fanzines, que eram revistas publicadas de forma despretensiosa e feita de forma livre. Do mimeógrafo para internet, Behr comemora o bom lado que a tecnologia pode fornecer não só aos poetas, mas também aos seus leitores.
“Hoje a gente conhece vários poetas de diversos cantos do país. O poeta está aderindo a esta mídia, porque ele não quer ficar para trás das novidades, das tecnologias. É um acesso livre, gratuito e democrático. Nós estamos passando por essa passagem, que nem a geração de Johannes Gutenberg (criador da primeira máquina de impressão), que saiu do manuscrito para o impresso. Eu não tenho medo dessa era digital”, garantiu o poeta.
O carioca Ricardo Chacal foi outro participante da Virada Poética e também um dos grandes nomes do movimento da “Poesia Marginal”. Esta é a quarta vez que pisa em solos natalenses, a primeira foi ano de 1979, a segunda em 2004 e ano passado foi um dos participantes do Festival Literário de Pipa (Flipipa).
“Fico feliz que esta cidade faça eventos de cultura como esse aqui. Na cidade tem uma nova geração de escritores e poetas que está pulsando na cidade”, avaliou.
Também garantiu não ter medo de trabalhar com o meio digital. “Eu me sinto próximo das pessoas com a internet. Você pode vender o livro que quiser, não haverá o retorno do público ou de algum crítico literário”, comentou Chacal.
Assim como Nicolas, o artista divulgou sua primeira publicação “Muito Prazer, Ricardo” utilizando o mimeógrafo. Agora, a internet faz com que ele conheça artistas de outros estados brasileiros, como a poeta potiguar Regina Azevedo, de 15 anos, que recentemente lançou a sua mais nova publicação, intitulada de “Por Isso Amo em Azul Intenso”.
“Para mim, o importante não é a idade ou gênero, é o conteúdo do texto. A Regina sabe usar muito bem na internet”, disse. De acordo com Chacal, as redes sociais ajudaram na troca de experiências entre poetas e leitores, mas isso não quer dizer que a juventude tinha se afastado dos poemas.
“Para fazer uma poesia precisa apenas ler e escrever, a princípio. Música tem que aprender a tocar, no Teatro precisa ir numa escola de teatro e artes plásticas é difícil. A internet permite que os poemas circulem cada vez mais, estimulando, assim, o hábito da leitura e aumentando a frequência que escrevem”, avaliou.
O seu trabalho mais recente foi resultado dessa interação com a internet, “Seu Madruga e Eu” (editado pelo selo potiguar Jovens Escribas), que divulgou na capital potiguar e reúne várias publicações que foram realizadas em sua página do Facebook. A produção iniciou quando viu que o seu chapéu e fisionomia parecia muito com o personagem da série mexicana “Chaves”.
“Então, eu comecei a brincar com isso e publicar as coisas no Facebook. Juntei todos os trabalhos e montei o livro. Achei que o Facebook é uma ferramenta ligeira e o retorno é maior. A obra fala mais da perda de identidade, que é muito comum nas redes sociais”, comentou.
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