Nesta terça-feira, 15, faz dois meses desde que a escritora e militante bell hooks faleceu. Ela partiu em uma quarta-feira, em 15 de dezembro. De acordo com a sobrinha Ebony Motley, estava doente e rodeada de amigos e familiares quando morreu.
bell hooks – em grafia minúscula mesmo – deixou para nós uma coleção de ensinamentos, inclusive obras incríveis que perpassam sobre os temas de feminismo, racismo, política, gênero, amor e espiritualidade. Ao todo, escreveu 40 livros.
Nesse pequeno tributo, gostaria de destacar a primeira obra da militante que tive acesso, O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. O livro foi publicado em 1970 nos Estados Unidos, e lançado no Brasil no ano de 2000. Essa obra tem uma importância gigante, pois acrescenta muito no debate que visa um feminismo mais acessível e consciente.
O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras
De acordo com uma pesquisa revelada pelo Datafolha em 2019, 56% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais rejeitam se associar ao feminismo, e 6% não possui opinião sobre o assunto. Apesar de o restante, 38%, possivelmente se considerar feminista ser um fato importante, é necessário refletir sobre o porquê tantas mulheres ainda não aderiram a esse movimento.
É nesse cenário que “O feminismo é para todo mundo — políticas arrebatadoras”, funciona como uma das ferramentas essenciais para educar não só mulheres, mas sim toda a sociedade acerca do feminismo.
“No mais íntimo do meu ser, sabia que nunca teríamos um movimento feminista bem-sucedido se não conseguíssemos incentivar todo mundo, pessoas femininas e masculinas, mulheres e homens, meninas e meninos, a se aproximar do feminismo.”, revela a escritora.
Para bell (em grafia minúscula por escolha da própria autora, a qual afirmava que “O mais importante em meus livros é a substância, e não quem sou eu”), o feminismo é “Um movimento para acabar com sexismo, exploração sexista e opressão”. Perceba que essa declaração deixa bem evidente que o feminismo não se trata de ser “anti-homem”, como muitas pessoas enxergam, e sim de uma luta que busca acabar com o pensamento patriarcal. Esse não está institucionalizado apenas entre os homens, mas também entre as mulheres, que desde a infância são criadas para aceitar com naturalidade pensamentos, discursos e ações sexistas.
Por isso, escreve a autora, “É necessário confrontar o inimigo interno antes que possamos confrontar o inimigo externo”, ou seja, antes de lutar contra o patriarcado, precisamos escolher mudar internamente os pensamentos que nos foram impostos.
Devido ao pensamento comum e errado de que o feminismo se trata de uma política de mulheres contra homens, disseminado em massa pela mídia patriarcal de acordo com bell hooks, o movimento afasta muitas pessoas — de todos os gêneros — que possuem um potencial valioso para apoiar a luta pelos direitos das mulheres.
É nesse sentido que a autora decide escrever O feminismo é para todo mundo: a sua proposta é educar as pessoas sobre feminismo, desmistificando mitos e mostrando que se trata de uma luta cujo objetivo é, em sua essência, enfrentar e destruir o patriarcado. Sendo assim, o livro possui uma linguagem clara e objetiva, sem perder qualidade, acerca dos ideais e lutas feministas.
“Quero ter na mão um livro conciso, fácil de ler e de entender, não um livro longo, não um grosso com jargão e linguagem acadêmica difíceis de compreender, mas um livro direto e claro — fácil de ler, sem ser simplista”, relata bell.
Gênero, raça e classe
A obra aborda a interseccionalidade entre gênero, raça e classe. Nesse sentido, bell deixa bem claro que a luta feminista das mulheres brancas e privilegiadas não é a mesma da mulher negra e pertencente à classe operária, sendo essas últimas muitas vezes desconsideradas pela grande mídia. Nas palavras da autora:
“A maioria das mulheres, em especial as mulheres brancas privilegiadas, deixou até mesmo de considerar noções do feminismo revolucionário (aquele que busca uma profunda mudança da sociedade sexista), quando começou a alcançar poder econômico dentro da estrutura social existente”.
“Mesmo que mulheres negras individuais fossem ativas no movimento feminista contemporâneo desde seu início, elas não foram os indivíduos que se tornaram ‘estrelas’ do movimento, que atraíam a atenção da mídia de massa”.
Os trechos acima, retirados da obra, permitem refletir que o feminismo não é a única saída para uma sociedade mais justa: é necessário que esse movimento seja aliado, sobretudo, da luta antirracista e anticapitalista. Contudo, ao aderir à luta feminista, a humanidade avança um grande passo: o de quebrar barreiras sexistas, barreiras que servem de opressão a todas as mulheres, ainda que em níveis diferentes.
Portanto, se você é mulher e tem interesse em aprender mais sobre a luta contra a exploração sexista, esse livro é para você. Mas, se você não é mulher, essa leitura também será construtiva, afinal, o feminismo é para todo mundo.
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