Independente de ter assistido no cinema ou na sua casa, o filme Marighella conta a história do Brasil. Você pode até ser contra o comunismo (para Brasileiro tudo que é progresso é comunista), mas se concorda com o Regime Militar, precisa rever os seus conceitos sobre humanidade. O que espera-se normalmente é que quem comete crime, seja preso, recebe a sua punição e fique recluso da sociedade para evitar novos delitos, não é mesmo? O lado animal do ser humano não permite.
O Código Penal e a Constituição listam o que um brasileiro deve ou não deve fazer. Posteriormente um órgão fiscaliza os cidadãos que estão seguindo as regras. É uma forma de evitar que os seres humanos não tenham atitudes de animais.
O Brasil virou um país independente apenas em 1822, século 19. Neste período, a literatura mundial seguia o Realismo, no qual o cientificismo também conduziu as correntes filosóficas da época, em especial o positivismo, do Auguste Comte, que propunha a criação de uma “física social”, isto é, uma análise da sociedade que seguisse os métodos das ciências exatas e biológicas.
Era o início do capitalismo financeiro. A intensificação da manufatura industrial gerou a massificação das cidades. Condições de emprego degradantes, longas jornadas de trabalho e baixos salários inspirou outra corrente filosófica do período, o socialismo, postulado por Karl Marx.
Assim, a desigualdade social gerou uma divisão social, mostrando o lado animal, fazendo com que homens possam viver como se fossem porcos. O crime é o resultado de uma vingança, assim a burguesia, para esconder esse lado podre, repreendia. Quem comete, geralmente recebe vingança. Por isso, medidas extremas geram atitudes extremas. Viajei? Não! Vou mostrar a relação do filme a seguir.
Sobre Marighella e o Brasil daquele período
Marighella é filho de uma negra que era empregada doméstica com imigrante italiano, que teve várias profissões até se estabelecer como mecânico. Nasceu em Salvador em 5 de dezembro de 1911. Como falei anteriormente, era um Brasil que tinha 20 anos de República e a industrialização começa tardiamente. Com incentivo do pai, Carlos Marighella se alfabetizou cedo, na idade de quatro anos.
Seu pai fornecia ao Carlos com livros nacionais e importados, sobretudo autores franceses. Lembra que os franceses eram pais do iluminismo e cheios de pensamentos progressistas. Por causa da boa leitura, ele furou a sua bolha social e inscreveu-se no primeiro ano em 1925 no colégio Carneiro Ribeiro e mudou-se para o Ginásio da Bahia, atual Colégio Central, na Avenida Joana Angélica. Em 1934, tornou-se engenheiro civil e ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB).
Conheceu a prisão em 1932, após escrever um poema criticando o interventor Juracy Magalhães, braço direito de Getúlio Vargas. Contra o Estado Novo, lhe prendeu e torturou. Saiu em 1936 e, por conseguinte, viveu na clandestinidade. Três anos depois foi preso até 1945, dando fim a Era Vargas. No ano seguinte, tornou-se deputado federal.
Em 1948, o PCB foi punido e na década de 50 chegou a viajar para China entender o surgimento da revolução comunista no país. Em maio, após o golpe militar, foi baleado e preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) dentro de um cinema, no Rio. Libertado em 1965 por decisão judicial, no ano seguinte optou pela luta armada contra a ditadura, escrevendo “A Crise Brasileira”. É nesta época que o filme se passa.
Sobre o filme
Primeiramente, a obra, em nenhum momento, tenta retratá-lo como herói, humanizou o máximo possível, mostrando seus erros e acertos. É mais fácil comparar a Marighella ao Lampião e não como Osama Bin Laden. Você pegaria em arma se falasse que era possível derrubar um governo antidemocrático e reprime as minorias? Muitos acreditam que sim e outros acreditam no pacifismo. A obra é detalhista e ainda assim houve dificuldade de sintetizar momentos históricos.
Além disso, os nomes dos principais personagens foram alterados, mas se leu algum livro de história vai associar quem é quem. Durante o filme houve um questionamento sobre o conceito terrorista ao Marighella, uma vez que o Governo era bem mais armado e tinha apoio dos americanos para que pudesse acabar com cada membro de Marighella.
Será que terrorista é apenas quem é contra o poder ou aqueles que são contra o povo? Ainda mostrou técnicas que o Governo Militar usava os jornais em esconder os podres e a perseguição aos canais de oposição, podendo ser bem cruel. Por isso, muitas vezes para que se justificassem seus atos, a equipe de Marighella invadia sinal de rádio para expor a sua opinião, além da panfletagem em universidades.
Terrorismo? Há controvérsias
Alguns justificam que Marighella e seu grupo praticaram a violência armada foi necessária e no filme até mesmo existe o questionamento de um padre que ajuda a turma de Marighella. No entanto, dentro da obra, mostra que uma ditadura só se instaura e se mantém pelo uso da violência e um apoio de grandes empresários e países. Diferentemente do grupo da Aliança Libertária Nacional, uma vez que tiveram que assaltar banco e tinha um contingente bem menor que a Polícia Militar do interior. Muitas vezes o protagonista agia do mesmo modus operandi do professor de La Casa de Papel (muitos amam e até torcem pelos anti-heróis).
A narrativa é eletrizante, porém com pontos de repouso e reflexão. A questão familiar está presente no relacionamento de todos os personagens envolvidos Ainda mais mostrou a parte de um todo do Governo Federal através do personagem de Lúcio, que cada ação e fala você fica enjoada com a raiva e desejo de vingança. Será que precisamos de heróis?
O filme é todo um mergulho nos anos 1960. Em um Brasil antes do AI-5, período mais nojento. Mas também, a gente vê coisas atuais, trocando o nome Exército e Guerrilheiros, com as ações policiais em favelas, brigas entre milícias e traficantes e, por fim, o desejo de ser dependente dos EUA e usar cortinas de fumaças para esconder a corrupção.
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