Isabelli começou a usar maconha na adolescência para uso recreativo quando percebeu que os efeitos colaterais da erva nem sempre são ruins. “Eu estava percebendo que estava mais concentrada e que minha insônia havia diminuído”, relatou. Então, ela começou a pesquisar sobre o uso da cannabis para medicina e viu que pode ser utilizada não apenas para o fumo, como também a utilização de óleos e outros produtos. “Então foi quando descobri o óleo de cânhamo, que contém o cannabidiol (conhecido pelos especialistas pela sigla CBD) e vi que tinha vários benefícios. Ele me ajudou a diminuir a ansiedade e também me deixou mais ativa nas minhas atividades”, contou.
Dentre as experiências que utilizou o óleo foi com a avó, que sofre de artrite. “Um dia ela estava com uma dor insuportável no pé, no qual mal conseguia colocar o pé no chão. Apesar dela saber que uso maconha, ela não gostava da ideia. Quando eu vi ela com muita dor, eu pedi para que ela colocasse umas gotas do óleo e mesmo que ela não gostasse da ideia topou. Foi em questão de minutos que a dor dela diminuiu e conseguiu se levantar para beber água tranquilamente”, comemorou a jovem, que hoje estimula a compra do óleo.
Essa foi uma das histórias que ouvi durante o Fórum Delta 9, que aconteceu no último fim de semana em Natal, que contou com palestras e discussões sobre a legalização da maconha, principalmente para o uso medicinal, com a presença de médicos, nutricionistas e cientistas que estudam sobre os benefícios da cannabis. O evento é organizado pela ONG Reconstruir, que luta pelo direito dos pacientes a utilizar o composto como complemento médico.
De acordo com Felipe Farias, presidente da ONG e organizador do fórum, tudo começou há dois anos quando um amigo utilizava a planta para ajudar a mãe que tem mal de Parkinson e os efeitos da doença estavam diminuindo. “Eu não podia deixar meu amigo ser considerado criminoso por querer fornecer saúde à família. Então, começamos a criar um projeto para que fosse legalizado a plantação para mãe dele e depois muitas pessoas vieram atrás da gente para saber como seguir o mesmo procedimento para ter acesso ao fitoterápico de boa qualidade. As pessoas sempre ouviram a maconha como algo vulgar, por isso o objetivo da gente é fornecer a informação certa e verdadeira sobre a cannabis, além de educar a população”.
Após utilizarem a planta na mãe do amigo, ele e Felipe resolveram criar uma ONG, onde eles fornecem óleo para vários pacientes que precisam dos cannabinoides para sobreviver. Com o aumento da demanda, a ONG decidiu mover uma ação coletiva junto a seus associados para regularizar a situação, afinal, do jeito que estavam, os diretores da organização poderiam ser denunciados e condenados por tráfico de drogas. Eles pediram à Justiça autorização para o cultivo da planta para a produção do óleo medicinal. “O juiz é muito conservador e disse que não iria aceitar, mas vamos insistir e colocar esse processo em todas as instâncias”, declarou Farias.
Apesar de conseguir falar abertamente sobre o assunto, ele tem uma preocupação com o futuro, principalmente com algumas medidas do atual Governo Federal. “É um perigo, um governo diz que vai apoiar o uso medicinal, mas por outro lado tem um ministro dizendo que vai acabar com toda a cannabis do mundo e não serve para nada. É preocupante que eles fechem o assunto, principalmente quando o Ministro da Saúde anuncia na mídia que vai fechar a Anvisa (Vigilância Sanitária) se liberar o uso. Mas, a gente vai enfrentar. “.
Dentre as pessoas que estava participando estava a Roberta, que até o ano passado estava sofrendo artrite. “Fiz tratamento com remédios e fisioterapia por mais de seis meses, porém não tinha resultado e os fármacos me deixaram com gastrite [como efeito colateral]. Minha dor não diminuia e não conseguia segurar uma panela ou escovar os dentes, porque os dedos doiam muito. Minha reumatologista junto com a nutricionista resolveram procurar uma forma alternativa para amenizar as minhas dores. Comecei a fazer o uso no canabidiol e com duas semanas as minhas dores sumiram e antes disso melhorou meu quadro de ansiedade. Foi muito bom para mim. Tenho dito que é uma porção mágica.”.
Um dos palestrantes do evento era o neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Sidarta Ribeiro, no qual durante a sua palestra mostrou os testes feitos em pessoas doentes e como as mesmas melhoraram usando vários compostos da maconha. Além disso, ele foi um amplo defensor da legalização da erva. “Deveria que nem ser leite. A gente sabe que pode fazer mal para algumas pessoas e mesmo assim o produto não é proibido. É preciso discutir não só para o uso recreativo, mas também os benefícios para medicina”, declarou.
Além de discussões, também eram vendidos produtos relacionados à cannabis e distribuição de panfletos sobre a importância do uso da planta para fins medicinais.
Leia Também:
Proibição da Maconha aconteceu nos Estados Unidos
A proibição do consumo da erva se tornou global após a Convenção Internacional do Ópio, que foi estimulada bastante pelos Estados Unidos, e assinada em 1912 na cidade de Haia, na Holanda (você não leu errado! Algo bem contraditório), quando diversas nações decidiram proibir o comércio mundial do “cânhamo indiano”, que é uma palha originária da cannabis, que era utilizado como matéria prima para velas e cordéis dos navios pelos europeus durante as grandes navegações. Mas na época também era utilizada para fabricação de linho e consequentemente de tecidos.
E a Índia estava ganhando muito dinheiro com tecidos, algo que deixava a Europa e América de cabelo em pé.
Nas primeiras décadas do século XX, a maconha era liberada. No Brasil era fumada nos terreiros de candomblé para facilitar a incorporação (planta tem origem na África) e nos confins do país por agricultores depois do trabalho. Na Europa, ela era associada aos imigrantes árabes e indianos e aos incômodos intelectuais boêmios. Nos Estados Unidos, quem fumava eram os mexicanos, que estavam crescendo no país.
Em 1920, sob pressão de grupos religiosos protestantes, os Estados Unidos decretaram a proibição da produção e da comercialização de bebidas alcoólicas. Era a Lei Seca, que durou até 1933. Aí o consumo de maconha nos EUA cresceu vertiginosamente.
Então, políticos ligados ao protestantismo e uma campanha forte do político americano Harry Anslinger, fiscal da lei seca nos EUA, fez com que a maconha fosse aos poucos proibida. (Leiam esta matéria da Revista Superinteressante neste link: http://goo.gl/FEbfTn ).
Deixe um comentário