O evento foi bom, ousado e conseguiu debater assuntos que estão pertinentes, mas faltou a valorização do cinema interiorano.
A saída de Ponta Negra no meio da engorda já demonstrava que os produtores culturais estão cada vez mais preferindo fazer eventos na Rampa, em Santos Reis. Primeiramente, por ser um local espaçoso, perto de três praias urbanas da cidade. Em segundo lugar, a vista para o Rio Potengi. Por fim, você tem a opção de ver exposição que está circulando e assistir à programação de cinema.
Desenvolvido pela Pinote Produções, o Cine Verão resolveu seguir o que outros eventos culturais estão fazendo pela cidade. O evento foi bom, ousado e conseguiu debater assuntos que estão pertinentes: como a chegada do Cine Panorama como cinema de rua reformado pelo Governo do RN, as medidas de cultura acerca do audiovisual e também o futuro, que temos que ser claros que este está em xeque.
Como foi o evento
O evento aconteceu entre os dias 16 a 18 de janeiro. Os dois primeiros dias foram dedicados para ver os filmes e os últimos a premiação, sob a divisão de júri popular e categoria técnica. Que desta vez eu concordei mais com o júri popular, por mais que sei da sabedoria do juri e por trabalharem anos como críticos de cinema.
Foram mais de 600 submissões que criteriosamente foram analisadas sob o ponto de vista narrativo, estético e técnico.
Na Mostra Cine Verão Poti exibiu 12 filmes realizados em território potiguar, as produções foram selecionadas por Fernando Suassuna, Geslline Giovana Braga e Heloísa Sousa. Já a Mostra Cine Verão Brasil apresenta um panorama da produção cinematográfica nacional e contou com curadoria de Quemuel Costa, Rosy Nascimento e Sihan Felix.
Como fui somente no segundo dia, vi seis filmes do território potiguar e mais outra meia dúzia de nacionais. Na minha opinião, os filmes potiguares tinham uma parte ou outra que se destacava por uma qualidade, mas nenhum que me fez ficar sentada e vidrada para assistir. Destaco para Canto de Acauã, que assisti por inteiro e mostrou a resistência de um povo quilombola.
Já os nacionais, me chamaram atenção não porque a técnica era superior ou algo do tipo, mas porque as histórias eram mais atrativas.
Senti falta de premiação aos realizadores fora eixo Natal-Mossoró
E eu sei que todos os realizadores são bons profissionais, participam do audiovisual, na publicidade e no teatro. Mas, faltou um tempero para me sentir totalmente atraída as obras. E nas premiações deveria ter premiado mais gente fora da capital, foi somente Canto de Acauã que recebeu prêmio de melhor filme por seu trabalho, o restante pareceu que veio cumprir cota.
Se querem fazer um festival de cinema que inclua todas as produções do estado, precisa repensar em novas categorias para as próximas edições. Afinal, se já está ruim para Natal e Mossoró, imagina as produções vindas de outras regiões. Principalmente, prêmios com incentivo financeiro ou capacitação para os futuros talentos.
A sorte que Natal e Mossoró tem faculdade de Comunicação Social e no interior não e isso quando tem a sorte de ter acesso com empresas do terceiro setor que capacitam este pessoal.
Vi que muita gente também usou o tempo de assistir às obras locais para resenhar, menos para o objetivo final: ver o filme.
Repensar
Mesmo que alguns palestrantes adoram usar Cascudo para fazer o pessimismo cultural da cidade. Mas, qualquer escolha progressista em Natal, os mesmos que usam ele (conservadores como o folclorista) diriam que a capital estaria se transformando em comunista.
Este pensamento retrogrado faz com que muitos fujam para outros estados. O vencedor do júri popular da mostra nacional, por exemplo, Henrique Arruda, cresceu no estado e teve seu trabalho apenas reconhecido quando migrou para Pernambuco.
Lembrar que a forte campanha da grande imprensa contra Fátima Bezerra pode fazer este trabalho que estamos venerando a perder e o pior: sem ideia de sucessor. Agora, que a Federação dos Municípios elegeu o aliado dos principais políticos da oposição, o cerco da esquerda se fechou.
Não adianta falar dos resultados, se não tem uma troca de exposição, divulgar as atividades recorrentes e achar que é só um espaço para divulgar a Segunda Guerra Mundial. Muito menos reformar o Panorama e dois anos depois, um saco preto da vida destruir por pura ignorância e imbecilidade.
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