O longa-metragem “Filhas da Noite”, dirigido por Sylara Silvério e Henrique Arruda, foi o grande vencedor da Mostra Caleidoscópio no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A obra, que mistura ficção e documentário, narra a trajetória de seis mulheres trans — Raquel Simpson, Sharlene Esse, Paloma Pitt, Márcia Vogue, Christiane Falcão e Suelanny Tigresa — que marcaram as noites de Recife com suas performances. Mais do que uma revisão nostálgica de suas histórias, o filme celebra a vitalidade e resistência dessas artistas, que continuam ativas após décadas de atuação.
Sylara Silvério (aka pessoa que me ensinou a mexer numa DSLR), potiguar formada em Rádio e TV (hoje, Audiovisual) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), enfatizou o caráter celebrativo da obra, que reconhece a importância dessas mulheres na cena cultural e na luta por visibilidade. Henrique Arruda (parceiro de altas aventuras em pautas sem futuro e meu veterano), embora pernambucano, também se formou em Jornalismo pela UFRN e foi no Rio Grande do Norte que lançou seu primeiro curta, “Ainda Não Lhe Fiz Uma Canção de Amor”.
O diretor Henrique Arruda comentou que sua passagem por Natal, como jornalista cultural, ajudou a fomentar sua carreira de cineasta, “A passagem pelas redações de jornal de Natal, tudo contribuiu de alguma forma pra minha visão crítica e afetiva do mundo. Minhas amigas são as mesas que me viram e me ajudaram a fazer os primeiros curtas aí em Natal, então sempre me sinto em casa de alguma forma na UFRN e em Natal.”, relatou.
Sobre o filme, ele disse que por mais que passe em Recife, existem várias divas e filhas da noite no país, além de que obras deste porte ajuda no cinema LGBTQIAP+.
“Este ano, levamos um pouco do MarteLAB, nosso laboratório de escritórios para mulheres e pessoas LGBTQIA+, para a programação do AFRONTE, e foi lindo De certa forma, nosso coração sempre está em! Natal, pois a terceira parte da Filmes de Marte e o Arlindo Bezerra, que cuida da gente à distância, estão lá. No próximo ano, vai rolar uma exibição de Filhas da Noite com a presença de todas elas em Natal, e estamos trabalhando para definir a data e o local certo. Queremos muito reunir a família toda por aí!”, relatou.
A exibição no festival foi um momento emocionante, com as protagonistas recebendo aplausos de pé do público. Raquel Simpson destacou que o longa transcende as histórias pessoais das participantes, servindo como uma representação para muitas outras mulheres trans pelo país.
O projeto teve origem no site “Filhos da Noite”, que inicialmente registrava memórias de homens gays idosos. Contudo, ao longo do processo, os diretores decidiram expandir o enfoque para dar destaque às histórias das performers trans, que evoluíram para um longa-metragem. Mesmo com recursos limitados, o filme foi viabilizado graças a parcerias e editais culturais de Pernambuco.
A direção combinou a expertise de Sylara em fotografia audiovisual com a criatividade de Henrique na direção de arte, resultando em cenas que recriam atuações emblemáticas em cenários inusitados.
Sylara começou trabalhando no audiovisual ainda quando era bolsista da TV Universitária (TVU). Foi lá nas dependências da Superintendência de Comunicação (Comunica) que teve a certeza para o cinema.
“Apesar de nesse período a grade não ser voltada para o audiovisual, conseguia encaixar em muitos trabalhos de disciplinas curtas, documentários e projetos de audiovisual experimentais. Meu primeiro filme foi o documentário sobre as obras da Copa do Mundo em Natal e o impacto disso na população de Natal em 2012. Além disso, acredito que a universidade forma para além de questões profissionais. Sempre fui envolvida em movimentos sociais, fui da gestão do centro acadêmico de comunicação por 2 anos (antigo Berilo Wanderley, hoje Diretório Acadêmico Jussara Queiroz), então acredito que hoje minha militância dentro do cinema está muito relacionado com o tipo de temática que costumo trabalhar”, comentou.
Além da luta pelo mercado de trabalho, Sylara defende, quanto no RN tanto em PE, direitos dos produtores dentro do mercado de trabalho, garantia de formação de equipe mais diversa que agregue questões raciais, econômicas e de gênero.
Mas, vocês acham que eles abandonaram Natal? Henrique respondeu que não e Sylara sempre está pronta para os trabalhos locais.
“Mesmo morando em Recife há 10 anos, nunca deixei de estar vinculada ao audiovisual potiguar. Em 2019 fiz a direção de fotografia do primeiro curta de ficção, ‘Em Reforma’ de Diana Coelho; também estive na direção de fotografia da 3ª temporada de Septo (websérie estrelada por Alice Carvalho); do Festival Na Ladeira com direção de Camila Pedrassoli; do curta Eu Estou Aqui de André Santos. Além disso, participei do curta Navio, de Alice Carvalho, Larinha R. Dantas e Vitória Real, que inclusive ganhou menção honrosa no 52° Festival de Cinema de Gramado; além de vários outros projetos já realizados e alguns programados para 2025″, comentou Silvério.
Com previsão de estreia no circuito comercial brasileiro em 2025, “Filhas da Noite” ainda enfrenta desafios para chegar às salas de cinema, especialmente em cidades menores onde o acesso é limitado a cinemas de shopping. Apesar disso, Sylara mantém a meta de exibir o filme em todo o Nordeste, incluindo Natal, confiando na força da narrativa apresentada.
Para ela, o longa é uma prova de que é possível transformar desafios em arte e dar voz às histórias que merecem ser contadas.
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