Numa madrugada de sexta para sábado, o clima era fim de festa, hora de comer aquele lanchinho na Praça Pedro Velho. Estava concentrada vendo o filme Infiltrados na Klan, na televisão, tema de “O Corujão”, na Globo. Além disso, de repente, veio livros na minha mesa. Levanto a cabeça e diz que está vendendo obras dos mais diferentes tipos, desde cruzadinhas até mensagens de auto-ajuda.
Estava com sua mochila cheia de livros e mostrava as mais diferentes opções. Sempre com um sorriso no rosto.
“Você quer algum livro? Todos estão custando 10 reais e aceito Pix “, comentou. Perguntei se ele gostava de ler, mas o rapaz rapidamente disse que não. Ele contou que morava na rua e diz que os livros salvaram a sua vida. “A Mariana Ceci, da Tribunal do Norte, fez um pouco a reportagem sobre mim”, comentou.
Ainda mais, ficamos conversando sobre como estava a venda e estimulava a continuar este trabalho. Então, deu vontade de comprar livro, mas estava sem 3G para transferir.
A história do Zé do Livro é real
Alguns dias depois, rapidamente, fui ler a matéria e comprovou a veracidade. Ceci, que mora atualmente em Campinas, disse que Zé “já foi vigia, pastorador de carros, limpador de automóveis e, hoje, ganha a vida vendendo livros – mas nunca teve oportunidade de aprender a ler”.
Cinco anos depois, ele ainda não consegue ler, mas isto não quer dizer que tenha desistido de realizar seu sonho ou algo do tipo, apenas que a vida tem seus obstáculos. Nasceu em Enxu Queimado, distrito do município de Pedra Grande, 140 km distante de Natal. Sua mãe morreu quando tinha cinco anos. Pior, seu pai abandonou todos os seus filhos, ele e mais cincos irmãos, após formar uma nova família.
Após morar anos na rua, ele afirmou para mim que morava em Mãe Luíza e que está longe das ruas, no qual o sustento são apenas os livros. Ele começou a vender os livros que vinha de doações de pessoas físicas ou de sebos antigos.
Infelizmente, não pude pagar um de seus livros, mas sei que Zé dos Livros, deixou um bilhetinho mostrando onde o encontrar, caso tenha arrependido. Até hoje rodo no carro com ele, com esperança de encontrar novamente.
Deixe um comentário