Uma engolida seca sobre o passado, que ainda acha que foi o certo. Quando alguém diz que acredita na “intervenção militar”, sugiro ver “Ainda Estou Aqui”. Mais uma obra do diretor Walter Salles que me fez chorar feito uma criança por conta do seu enredo. Sendo que, desta vez, era baseado em fatos reais.
Embora você não concorde com o comunismo, você deveria apoiar, no mínimo, de que prender pessoas, torturar e matar, fazendo com que ela desaparecesse e nunca tivesse nascido. “Mas, ele apoiou o terrorismo”.
Como falei na minha resenha sobre o filme “Marighella“, você pegaria em arma se falasse que era possível derrubar um governo antidemocrático e reprime as minorias? Será que terrorista é apenas quem é contra o poder ou aqueles que são contra o povo? Será que quem ajuda os exilados são criminosos?
O Código Penal, que é a mesma do Governo Militar, lista o que um brasileiro deve ou não deve fazer. Posteriormente um órgão fiscaliza os cidadãos que estão seguindo as regras. Logo, uma forma de evitar que os seres humanos não tenham atitudes de animais.
Assim, a desigualdade social gerou uma divisão social, mostrando o lado animal, fazendo com que homens possam viver como se fossem porcos. O crime é o resultado de uma vingança, assim a burguesia, para esconder esse lado podre, repreendia. Quem comete, geralmente recebe vingança. Por isso, medidas extremas geram atitudes extremas. Logo, vem o questionamento: o que você faria em 1964? Ficaria calado ou ajudaria o pessoal que queria derrubar?
O filme justifica o porquê de Rubens Paiva não ter desistido da política e a resiliência desta família de superar os primeiros obstáculos.
A família Rubens Paiva e o filme
“Ainda Estou Aqui” teve a sua estreia no Festival de Veneza em setembro deste ano e veio as telas de Natal em 7 de novembro de 2024. O filme, baseado na obra de Marcelo Rubens Paiva, traz a trajetória de sua mãe e família após o desaparecimento de seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, político morto pelos militares sob a acusação de “contribuir com os terroristas”.
O filme mostra o verão do Rio de Janeiro de 1971 onde Rubens Paiva e seus filhos se mudaram após o exílio do Ato Institucional Nº1, onde teve seus direitos políticos cassados, uma vez que o AI-1 dava o direito do presidente a escolher e tirar os congressistas.
Apesar de ter voltado a exercer a engenharia e a cuidar de seus negócios sem deixar de lado seus momentos ao lado de sua família e seus amigos, Rubens, por continuar prestando suporte aos exilados sem comentar praticamente nada de suas atividades políticas.
Na véspera de feriado de aniversário do Rio, homens levaram o político pedindo para prestar um depoimento e depois voltaria. Na verdade, eram homens da Força Aérea Brasileira (FAB) e, posteriormente, Eunice é levada presa com uma de suas quatro filhas com Rubens, Eliana, que tinha 15 anos.
A sutil e impactante cena da prisão
Por mais que não mostre a violência em si, como foi Marighella, o impacto da prisão de Eunice traz a mesma sensação de soco no estômago, a forma que ficou presa, escutar as vozes das pessoas torturadas, a agonia de saber se vai estar no dia seguinte. Além disso, o filme mostra que a tortura dos opositores não poupou ninguém, nem os políticos privilegiados.
Assim como Marighela, o filme mostra que uma ditadura só se instaura e se mantém pelo uso da violência e um apoio de grandes empresários e países. Diferentemente do grupo da Aliança Libertária Nacional, uma vez que tiveram que assaltar banco e tinha um contingente bem menor que a Polícia Militar do interior. Muitas vezes o protagonista agia do mesmo modus operandi do professor de La Casa de Papel (muitos amam e até torcem pelos anti-heróis).
Se um militante revolucionário tivesse contato com pessoas da elite, como Rubens Paiva, ainda era um privilégio. Eram poucos, pois era muito fácil ser dedo-duro.
Assistam!
Venho parafrasear a crítica do site Omelete, quando a tortura de fato chega na vida dos Paiva, o fascismo do governo militar para extirpar tanto os direitos dos cidadãos quanto os privilégios que a família tinha. O suspense dá lugar ao drama de prisão, que depois passa para o trauma familiar. Essa dinâmica que o diretor impõe dá um ritmo mais ágil à trama, sem que a força da tragédia do sequestro e a falta de informação se perca nas mais de duas horas da produção.
Por fim, recomendo que assistam à obra. Por quê? Pelo simples fato de ser o retrato de uma família destroçada até hoje por um momento que até hoje não sabe a verdade por completo.
Utiliza a força da jornada da protagonista como uma janela para o passado, focado sempre na sombra que rodeava a casa dos Paiva e continua observando a todos de perto – assim como os agentes da ditadura fizeram com Eunice e seus filhos.
Onde assistir em Natal
- Cinemark do Midway Mall
- Moviecom do Praia Shopping
O horário de exibição pode ser visto aqui.
- Cinépolis do Natal Shopping
Veja o horário de programação.
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