De forma apressada, a Prefeitura do Natal tomou atitude de retornar o Festival Literário de Natal, que por muitos anos aconteceu na Ribeira. Por conta das obras no bairro, o espaço neste ano aconteceu na Praça Pedro Velho, que neste ano foi reformada e todo evento do Município está acontecendo por lá. No coreto do espaço público, houve um bate-papo literário mediado pelo escritor potiguar Carlos Fialho com o capixaba Daniel Furlan e pernambucano Marcelino Freire.
Você deve estar perguntando: parece um rolê aleatório de Ronaldinho Gaúcho? Pensando no grosso modo e vendo nas divulgações feitas por boca a boca parecia. Mas, vendo na prática, o caldo prestou.
A conversa gerou reflexões profundas sobre o papel do humor e da literatura na crítica social, revelando que, apesar das diferenças de estilo, ambos compartilham uma visão provocadora sobre a arte e a sociedade. Além disso, o papo também foi meio que um talk show, onde eles comentaram sobre a carreira e também sobre processo criativo.
Dos quadrinhos ao Choque de Cultura
Daniel Furlan, conhecido por seus papéis irreverentes e seu humor ácido em projetos como Choque de Cultura, Falha de Cobertura (sobre futebol e de onde veio o meme “Brasil 1 x Alemanha 7“) e O Último Programa do Mundo, trouxe sua visão sobre a cultura pop e a indústria do entretenimento.
Sua abordagem satírica provoca o público a refletir sobre o que consome diariamente. Sem contar que isto está desde na essência de seu trabalho, quando a Quase (hoje é um canal) ainda era apenas uma editora de história em quadrinhos.
O mesmo durante todo o debate disse que apesar de parecer que seus trabalhos pareçam multifacetados, “todos apresentam uma ligação”.
“Quando entrei na MTV era para apresentar o Furo MTV e comentar o Rockgol. Mas, naquele mesmo ano, a marca voltou para Viacom e o canal iria fechar. Aí fizemos o Último Programa do Mundo com essa brincadeira com o fim do mundo e a emissora”, comentou.
Freire e suas experiências na escrita
Marcelino Freire já é uma figurinha carimbada nos eventos literários de Natal, uma vez que o vencedor do Prêmio Jabuti em 2006 já falou um pouco da influência nordestina nos seus contos, a vida no interior e também enfatizou a importância da mãe em seus últimos trabalhos.
“Quando era chamado para entrevista e o jornalista vinha visitar em casa, ela se arrumava toda. E se falasse alguma coisa que deixasse contrariada, ela intrometia (risos)”, disse.
Por isso, a sua visão literária veio já a partir da experiência que tinha dentro de sua própria casa, vendo uma mãe sertaneja criar os filhos com muito esmero, ver a seca nordestina e, por fim, como sobreviver a pobreza.
Existe o ponto de convergência entre os convidados?
Embora o humor de Daniel Furlan e a prosa afiada de Marcelino Freire pareçam mundos distintos. A conversa mediada por Carlos Fialho revelou que ambos têm muito em comum. Ambos utilizam suas artes para provocar e tirar o público da zona de conforto; seja com uma piada sarcástica ou com uma narrativa sobre exclusão social.
A convergência ficou evidente quando discutiram o papel da marginalidade em suas obras.
Furlan falou sobre como seu personagem Renan, do Choque de Cultura, representa uma crítica a figuras marginalizadas pela sociedade e pelo entretenimento. Freire compartilhou como suas histórias buscam dar voz a esses mesmos excluídos, abordando a questão de maneira direta e sem filtros.
“O Choque surgiu quando o site Omelete assistiu ao vídeo do Falha de Cobertura e convidou para que o Craque Daniel e Cerginho fossem comentar sobre filmes. Mas, a gente viu que não iria dar certo. Então, resolvemos ‘ressuscitar’ o Rogerinho do Ingá, que já existia no Último Programa do Mundo, e o Julinho da Van, veio de outro piloto de programa do TV Quase. Já o Renan surgiu quando fomos ao jogo de vôlei de praia na Olimpíada do Rio em 2016 e achamos um vendedor de mate que falava igual ao personagem, como aquela língua presa e comentando os diversos absurdos”, comentou Daniel.
O capixaba complementou que o Choque era para mostrar de forma satírica o lado absurdo que podemos ouvir na rua, como desde gente querendo comentar sobre tudo até
O encontro entre Daniel Furlan e Marcelino Freire no FLIN não foi apenas uma troca de experiências, mas uma oportunidade única para o público refletir sobre as diversas maneiras de se fazer crítica social através da arte. Furlan e Freire mostraram que, independentemente da linguagem usada, o objetivo, portanto, é o mesmo: provocar e fazer pensar.