“Qual é o seu filme favorito?”. Esta foi a pergunta que me fizeram no primeiro dia de aula da Especialização em Documentário na UFRN e todo mundo respondia obras europeias, um Eduardo Coutinho, Orson Welles, algum clássico da década de 50 de Hollywood e todos queriam parecer inteligentes. Mas, eu não queria responder, estava fugindo desta pergunta, uma vez que meu filme favorito não foi feito para ser bonito e, sim, divertido e questionado. Quando assisti pela primeira vez Rocky Horror Picture Show, minha cabeça explodiu.
Essa expressão metafórica cai bem no filme que é cheio de figuras de linguagem para comentar sobre o que é diferente, prazer sexual, questionar o que é gênero, ser diferente e que está tudo bem não seguir uma caixinha. Tudo isso com músicas no estilo rock and roll, com pitada de filme de terror, musical e cenários feitos de uma forma mais teatral.
E eu tive a oportunidade de assistir mais uma vez, desta vez na Frisson, que fica na Ribeira.
A história do filme e seu enredo simples
Até a história é simples, típica de sessão da tarde, pois conta a história dos namorados Brad e Janet têm um pneu furado durante uma tempestade e descobrem a misteriosa mansão do louco cientista Dr. Frank-N-Furter. Eles encontram uma casa cheia de personagens selvagens, incluindo um motociclista e um mordomo assustador. Mediante danças sistemáticas e canções de rock, Frank-N-Furter revela sua mais recente criação: um homem musculoso chamado Rocky.
Neste momento, vem questionamento do casal sobre seus sentimentos, prazeres, questionar se as pessoas precisam aderir em caixas sociais e, o mais importante, provar que todos têm as suas peculiaridades.
Ver um filme que une todos os assuntos do meu interesse, atrelado a estética que admiro bastante, rapidamente se transformou em filme favorito. Finalmente, podia dizer que tinha algo no meu top 1 de coisas que eu gostos. E, por mais que procrastinei, consegui responder à pergunta da especialização com essa mesma justificativa e adorava dizer “sempre o vejo quando estou triste ou passar por um momento constrangedor por alguém me considerar triste”.
Voltando ao foco principal
O dia que assisti Rocky Horror Picture Show, por coincidência, caiu neste dia, que achei que minha acadêmica estava por um fio, sem adentrar em mais detalhes. Assistir ao meu filme favorito foi uma experiência inesquecível, mas o que tornou isso ainda mais especial foi o local inusitado: no meio de uma boate em Natal, mais precisamente na Frisson, que está inovando as noites de Natal misturando música eletrônica, expressão visual e experimentos culturais, sendo um deles é criar um cineclube para que todos possam ir na quinta-feira ver um filme na boate com toques de apresentações de artistas locais. A edição de agosto foi ao Rocky Horror Picture Show, que sai correndo da aula de pole dance, me arrumei e para que pudesse chegar o mais rápido possível. Confesso que me atrasei, mas fiquei rapidamente aliviada que estava bem no começo do filme. Uma das poucas obras que sei a ordem das músicas, falas e o que cada personagem faz.
Ao chegar lá estava escuro e cheio de gente. Até mesmo o pessoal do bar estava disputando e mexendo as suas cabeças para ver um pouco da cena enquanto servia drinks, energético ou refrigerante. Além disso, as pessoas não paravam de chegar e ficavam disputando no telão e som de cinema. No meu caso, porém, eu preferi sentar no chão e bem na frente. Além disso, havia performance em cada momento musical importante que aparecia, deixando todo mundo hipnotizado. O Geja, o artista que apresentou, fez uma releitura do Dr. Frank-N-Furter, nas apresentações musicais mais memoráveis do personagem.
No meu caso, porém, eu preferi sentar no chão e bem na frente. Além disso, havia performance em cada momento musical importante que aparecia, deixando todo mundo hipnotizado.
O ambiente ao assistir o filme dentro da Boate
Imagine só, em vez de uma sala de cinema tradicional, me vi rodeado por luzes pulsantes, música vibrante e uma energia contagiante. A boate, com seu ambiente escuro e aconchegante, foi transformada em uma espécie de cinema improvisado, com uma tela grande no centro e pessoas sentadas em cadeiras espalhados pelo local. Teve até mesmo gente que levou a sua própria cadeira da praia, no caso minha irmã fez isso. Foi o encontro mais inesperado, pois não esperava que ela fosse. Assim que sentei no chão, eu escuto uma voz que diz:
“Achei estranho você não ter chegado até agora para ver seu filme favorito.”.
Fico assustada e vi que era ela, mas feliz com a surpresa, pois a primeira vez que tentei apresentar o filme, a mesma achou bem estranho, mas entendeu o porquê de ter gostado. “Agora, eu dei uma segunda chance e estou com outra visão”, disse a minha sister depois do clássico.
A experiência foi única, misturando o clima de festa com a imersão do filme. Mesmo com a música de fundo e as luzes coloridas, a atenção de todos estava completamente voltada para a tela. Quando os créditos finais começaram a rolar, foi impossível não sentir que tinha vivido algo realmente especial. Dançar “Time Wrap” junto com pessoas que conheci naquele momento, mostra que um filme cabeça pode ser divertido e sem muita firula.
Naquele momento, a magia do cinema encontrou a eletricidade de uma noite na boate, criando uma memória que vou guardar para sempre.
Pós-filme na boate
A Frisson proporcionou uma experiência única ao público ao realizar uma setlist cuidadosamente escolhida. O DJ tocara músicas que dialogavam diretamente com o filme e o tema da obra. Cada faixa se preocupou em criar ligação com Rocky Horror.
Enquanto as músicas tocavam, o público foi contagiado pela energia do DJ e pela conexão entre as trilhas e a narrativa do filme. A combinação da música com o ambiente vibrante da Frisson transformou a noite em uma celebração inesquecível, unindo cinema e festa de forma harmoniosa.