“Lara, tem certeza que não quer ir para praia?”, dizia a minha mãe, após falar que comprei o abadá “Acorda, Clubber”. Este bloco acompanho desde o início, no qual ficava atravessando entre as Kengas e as clubbers dançando as músicas pop e eletrônicas do meu agrado. A cada ano estava mais lotado, fazendo com que o Beco da Lama se transformasse em uma travessa de tão apertado que estava.
Era óbvio que o espaço iria mudar e ser mais espaçoso para melhor caber. Então, escolheram a Fundação Capitania das Artes (Funcarte) para abrigar todo mundo para o fervo. Preparei a minha melhor roupa, muito brilho e strass para entrar no universo. Com o 1 kg de alimento na mão e um desejo no coração, achava que iria ser uma noite inesquecível. Logo, vou falar da importância da acessibilidade.
Tinha acabado de chegar na Funcarte quando estava com toda a minha autoestima elevada, dançando e, tocando, as melhores músicas. Logo após, encontrei as minhas amigas e começamos a dançar. Bateu a sede. Procurar a bebida. Entretanto, tinha um problema: muita gente, muito celular ligado e, portanto, redes de internet congestionada.
Teve uma hora que as maquininhas de cartão estavam sem net e os vendedores colocaram no alto para ver se rolava o pagamento. Peguei minha bebida e minha amiga disse que queria ir ao banheiro. Entretanto, ficava no fundo da Funcarte e o chão é todo irregular, além de batentes surpresas. Vocês estão imaginando o que aconteceu, não é mesmo?
A gente foi atravessar uma das vias que tinha batente, porém não vi que próximo da estrutura havia um buraco e na hora de descer pisei em falso e caí. Foi assim que fui de dorme, clubber.
Sim, torci o pé
Na hora não senti o impacto. Estava com um misto de vergonha e ao mesmo tempo com muita dor. Além disso, queria chorar, mas não conseguia. Muita gente ficou me perguntando se estava bem e parecia igual aquele desenho vendo passarinho. Após um esforço, eu consegui sentar no maldito batente e a procura de um gelo no bar. Colocaram no meu tornozelo e até tentei uma coreografia de dança sentada.
“Bora, se levantar?”, perguntou uma amiga minha. Foi na hora que pisei meu pé direito eu senti uma das piores dores que senti, aí vi que tinha problemas. Detalhe: estava sóbria.
Então, rapidamente procuramos ajuda do Bombeiro Civil para tentar me carregar, pois dificilmente andaria, sem contar que o chão irregular e a falta de cadeira de rodas até a entrada. Com a ajuda da enfermeira, eles perceberam que meu pé estava inchado. “Você vai precisar mobilizar seu pé, vá ao hospital, importante”, aconselhou a enfermeira.
Mal sabia que a aventura estaria por vir. Então, fui de “dorme, clubber”. E, era hora de dar o game over e chamar a minha irmã a me levar para o hospital. Quando minha irmã e a amiga me viu naquele estado, uma até tirou onda e disse: “Vai virar história no Brechando.”.
Para sair, mais problemas
Eu tive dois amigos sendo usados de muleta enquanto minha irmã pegara o carro, mas o corrimão da rampa para subir e também me sustentar era muito baixo, estava quase de “dorme, clubber”, queria apenas um carrinho de mão para me carregar. Um caminho que duraria menos de cinco minutos, durou uns 15 minutos e ainda tinha outro obstáculo, calçada com batente. Meus amigos tentaram me levar para o carro e demorou um pouco. Mas, deu certo.
Bem, o texto ficou longo e a minha ida ao hospital será em outro post. Mas, antes de acabar, preciso dizer que aprendi que a acessibilidade o buraco é mais embaixo. Se uma calçada irregular pode causar estragos, imagina se isso acontecesse com uma pessoa com deficiência.
Facilmente uma cadeira de rodas poderia furar o pneu, uma pessoa com bengala podia enganchar no buraco ou até quebrar outras partes do corpo. Se a Funcarte quer ser um espaço cultural para todos, precisa de reforma na sua estrutura ou sinalizar as irregularidades para evitar novos acidentes.
Deixe um comentário