Nota da edição: Retratos Fantasmas é a mais nova produção de Kleber Mendonça Filho e é um documentário que fala sobre os cinemas de rua do Recife e outras nostalgias. Assisti em Porto Alegre em um cinema de rua, fazendo com que a experiência fosse mais interessante.
Entretanto, o jornalista pernambucano Chico Shimada pode falar melhor da sua infância sobre todos os cinemas retratados. Confira a seguir:
Os Retratos Fantasmas no Brechando
O segundo filme visto por mim, no cinema, foi “Lua de Cristal”, em 1990, no São Luiz, Centro do Recife. Estava na companhia de mainha – que nos levou – Vanessa e Ângela. As meninas usavam vestidos e meias-calças, que desfiaram nos rasgões das poltronas; mainha, calça jeans e camisa preta; e eu, não me recordo. Mas me lembro do susto tomado, seguido de choro, ao ver o comercial da C&A bem no meio da exibição, e um Sebastian gigante cantando “Abuse e Use”.
Uma propaganda interrompendo um filme… Verdade: uma ilusão?! Foi no São Luiz também que, anos depois, vi “Titanic” pela metade, inteiro e mais a outra metade com meu irmão, minha mãe e meu pai. Uma longa história (essa partilha do filme), que me fez chorar de emoção pela primeira vez numa grande sala.
Primeira lágrima
Foi lá ainda que, no final da década de 2000, saindo de um festival de cinema, reencontrei um ex-amigo a quem todos pensavam se tratar de um namorado. Até nossas amigas e nossos amigos em comum pensavam nisso. Doce engano, truque de interpretação. Foi com ele que fiz minhas primeiras longas viagens acompanhado, na transição entre a juventude e a fase adulta.
Soube, semanas atrás, que ele vai se casar com uma moça de outro estado. E vai viajar…Do Cine Veneza, trago outras memórias marcantes no mais belo e luxuoso cinema de rua do Recife, localizado na Rua do Hospício. Lá vi as pessoas rirem, gritarem e aplaudirem, por incrível que pareça, o “Memórias de um homem invisível”, estrelado por Chevy Chase e Deryl Hannah. Comédia de 1993, que assisti de pé por falta de lugares na plateia. Outra lembrança traz as duas rampas do Veneza, que permitiam o acesso às cadeiras da plateia; e uma espécie de ladeira, que terminava na base da tela. Toda criança “atentada”, creio, gostava de correr por uma das rampas e pegar impulso para subir a “ladeirinha” do Veneza.
Numa dessas e na visita inaugural ao Cine, minha avó me puxou pelo braço e me fez ficar quieto para assistir ao “As tartarugas ninja”, em 1990. Foi meu primeiro filme em cinema e minha primeira lição de como se comportar numa sala de exibição. Até hoje, tenho pavor do público mal comportado daquela sala “cult” do Derby. Não por correria, mas por se sentir no direito de comentar filme durante a sessão e outras pedantices típicas de quem é daqui do Recife. Dias atrás, finalmente, fui assistir ao “Retratos Fantasmas”, novo longa de Kleber Mendonça Filho e que acabou de ser escolhido como representante brasileiro ao Oscar de Filme Internacional.
Concepção de Retratos Fantasmas
E, ao assisti-lo, decidi trazer, embora inicialmente relutante, estás memórias cinematográficas. Engraçado que, nas últimas semanas, estava acompanhando a produção de uma ficção que teve um dos fóruns onde trabalho como locação para filmagem de três cenas. Também me lembrei dos porquês de ter abandonado o curso de Cinema em 2016. Do ex-amigo do São Luiz, também me lembrei dos curtas que produzimos na época do curso de Jornalismo e que ganharam prêmios. São muitas lembranças, são muitos fantasmas… No documentário autobiográfico e até ficcional de Kleber Mendonça Filho, a gente houve algo do tipo: “Virou um retrato fantasma em minha memória.”.
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