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Caningado, qual a sua origem?

Caningado

Se você é nordestino e, principalmente, natalense já ouviu a palavra: “Caningado”. Uma referência para aqueles que são chatos, insistentes e não desistem fácil para atingir um determinado. Além disso, o caningado é um adjetivo que vem do substantivo caninga. Então é comum você ouvir frases como: “Deixe de caningar, eu já estou indo” “Esse…

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Se você é nordestino e, principalmente, natalense já ouviu a palavra: “Caningado”. Uma referência para aqueles que são chatos, insistentes e não desistem fácil para atingir um determinado. Além disso, o caningado é um adjetivo que vem do substantivo caninga. Então é comum você ouvir frases como:

“Deixe de caningar, eu já estou indo”

“Esse cara não desite, ele é muito caningado”

“Vai caningar outro, meu filho”

“Por que você é tão caningada?”

Mas, como o nordestino criou essa gíria popular? Existem várias histórias, porém ninguém confirmou ao certo e olha que pesquisei em todos os lugares possíveis.

Teorias da palavra

Primeiramente, uma das teorias mais conhecidas e compartilhadas é que ela surgiu em Natal, durante o período da Segunda Guerra Mundial. Reza a lenda que tinha um oficial das Forças Armadas dos EUA chamado Canigan.

O pessoal de Natal, no entanto, não gostavam do Militar, dizendo que era arredio e insistente. E para se referir uma pessoa como ele, diziam que ele era “Caningado”, uma vez que eles não sabiam a pronúncia correta do nome.  Aqui vou provar que a origem da palavra não veio por aí.

Temos que lembrar que os Estados Unidos instalaram a Base Militar na década de 40, quando o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial e surgiu, por conseguinte, as Forças Expedicionárias Brasileiras, a FEB.

O problema que as pessoas já utilizavam esse termo bem antes na década de 20.

O poeta potiguar Jorge Fernandes utiliza a palavra caningado em seu poema datado de 1926 em homenagem as rendeiras de Potengi. Confira a seguir:

Rendeiras do Pirangi…
Cajueiros fazem rendas arranhando com os ramos as areias alvas dos morros;
O mar faz rendas futuristas com linhas de espumas entre os rochedos…
A rendeira faz renda passadista…
Curvada sobre a almofada troca os bilros: – tréco… tréco… tréco…
Com alfinetes nos dedos ágeis vai tecendo sobre o papelão…
– Aranha tostada de sol praieiro canta modinhas de Itajubá –
O acompanhamento do violão são os trécos… tréco… dos bi lros…
Toda impregnada de canções e suspiros a renda vai aparecendo
Entre o batalhão de alfinetes enfileirados…
– Custa uma vara dois cruzados…
– Tem quatro dedos de largura…
(vira o papelão)
– Ô trabalho caningado…
(cantarolando guarda a almofada)
Os cajueiros e o mar ficam fazendo rendas cor de luar…

Explicando caningado ao Mario de Andrade

Antes do poema ter sido publicado em livro, Fernandes havia enviado o manuscrito para Mário de Andrade e escreveu no rodapé o significado da palavra caningado, referindo-se à uma pessoa insistente. Vale lembrar que o Mario já veio à Natal e era muito amigo de Luís da Câmara Casucdo.

Não se sabe, portanto, qual foi a origem da gíria e muito menos se tem alguma relação com os nossos colonizadores.

E aí, você já chamou alguém de caningado? Ou você é o caningado?

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Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

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