O espaço cultural Aboca, que fica na Rua Frei Miguelinho, no biarro da Ribeira, anunciou o encerramento de suas atividades nesta terça-feira (24), em Natal. A falta de recursos para manter o local, mesmo com a campanha de financiamento coletivo realizada no ano passado. O local surgiu em 2014 como espaço para abrigar os grupos de teatro Bololô Cia. Cênica, Carmin e Atores à Deriva. Atualmente, o espaço abrigava apenas o terceiro grupo citado e a Sociedade T, que estava no local participando de uma residência artística.
“Diante da dificuldade financeira e da precariedade da estrutura do espaço que necessita com urgência de uma reforma, apresentando sérios riscos, que se intensificou depois do início do período de chuvas, não nos resta outra opção que a de encerrar as atividades no espaço da Ribeira”, diz o comunicado..
Além disso, ele agradece todos os colaboradores e o espaço agora é mais um local cultural que fechou as portas e está na memória daqueles que frequentam o tradicional bairro: “Assim, agradecemos a todas e todos que de alguma maneira contribuíram para que esse projeto tenha nascido, existido e resistido. ABOCA Cultural foi inúmeras vezes espaço de encontro, fruição, formação e ocupação. E hoje, na Ribeira, torna-se espaço de memória.”.
Confira o comunicado, postado através das redes sociais, a seguir:
Caso não tenha Facebook, o recado pode ser lido completo a seguir:
ABOCA CULTURAL fecha as portas do prédio 16 na Ribeira
Estar em contínuo movimento, eis o primeiro instinto que sentimos ao fundar ABOCA. Sabíamos que perante a narrativa de crise que rondava, a estratégia de juntar mãos e planos de gestão era a saída viável, primeiro para resistir e segundo para seguir. Mesmo diante do cenário implantado da crise, alimentávamos a esperança de realizarmos um trabalho de continuidade. E foi ela, a abstrata esperança, que construiu uma relação de pertencimento entre o Espaço Cultural ABOCA, a cidade e as pessoas. Desde nossa fundação, tínhamos a missão de aguçar os sentidos de todos que frequentaram o prédio de nº 16, e tal provocação sensitiva construiu afetos. Mas para além do afeto, há um emergente sintoma que toma de assalto qualquer cidadão posto nessa narrativa de crise: a materialidade da vida com suas faturas, contas e carimbos.
Vivemos tempos sombrios. Vivemos diante da ameaça invisível, que como um gás astuto espalha-se, e gradativamente tira as forças daqueles que por ideologia resistem. Vivemos um cenário de escassez de políticas culturais de estado que permitam aos profissionais ou mesmo estudantes que ocupam tais espaços, ter sustentabilidade e rentabilidade através do seu trabalho.
Mas mesmo diante desse cenário forjado, construímos nossas bases. Hoje, percebemos que ABOCA foi uma escola subversiva de criação em arte e produção cultural que agregou pessoas vorazes, ávidas por experimentar e viver o “modus operandi” dos saberes culturais. Por isso as ideias gestadas no prédio 16 da rua Frei Miguelinho estão em pleno movimento, proliferando-se nos corpos.
Diante da dificuldade financeira e da precariedade da estrutura do espaço que necessita com urgência de uma reforma, apresentando sérios riscos, que se intensificou depois do início do período de chuvas, não nos resta outra opção que a de encerrar as atividades no espaço da Ribeira.
Assim, agradecemos a todas e todos que de alguma maneira contribuíram para que esse projeto tenha nascido, existido e resistido. ABOCA Cultural foi inúmeras vezes espaço de encontro, fruição, formação e ocupação. E hoje, na Ribeira, torna-se espaço de memória…
Aos grupos e artistas, que por aqui vivenciaram suas experiências, nossa mais profunda gratidão, que possamos nos encontrar mais, em outras bocas.
Continuamos nosso caminho, desassociados do bairro da Ribeira. Hoje fechamos essa boca que esteve aberta por quatro anos. Talvez seja o momento de calar, para mais à frente soar com a mesma potência de tempos atrás. Sigamos.
ABOCA Cultural
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