No mês passado, em Natal, um casal da Polícia Militar de Santa Catarina sofreu uma tentativa de assalto e foi baleado em uma pizzaria da Zona Norte de Natal. O crime aconteceu na noite desta segunda-feira (26) no conjunto Parque das Dunas. Segundo a PM, os dois foram socorridos, mas a policial não resistiu. Ninguém foi preso. Mas, a internet, principalmente, alguns comentaristas alegavam que Caroline não teve tanta comoção quanto o caso de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, executada também em março.
Uns ficavam dizendo que era racismo reverso e outros falando que porque era política, sem contar as inúmeras Fake News em volta da política. Uma coisa é certa: Para de competir com a morte da violência urbana, o caso das duas é apenas a ponta do iceberg, uma vez que milhares de jovens são mortos nas periferias brasileiras por estar devendo há algum traficante, por seus companheiros ou ser confundido por um criminoso. Não é porque todos os acontecimentos está na agenda setting (teoria que as redações possuem um cronograma do que deve ser pautado na imprensa) das redações de jornalismo vai fazer com que a violência urbana reduza ou seja uma prova que aumentou.
A violência urbana é um problema sério em todas as capitais brasileiras e qualquer outro município que passe dos quatro dígitos. Quanto mais desenvolvida a cidade, maior a população e também os casos, sem contar com a falta de um planejamento urbano. É normal falarem que o mundo está violento e que as notícias só falam de morte. Verdade, mas esquecem de dizer apenas um detalhe: as tecnologias impulsionaram as informações (assim, surgindo informações de minuto a minuto) e a população cresceu vertiginosamente.
“Mas, Lara, isto é assunto de Direitos Humanos. Está com pena? Leva para casa!”. Vamos utilizar um pouco de matemática para mostrar que aumento populacional tem ligação sim com o crescimento de violência.
Por exemplo, a população brasileira em 1993, há 25 anos, era de 157 milhões de pessoas. O Mapa da Violência mostra que o número de homicídios era 17.002 por homicídios. Se fomos utilizar porcentagem, vamos dizer que a violência urbana não chegava nem a 1 por cento. Enquanto em 2014, o número da população brasileira era de 250 milhões de pessoas, saltou para 830.420. Ou seja, a população aumentou em torno de 60% e a violência cresceu cinco vezes. Assim, poderia provar que quanto mais gente, mais difícil de administrar e facilmente o descontrole intensifica.
Isso porque naquela época ainda estávamos no final do cruzeiro e início do Plano Real, onde o Brasil apresentou o fim da hiperinflação e a utilização do Real como moeda oficial. Então, a taxa de pobreza naquela época cessou e voltou a crescer com as crises econômicas no final dos anos 90 e intensificação da seca naquele período. O que poderia explicar o aumento da violência entre os anos 90 e 2000, no qual o mesmo mapa mostra o crescimento .
Mas, afinal, aumentou ou não a violência? A violência no Brasil sempre foi inconstante. Se comparar entre os anos 80 a 2014, houve um crescimento de 85,8%. Mas, entre os anos 2000 a 2014, só ouve um crescimento de 17,1%.
Entre 1980 e 2003, o crescimento dos homicídios por arma de fogo foi sistemático e constante, com um ritmo enormemente acelerado: 8,1% ao ano. A partir do pico de 36,1 mil mortes, em 2003, os números, num primeiro momento, caíram para aproximadamente 34 mil e, depois de 2008, ficam oscilando em torno das 36 mil mortes anuais, para acelerar novamente a partir de 2012. Assim, no último ano com dados disponíveis, temos um volume de 42,3 mil mortes por arma.
O Estatuto e a Campanha do Desarmamento, iniciados em 2004, constituem-se em um dos fatores determinantes na explicação dessa quebra de ritmo.
Além disso, as medidas econômicas das gestões de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff criaram vários polos econômicas em cidades que não são capital do estado, estimulando a migração populacional e também as consequências de uma falta de planejamento urbano. Assim se consolida a tendência de queda nos grandes polos da violência tradicionais e seu deslocamento para municípios do interior .
Assim, os municípios com mais de 100 mil habitantes lideram a violência homicida desses municípios ou estagna, ou tende a cair drasticamente, como no caso das cidades com mais de 500 mil habitantes, no período caem 22,4%.
Esse planejamento que bato tanto na tecla é melhorar a área de Segurança Pública, como criar concurso público, melhorar a tecnologia de investigar os crimes, questionar quais drogas que deveriam continuar lícitas, treinar militares de forma decente, ampliar escolas e áreas de lazer para juventude, melhores moradias para população, melhorar a infraestrutura e dentre outras atividades.
Leia Também:
• Ronaldo, Karol e as mortes em Natal
Sem contar que o país é herdeiro de um modelo autoritário e colonialista, a sociedade brasileira assistiu a muitos fracassos governamentais que resultaram na pressão sobre as áreas urbanas. A ausência de políticas habitacionais e econômicas a permitir melhores condições de acesso a bens públicos impulsiona o problema.
Após os anos 2000, as instituições que atuam com o acompanhamento da violência urbana observaram o crescimento da delinquência – principalmente com crimes contra o patrimônio – roubos, extorsão mediante sequestro, homicídios dolosos (quando o causador tinha a intenção de matar), tráfico de drogas e aperfeiçoamento do crime organizado.
Por falar em delinquência, os jovens estão mais entrando no mundo do crime e isto reflete no resultado da violência urbana, no qual mostra que os maiores casos são de jovens Mas que fatores levam para estas mortes? No Brasil, as sucessivas crises econômicas, as acentuadas diferenças de classe e a falta de investimento em mobilidade adequada, emprego de qualidade, saúde, educação e previdência estão entre os fatores que resultam nos elevados índices de violência nas cidades.
Olha que não é apenas eu que estou falando isso. Nas terras tupiniquins, o Índice de Desenvolvimento Humano, medido pela Organização das Nações Unidas (ONU), é de 0,754, que analisam o desenvolvimento numa escala de 0 a 1. Assim, o país está na 79º no ranking. O IDH varia entre 0 (valor mínimo) e 1 (valor máximo). Quanto mais próximo de 1, maior é o índice de desenvolvimento do país.
Pela primeira vez desde 1990, quando o levantamento começou a ser publicado anualmente, o Brasil não elevou sua nota no ranking. A Noruega permanece na primeira colocação e encabeça a lista das nações com IDH muito alto, com 0,949, seguida por Austrália e Suíça, ambas com 0,939.
Ainda no cálculo ajustado pela desigualdade social, o Brasil, empatado com Coreia do Sul e Panamá, só não regrediu mais nesse quesito que Irã e Botsuana, que caíram 40 e 23 posições, respectivamente. Já o Coeficiente de Gini, que mede a concentração renda, aponta o país como o 10º mais desigual do mundo e o quarto da América Latina, à frente apenas de Haiti, Colômbia e Paraguai. Segundo o levantamento da ONU, o percentual de desigualdade de renda no Brasil (37%) é superior à média da América Latina, incluindo os países do Caribe (34,9%).
A desigualdade brasileira também cresce nas comparações de gênero. Embora as mulheres tenham maior expectativa de vida e mais escolaridade, elas ainda recebem bem menos que os homens no Brasil. A renda per capita da mulher é 66,2% inferior à de pessoas do sexo masculino. No índice de desigualdade de gênero, o país aparece na 92ª posição entre 159 países analisados, atrás de nações de maioria religiosa conservadora, a exemplo de Líbia (38ª), Malásia (59ª) e Líbano (83ª).
Por falar em mulheres, como a Marielle e a policial Caroline, elas são o resultado de uma grande desigualdade social do país. Apesar de mostrarem que a Polícia e os Direitos Humanos são inimigos, ambos lutam pelo fim da violência urbana e aqueles que enfatizam a inimizade dos dois fatores estão do lado do caos.
Deixe um comentário