Quando o Anderson Foca anunciou que o Festival Dosol mudaria próximo da praia, a gente pensou em quatro coisas:
- Vão gourmetizar o festival
- Vai acabar com a Ribeira
- Vai acabar com o festival
- Mada 2.0
A primeira vez que fui no Festival Dosol, tinha 14 anos e iria assistir o show com meu primeiro namoradinho. A banda escolhida? Matanza. Meu pai enlouqueceu quando viu os rapazes de cabelos coloridos, moicanos, casacos de couro, maquiagem carregada, o clima sujo da Ribeira, gente fumando… Para piorar, meus pais não gostavam desse namorado. A confusão, portanto, estava feita. Quase não saí do carro, mas no final assisti e cantei “O Último Bar” em pleno pulmões. Continuei indo à Ribeira, enquanto meus pais aliviaram o preconceito e se tornavam mais flexíveis, principalmente por constatar que o local raramente possui notícia de confusão e preferiam me deixar no bairro histórico do que no Carnatal.
O Brechando precisava olhar de perto as mudanças no Beach Club, onde por muitos anos funcionou a Cervejaria Continental, mesmo local que os meus pais, quando jovens entre 25-30 anos, paqueravam e saíam para night (gíria bem de tiozão mesmo). Para gente que tem uma mente dos meus pais de 10 anos atrás deve está respirando aliviado de deixar seus filhos em um local “fechado” e “mais seguro”.
Todo mundo queria a resposta: Será que isso vai prestar?
E prestou não foi pouco. O primeiro dia começou bem pontual, característica típica do Dosol, para quem acompanha há tempos. Às 19 horas, em ponto, Skarimbó já estava fazendo o povo dançar música latina e já tinha bastante gente. Aí começava minha correria de um lado para o outro para tentar assistir todos os shows possíveis e impossíveis. Nesta hora queria ser uma supersayajin. Mas, Deus não é Akira Toriyama.
Ora queria dançar ao som das bandas locais, como Dusouto. Ora, queria conhecer algumas novas, como Stolen Byrds, do Paraná.
Ao mesmo tempo que tinha Skarimbó estava a cantora Simona Talma, lançando o seu mais novo álbum no Festival, mantendo a essência de seus outros trabalhos solos. Tem uma pegada mais de jazz e Música Popular Brasileira (MPB), diferente da banda Talma & Gadelha.
Consegui finalmente ver os caras do Gorduratrans, do Rio de Janeiro, que conheci pessoalmente quando eles fizeram o rolezinho com os músicos alternativos de Natal no Festival Literário de Natal (Flin). Musicalmente, os descobri escutando um cantor chamado Thalles no You Tube e a canção “Você Não Sabe Quantas Horas Eu Fiquei Olhando Pra Você“, no qual fiquei ouvindo no modo repetir do Spotify na semana seguinte. A dupla tem uma energia incrível, fazendo um shoegaze de vergonha e com muito rock and roll.
Depois fui assistir Dot Legacy novamente, após dois anos de tê-los visto pela primeira vez. Eles amadureceram bastante o som e foi legal novamente de escutar, agora com música em português e tudo. Eles também participaram do encerramento do show do Far From Alaska, no qual colocou literalmente uma galera em cima do palco para pular e gritar com toda força do mundo ao som de “Dino Vs. Dino”. Foi uma boa oportunidade de assistir a banda de rock que o Rio Grande do Norte saiu da ponte entre Ceará-Pernambuco e realmente fez sucesso na gringa e no Brasil todo.
O grupo cantou tanto as músicas do ModeHuman quanto também de Unlikely, novo álbum, lançado esse ano. Quem assistiu o show do FFA ainda nos primórdios na Ribeira, você enxerga rapidamente a evolução dos caras e a postura deles, agora, é totalmente profissional. Mas, isso não quer dizer que estão chatos ou algo do gênero, eles ainda são flexíveis com os seus fãs, no qual alguns saíram de Recife e João Pessoa exclusivamente para isso. Isso também acontece com a banda Plutão Já Foi Planeta, que arrasaram no Dosol, porém não foi tão icônico quanto o Mada.
Por falar em Mada, o evento também está procurando uma boa mistura de sons, colocando Pinduca para cantar o melhor do brega do Pará. Os organizadores souberam atrair o público, como colocar artistas que estão começando a crescer, como Rubel (a correria quando ele começou a tocar “Quando Bate Aquela Saudade” foi enorme) e Ana Muller.
Não podemos esquecer do encerramento com Liniker e os Caramelows, que deixou as pessoas transbordando de amor com o seu “Remonta”.
Para terminar, precisamos falar das bandas que o Dosol está apostando. O som de Molho Negro é bastante legal e lembra muito Vespas Mandarinas. O Menores Atos já escutava, pois eu conhecia uma banda chamada Literal, que abriu para a citada. Menores traz uma boa releitura do melhor do rock dos anos 2000 e com uma letra bem caprichada. Botei os links das duas cariocas e que, por coincidência, ambas são em trios e com influências parecidas.
Sobre os questionamentos falados na matéria, inicialmente. O Festival não será finalizado porque mudou de lugar. Pelo contrário. A intenção é crescer cada vez mais, visto que havia muita gente andando, mas sem tumulto ou empurrões. Se Anderson Foca e Ana Morena organizarem direitinho, tranquilamente pode ficar lá por muito tempo. Diferente da Arena do Imirá, onde acontecia o Mada, eles só tem custos para montar apenas alguns palcos e bares, o resto, eles conseguem aproveitar do que restou da Cervejaria Continental.
Até os roqueiros e alternativos mais raiz (aqueles que vão à Ribeira quando tudo era mato. Ou ainda era só Blackout e alguns bares.) concordaram que o Festival Dosol ficou muito bom no novo local. Uma outra novidade foi tirar a sexta-feira e dedicar apenas aos sábados e domingo, além de incentivar os shows extras, que acontecerão até o próximo fim de semana nos principais bares da cidade. É uma segunda chance para quem furou o evento no fim de semana e também uma outra oportunidade de ouvir novamente bandas como Gorduratrans, Menores Atos, Yantra, Boogarins e dentre outros, no qual vem de outros estados brasileiros, além de ter um contato mais próximo.
Podemos dizer que o Dosol não está gourmetizado, uma vez que a Ribeira já não consegue mais sustentar o local pelo fato de ter muita gente cada vez mais interessada, os casarões possuem péssima acústica (muitos faziam piada por conta disso), suamos bem menos (é bem mais ventilado) e você pode sentar a vontade no gramado, enquanto você sobe e desce a ladeira (mas, como uma natalense típica, estava acostumada). A única parte ruim que ainda não melhorou foi o transporte público. Se já era ruim andar pelas esquisitas ruas da Ribeira para esperar o corujão, a Via Costeira é bem mais, sem contar que apenas 1 ônibus roda naquela região.
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