Demorei para escrever o texto, tive que pensar bastante. Após uma semana do Novo Jornal ter finalizado a sua edição impressa e completar cinco anos do fechamento do Diário de Natal, mais uma vez questiono a função do impresso para daqui a 20 anos. Eu, particularmente, não acredito na finalização total de publicações impressas, uma vez que ainda existem revistas, fanzines (publicações feitas de forma artesanal) e jornais mensais e bimestrais nos provando o contrário, principalmente os jornalecos populares de 50 centavos, como “Meia Hora”, um dos mais vendidos no Rio de Janeiro.
Porém, se o jornalismo diário quiser continuar, ele vai ter que migrar nas edições digitais. Aí vem o questionamento: O que os impressos deveriam fazer para seduzir os nativos digitais? Olhe o exemplo dos livros.
Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, houve o crescimento de 3% no primeiro semestre de 2017. Nos primeiros seis meses de 2017, foram R$ 931,6 milhões – contra R$ 873,9 milhões no ano passado. Porém, em 2016, os livros tiveram uma queda de quase 10%. Já o número de exemplares vendidos cresceu de 20,9 milhões para 22 milhões. Sem contar que a Amazon está crescendo no Brasil, visto que está estimulando as pessoas comprarem em plataformas digitais.
Impressos em 2012 em Natal
Tribuna do Norte Novo Jornal O Jornal de Hoje Diário de Natal Impressos em 2017 em Natal Tribuna do Norte |
Enquanto alguns disseminam outros ressuscitam, como o Jornal do Brasil, que voltará a sua edição impressa. Mas, com certeza, as tiragens serão muito menores dos tempos de outrora.
Quando Gutemberg criou a imprensa, os jornais de antigamente não eram publicados diariamente, mas entre uma a duas semanas em cada edição. Às vezes mensalmente e não divulgava apenas notícias, mas também havia os classificados, os folhetins (muitos livros do romantismo surgiram a partir dessas publicações) e dentre outros assuntos.
Entretanto, quando a imprensa surgiu, na Idade Moderna, a quantidade da população mundial não era mais a mesma e, por isso, mais fácil de distribuir uma determinada quantidade de tiragens e isto impedia a participação do leitor para que o conteúdo ser interferido. Além disso, ainda não existia as novas tecnologias de comunicação, a internet, no qual ajudou a criar diversas ferramentas, como blog e as redes sociais.
Hoje, existem sites e portais de notícias que divulgam notícias de minuto a minuto e o expectador ver a construção de uma notícia ao longo do dia até que seja finalizada de contar. Enquanto isso, eles ajudam as empresas de telecomunicações a criar o seu conteúdo, interfere e ainda comenta. Se não for nos canais de comunicação entre o telespectador e emissor, será através das redes sociais.
Assim, as televisões estão bastante de olho nelas, principalmente estimulando o engajamento do público. Elas estão conseguindo fazer a convergência entre o digital e o analógico, já proposto por Henry Jenkins nos anos 2000. O mesmo caminho está acontecendo com o rádio, no qual disponibiliza seu conteúdo na internet para ouvir simultaneamente ou enquanto está no carro.
Enquanto isso, nos impressos, não dá mais para fazer isso, uma vez que a gente não olha a construção do conteúdo é praticamente feita na surdina e nos portais de notícias, por sua vez, elaboram conteúdo rapidamente e quando é um fato que aconteceu de imediato, ele coloca os seus parágrafos a medida que a informação aparece na redação. Por isso, ninguém quer comprar um impresso para saber notícias que já foram faladas e repetidas vezes na internet e televisão.
Não adianta colocar paywall (parede virtual para estimular o leitor pagar para assinar o conteúdo do jornal e ler uma determinada postagem) para fazer com que as pessoas paguem para ver o conteúdo exclusivo, este precisa seduzir o leitor. O que falta nos impressos é criar conteúdos realmente interessantes, parar de criar campanhas ocultas de políticos e estimular novas formas de criar marketing neste meio caótico.
Estimular as pessoas comparem kindle e outros dispositivos para ler materiais impressos, visto que os livros e jornais digitais estão cada vez mais crescendo nas vendas e passamos por um período de transição. A Amazon está começando a dominar o mercado brasileiro, fica a dica.
Por favor, criem opções, pois ainda existem pessoas que leem no papel. Portanto, não adiantar você cortar pessoal, diminuir as páginas e acumular funções. O jornalismo precisa sobreviver porque ele foi constituído a partir do interesse público.
Um exemplo disso é a Folha de S. Paulo, um dos poucos impressos no Brasil que não teve queda nas vendas, uma vez que criou planos de assinaturas para acomodar as duas formas (impresso e digital), estimulou o marketing digital nas redes sociais, paywall e procura criar extensões do jornal em outros meios.
As pessoas não vão querer pagar por um conteúdo repetitivo, que já viu nos portais de notícias, eles querem saber de novidades, entrevistas interessantes, gráficos, tirinhas, conteúdos explicativos e problemas não falados nas redes sociais (diversos assuntos não são falados no Twitter). Tirar o casco de elitista que os impressos sempre teve e focar numa geração muito-muitos, divulgada amplamente por Pierre Lévy em Cibercultura.
Além disso, existem outras formas de ganhar dinheiro com conteúdo, como publipost nas redes sociais e matérias dentro do site e na própria edição impressa (ser claro que é patrocinado, por favor), criar vídeos no You Tube e dentre outras alternativas.
Assim como nosso corpo se tornou uma extensão do conteúdo virtual, os impressos tem que trabalhar desta mesma forma.
Não adianta criar mais jornal para fazer propaganda de determinado político, pois estamos em um período em que as máscaras da corrupção estão caindo e muitas pessoas estão perdendo votos por essas investigações feitas pelos órgãos judiciários e federais. Ou seja, nenhum político está salvo agora e se este cair, o impresso também cairá. Além disso, as pessoas estão mais claras e sabem quando estão sendo manipulados.
O problema da mídia em Natal é porque ela sempre foi feita pelas mesmas pessoas, que utilizam de técnicas antigas que estão obsoletas. Não existe alguma novidade.
Se o impresso quer continuar, ele precisa mudar o foco. Enquanto isso quem perde é o público e jornalistas que estão desempregados.
Deixe um comentário